O Brasil pode dar adeus ao Xbox 360, o novo console de videogame da Microsoft. A empresa não vai e nem pretende lançar o produto no mercado brasileiro. Fontes da própria empresa, no Brasil e nos Estados Unidos, garantem que a carga tributária (impostos), o alto índice de pirataria e a falta de incentivos do governo isolam o País do mais potente videogame da atualidade. O Xbox 360 foi lançado ontem no varejo americano e, até o final deste ano, chega ao Japão e à Europa – incluindo Portugal. Para quem quiser sonhar, resta apenas a opção de importar legalmente o produto de outros mercados ou sofrer na mão do contrabando.
Paulo Rebêlo
Folha de Pernambuco – 23.novembro.2005
Mesmo assumindo que não haverá lançamento no País, a Microsoft trouxe para a capital paulista vários exemplares do Xbox 360 para apresentação na feira EGS (Electronic Game Show) realizada entre os dias 19 e 21 deste mês. O estande da empresa foi o maior e mais concorrido deste evento, que nasceu no México e foi realizado pelo segundo ano consecutivo no Brasil. Quatro videogames ficaram disponíveis para testes de três minutos, desde que o candidato se dispusesse a enfrentar a fila – uma média de duas horas de espera. E o pior é que ninguém estava achando ruim.
Para os especialistas, não há dúvidas de que o Xbox 360 é o videogame mais potente da atualidade e teria chances reais de tomar o lugar do popular Playstation 2, da Sony, líder absoluto de vendas há quase dois anos no Brasil e em vários mercados internacionais nessa categoria. Deixando detalhes mais técnicos de lado, basta lembrar que o Xbox trabalha com três processadores PowerPC 3.2 GHz cada.
Apesar dos milhões de dólares investidos em propaganda e da estratégia de mostruário na feira EGS, o Xbox não será vendido no Brasil. Não há previsão e, aparentemente, também não há a menor intenção da Microsoft em trazer o produto. Em nota oficial, o diretor de negócios, jogos e entretenimento da empresa, Milton Beck, diz que a companhia está “estudando as melhores formas de trazer o Xbox 360 ao Brasil, mas enquanto isso não ocorre, queremos mostrar os avanços alcançados no competitivo mercado de consoles”. No entanto, o próprio Beck é enfático quando questionado sobre os reais motivos da jogada: o prejuízo certo para a empresa.
Em conversa com a Folha Informática durante a EGS, Beck não poupou críticas ao atual sistema tributário brasileiro, com uma carga de impostos que inviabiliza completamente a venda legalizada do console. “Temos um fator dificultador, que é a pirataria; mas o fator impeditivo são os impostos. O imposto de importação é alto, o imposto sobre produtos industrializados é alto, ainda temos o ICMS, o PIS/Confins e vários outros tributos para entregar oficialmente o Xbox ao consumidor. É inviável, impraticável e nada interessante, financeiramente falando, para a Microsoft”, define Beck. “Estamos conversando com o governo, é verdade, mas até agora não temos sequer uma luz no fim do túnel”, antecipa.
No Brasil, custo seria de R$ 4 mil
Não é complicado entender o cálculo da Microsoft. A empresa reconhece, inclusive, que até nos Estados Unidos o console é vendido abaixo do custo de fabricação. O Xbox é comercializado em duas versões: uma com 20 Gb de disco rígido por US$ 299 e outra com 40 Gb por US$ 399. Para compensar o investimento, o preço final para o consumidor americano seria de US$ 700 segundo estimativas. A compensação do prejuízo vem, de acordo com os gerentes da empresa naquele país, com a venda de jogos em grande quantidade.
Em um cálculo rápido, o diretor de jogos e entretenimento da Microsoft no Brasil, Milton Beck, garante que a versão de 20 Gb do console não sairia por menos de R$ 4 mil por aqui. “Quem vai comprar um videogame por este preço? Se nós tivéssemos como reduzir nossa margem de lucro e adaptar, faríamos isso, mas com a conjuntura atual e o governo cobrando cada vez mais impostos, não é interessante para a empresa sob nenhuma hipótese”.
Beck ainda explica que o consumidor precisa ter cuidado se for comprar um Xbox 360 em lojas brasileiras. “Não há impedimento legal para que o mercado importe o produto por conta própria, mas a Microsoft não garante assistência técnica, suporte, enfim… não é oficialmente reconhecido pela empresa”, adianta. E ainda assim, ele duvida que as lojas daqui consigam oferecer o console a um preço competitivo, mostrando à reportagem da Folha os cálculos envolvendo impostos de importação, ICMS, PIS/ Confins, IPI e assim por diante.
Para o usuário final, sobra a opção de tentar importar o console diretamente dos Estados Unidos, como pessoa física, pagando imposto de importação, frete e custos extras – veja box abaixo.
Quanto custa importar o Xbox 360 por conta própria
Valor nos EUA: US$ 299 (R$ 800)
+ 50% do imposto de importação
+ US$ 50 para impostos da loja
+ US$ 100 para o frete
Total: R$ 1.600, para a versão de entrada, com um joystick e 20 Gb, sem assistência e suporte técnico da Microsoft *.
* cálculo para pessoa física, com base em dólar comercial, valor de frete pode ser variável e valores consultados nas lojas americanas CompUSA.com, Amazon.com e Bestbuy.com
Feira reúne 25 mil pessoas em três dias
Três dias com as placas de vídeo mais recentes do mercado, os jogos mais populares, promoções de acessórios para PC e vários estandes de demonstrações das novidades que estão por vir. Assim foi a Electronic Game Show (EGS) deste ano, no Expo Center Norte, em São Paulo, que reuniu 25 mil pessoas. Além das exposições, houve ainda filas quilométricas para participar de campeonatos de games ou, simplesmente, ter o gostinho de jogar um lançamento por poucos minutos.
No total, foram 21 expositores em uma área de 9 mil m². “A EGS Brasil está definitivamente na agenda dos grandes eventos de games do mundo”, vangloria-se o diretor da Oelli (organizadora do evento), Ivan Cordon. Apesar da ausência de empresas conhecidas, como a Electronic Arts, Cordon só foi elogios à participação do público e dos expositores. A diretora comercial da Oelli, Christina Peruch, antecipou que novidades possam surgir a partir de 2006. “No México, realizamos a feira duas vezes por ano, porque há demanda. Estamos estudando a possibilidade de fazer o mesmo por aqui, mas ainda não é 100% confirmado”, antecipa.
Evento divulga campanha de combate à falsificação
Como não poderia deixar de ser, a pirataria de games foi uma constante nas conversas entre expositores e público. Os organizadores aproveitaram a oportunidade para divulgar a campanha “Quem compra jogo original ganha sempre”, uma iniciativa de empresas associadas para mostrar as vantagens do produto oficial para o consumidor.
A atitude refletiu-se, inclusive, no preço do ingresso, ao custo de R$ 20. “Não fazemos um evento barato, porque nosso foco não é atrair qualquer um, mas um consumidor selecionado que tenha condições de pensar em comprar jogo original. É o nosso público”, define a diretora comercial da Oelli, Christina Peruch.
Para o diretor de jogos da Microsoft, Milton Beck, a pirataria de games no Brasil atrapalha qualquer negócio. “A gente calcula que 95% dos jogos para computador são piratas. A Microsoft só vende títulos para PC que são fabricados aqui, não existe nenhuma estratégia comercial para sustentar um prejuízo como este”, reclama. “Com o Xbox 360, além dos impostos, teríamos um prejuízo dobrado pela atuação dos piratas”, diz Beck.