Cabeça de rádio

Paulo Rebêlo
Revista Backstage – ed. novembro/2007

A bola da vez é a banda Radiohead, que no mês passado resolveu oferecer o novo álbum – após um hiato de quatro anos – na internet com uma proposta comercial bem diferente. Você paga apenas o que achar justo pelo download das músicas. Se não quiser pagar nada, ótimo, não pague. Será cobrada apenas uma taxa simbólica (menos de R$ 2, já convertidos) pela operação.
O guitarrista do Radiohead, Johnny Greenwood, aproveita e eventualmente atualiza um blog sobre a banda e sobre o novo disco, “In Rainbows”, enquanto se prepara para lançar um projeto experimental nos Estados Unidos, de música orquestrada, chamado de Popcorn Superhet Receiver. A previsão de estréia é para janeiro de 2008.


Em notas oficiais e entrevistas à imprensa mundial, a banda explica que a idéia de liberar o download do novo álbum foi um jeito que encontraram para o CD chegasse rapidamente às mãos dos fãs. Pelo processo tradicional, era bem provável que só em 2008 as lojas fossem começar a comercializar o produto em si. Além do mais, a banda procurava uma nova experiência com todo esse celeuma sobre MP3, pirataria, gravadoras, associações de classe.

Uma das comparações do Radiohead com a investida é o iTunes, a loja de música online da Apple. Pouco popular no Brasil, o iTunes é uma febre nos Estados Unidos e na Europa, inclusive, com uma batalha política sobre a proteção contra cópias nos arquivos, tema já abordado em ocasiões diferentes aqui na coluna.

A grande sacada do iTunes – e de quase todas as lojas para vender música online – é o fator qualidade do áudio. No iTunes & Cia, você paga um valor teoricamente inferior, mas com restrições técnicas na qualidade. É possível escutar tranquilamente no computador, no iPod, no MP3 Player da Santa Efigênia, no som do carro e até mesmo no microsystem, mas a nitidez do áudio vai caindo numa escala proporcional ao aumento de volume – ou aos ouvidos mais sensíveis, por assim dizer.

A qualidade do arquivo se dá a partir da conversão da mídia para o formato digital. Todas essas questões técnicas de conversão e compatibilidade também já foram abordadas em colunas específicas sobre o tema, aqui na Backstage, mas não custa nada revisar.

Um arquivo de música entre 128 kbps e 160 kbps é a média utilizada na internet, seja em sites piratas P2P ou de torrents, como também em sites legalizados que vendem música. As músicas do Radiohead, no download ‘a preço justo’, foram convertidas a 160 kbps. Ou seja, dá para fazer muita coisa, ouvir numa boa, desde que seu nível de exigência não seja dos mais altos. E 160 kbps ainda é um pouco superior à qualidade das músicas vendidas no iTunes, por exemplo. Só não dá para fazer um festão no quintal de casa, evidentemente.

E O PRÊMIO VAI PARA…
É no mínimo curioso o resultado do Prêmio Nobel de Física de 2007, concedido ao francês Albert Fert e o alemão Peter Grünberg, pela Academia Real de Ciências da Suécia.

De acordo com o material oficial do instituto sueco, o prêmio foi concedido “pela descoberta da magnetorresistência gigante”. O fenômeno em escala nanométrica ocorre em camadas de materiais magnéticos (como ferro ou cobalto) intercalados com não-magnéticos (do tipo cromo ou cobre) e é a base para a fabricação de leitores de gravação usados em discos rígidos de computador.
Em outras palavras, a linguagem de grego significa que esses dois cientistas são os principais responsáveis pela capacidade que nós temos, hoje, de andar com a discografia inteira do Elvis Presley no bolso da camisa, em um artefato mais fino que um cartão de crédito ou do tamanho de uma moeda de dez centavos.

Um pouco mais sobre eles, cortesia da Academia Real. Fert, nascido em 1938, é diretor da Unidade Mista de Física do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França. Grünberg nasceu em 1939 e é professor no Instituto de Pesquisa de Corpos Sólidos do Centro de Pesquisas de Jülich, na Alemanha.

A tecnologia pesquisada por eles tornou possível a radical miniaturização nos discos rígidos que, ao pé da letra, não chegam a ser exatamente discos rígidos como esses que usamos no computador de casa ou do escritório. De qualquer forma, mesmo os discos convencionais do PC atual, são bem menores do que os discos de antigamente, inventados em 1956, e que ocupavam pavilhões inteiros nas empresas.

Graças ao constante avanço, ou melhor, constante diminuição do tamanho nos discos, abriu-se uma nova área da física chamada de spintrônica, para explorar a propensão quântica ao movimento de rotação característica dos elétrons (spin, em inglês, quer dizer “girar”), fazendo uso do estado de suas cargas. Entendeu? Eu também não, mas onde queremos chegar é que graças à spintrônica chegamos à fabricação dos minúsculos discos usados em notebooks, tocadores de MP3 com capacidades de até 160 GB e outros portáteis para aplicações das mais diversas.

Vale lembrar que, segundo noticia a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), a descoberta do fenômeno da magnetorresistência gigante (MRG) foi feita em 1988, em pesquisas independentes conduzidas pelos dois físicos. O trabalho realizado no laboratório de Fert teve a colaboração do brasileiro Mário Baibich, professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O artigo descrevendo o trabalho de Fert, Baibich e outros sete cientistas foi publicado no mesmo ano na Physical Review Letters e se tornou um dos dez artigos mais citados da importante revista.

O primeiro dispositivo de gravação de dados digitais baseado em MRG foi lançado em 1997, tornando-se padrão da indústria de informática desde então.

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