Paulo Rebêlo
Revista Backstage
fevereiro 2004
Muita gente (eu incluso) já aboliu o uso de CDs de música em casa. Pegar a sua coleção de Bossa Nova e ficar trocando de disco, enquanto trabalha ou faz qualquer coisa no computador, não é uma tarefa convidativa. Bem mais simples é transformar seus CDs em MP3, armazená-los no computador – ou até mesmo gravar em outro CD, porém no formato digital – e quase nunca trocar. Com o MP3, você escuta horas e horas. Acaba o expediente e não acaba a música.
Particularmente, sempre tive um certo trabalho em preparar minhas coletâneas de músicas e gravar em CD-R. Não para ouvir no computador, mas para ouvir no carro. Afinal, 99% das pessoas possuem sons automotivos que não reconhecem o formato MP3. E é sempre um risco incômodo e desnecessário tentar trocar um disco em pleno trânsito.
Como dizem por aí, há males que vêm para o bem. O furto do som de meu carro em São Paulo, há dois meses, foi o empurrão que faltava para eu me juntar ao 1% restante: adquirir um aparelho que reconheça CD-R e CD-RW com arquivos em MP3. Como diriam os Cassetas, seus problemas acabaram. Em poucas palavras, é o melhor investimento você pode fazer, caso goste bastante de pegar a estrada ou passe muito tempo no trânsito caótico dos grandes centros urbanos.
É difícil descrever objetivamente como é uma maravilha você passar semanas e semanas com um mesmo CD, ouvindo músicas de estilos diferentes. O preço desses aparelhos caíram bastante. Melhor ainda, estão se tornando comuns. No início, pensei que fosse ter dificuldade em encontrar modelos em lojas de aparelhos automotivos. Motivo pelo qual fiz algumas pesquisas pela internet, para ficar um pouco surpreso de como as lojas de comércio eletrônico cobram tão mais caro do que as lojas de tijolo no Brasil. Ao menos para som com MP3. Deve ser o preço da comodidade, quem sabe.
Na primeira loja de carros em que parei, havia quatro modelos diferentes de aparelhos que reconhecem MP3, com recursos e preços variados. Só pela curiosidade jornalística, conversei com o dono do estabelecimento – coincidentemente, foi quem me atendeu – sobre como estão as vendas.
“Maravilhosas”, respondeu o simpático senhor. Não é para menos. Confesso que não conheço outra pessoa, ao menos do meu círculo de amizades (que já não é lá essas coisas…) que tenha um som c/ MP3 no carro. Contudo, pela reação do dono da loja, as vendas estão indo bem. Quem usa uma vez, nunca mais volta atrás.
Entre os quatro modelos disponíveis, estavam o Pioneer, Sony, JVC e um outro que agora não lembro. Evidentemente, após ouvir conselhos e ler um pouco sobre o assunto, deveria ter levado o Pioneer. Modelo sempre mais caro, infelizmente. Optei pelo modelo intermediário e levei o da Sony, após me certificar no manual que o produto realmente é compatível não apenas com CD-Rs, mas também com CD-RWs.
Imagine só: com apenas um único CD-RW, você pode ficar gravando e regravando bons seis álbuns completos para ouvir. Vai ser preciso muito engarrafamento no trânsito para enjoar. O mais engraçado é usar um aparelho desses com a grife da Sony. A mesma Sony que, junto com outras das grandes gravadoras, solta os cachorros contra o MP3 e os usuários que usufruem dessa pequena maravilha.
É sempre assim. Pimenta no dos outros é refresco. O uso do MP3 é sempre demonizado pelos sábios executivos das gravadoras. Quando não dá lucro para elas, é claro. É evidente que não apenas a Sony, mas qualquer outra empresa que fabrique um som automotivo c/ MP3, está mais do que pedindo que você use e abuse de quantas MP3s você possa ter. É óbvio. Não haveria sentido se fosse diferente.
Tecnicamente falando, um aparelho desses não pode ter proteção contra CDs piratas. Questão puramente técnica. Ao gravar em MP3, obrigatoriamente você vai precisar de um CD-R (virgem) ou CD-RW. Genérico ou de marca, tanto faz. Não há como garantir nada. Qual será o próximo passo, então? As gravadoras vão fazer uma parceria com os DETRANs para efetuarem blitz e confiscarem os CD-Rs, a exemplo do que está acontecendo nos Estados Unidos (e aqui no Brasil também, há de se convir) contra os usuários domésticos? Por enquanto, é seguro dizer que não. Mas, como pimenta… é refresco, nunca se sabe.
RECURSOS – O modelo da Sony, que tenho usado pelas últimas semanas, não é o melhor disponível no mercado, tampouco tem recursos extras. Nem equalizador tem, coisa que me faz bastante falta e só fui notar depois de comprar. No entanto, vale a pena mencionar alguns recursos bem interessantes de todos esses aparelhos, de modo geral.
O som reconhece as populares ID tags dos arquivos MP3. A exemplo do recurso de CD-TEXT utilizado em CDs de áudio convencionais, para que você possa ver o nome do artista/música no painel do som, as tags do MP3 fazem o mesmo, com maior riqueza de detalhes. É um recurso interessante, mas com pouca viabilidade prática para a maioria. Ficar editando tags exige certa paciência.
A “usabilidade” do produto é excelente. Você troca de álbum como se estivesse trocando uma música. Simples, rápido. Diferentemente das primeiras experiências em sons automotivos c/ MP3 – e do que muita gente diz por aí – você não precisa gravar todas as músicas na raiz do CD-R(W), ou seja, sem pastas. Você pode criar pastas e subpastas, fazer sua própria divisão e organização. No manual dos aparelhos, há mais detalhes sobre a leitura das pastas.
O som leva um pouco mais de tempo para “ler” (acessar) o arquivo. Não se espante. Ao trocar de álbum, é normal esperar um certo tempo até a primeira música começar a tocar. E, aqui, vai um detalhe interessante: quanto mais qualidade tiver o arquivo MP3 (bitrate), mais tempo o som vai levar para conseguir acessar o arquivo.
Por enquanto, com os aparelhos disponíveis no Brasil, recomenda-se que você grave suas MP3s em 128 kbps. É a melhor relação entre qualidade de som e velocidade de leitura. Se você for mesmo exigente, grave a 160 kpbs ou 192 kbps, sabendo que isso irá refletir no acesso dos arquivos depois. Para escutar no carro, com os aparelhos de agora, é desperdício usar taxas maiores do que 192 kbps. Além de ficar lento, você vai gastar o dobro do espaço no CD-R (ou seja, menos música) sem conseguir notar a diferença na qualidade do som. A não ser, é claro, que você tenha aquelas bazucas no porta-malas do carro para fazer uma farofada na praia.