Software livre – parte 1/3
Paulo Rebêlo [email protected]
Quando você está terminando de escrever aquele relatório, o Windows trava. Reinicia e tenta abrir o arquivo novamente, mas aparece a nefasta tela azul com a mensagem de que você realizou uma operação ilegal ou inválida. Quer dizer, o sistema trava e a culpa ainda é sua. Se você também acha que pode existir vida além do sistema operacional da Microsoft, a salvação pode estar a poucos downloads de distância ou a menos da metade do valor de uma licença do Windows. Muita gente começa a adotar o Linux, um sistema operacional de código aberto, gratuito, ainda rodeado de mistérios e polêmicas. As discussões sobre Linux x Windows quase sempre recaem sobre ideologias, em um embate quase religioso contra o império econômico de grandes empresas. A Folha deixou de lado o blá-blá-blá técnico-religioso e começa, hoje, uma série de matérias sobre as alternativas de qualidade para quem deseja se livrar dos chiliques do Windows e conhecer o novo mundo do software livre.
Nesta edição, veremos novas opções de sistemas operacionais. Testamos as duas principais alternativas ao Windows no Brasil, em português: o pioneiro Conectiva Linux e o novato Freedows. Ambos são fáceis de usar e voltados ao usuário doméstico. O Conectiva Linux é um sistema operacional completo. Nasceu em Curitiba e está no mercado desde 1997, sempre ganhando prêmios e recomendações. Não é à toa. A nova versão (10) do Linux da Conectiva é fácil de usar, já vem personalizada para usuários brasileiros e é multi-uso: pode ser usada em casa, como estação de trabalho ou como servidor. De acordo com o diretor de marketing da empresa, Rodrigo Stulzer, nos últimos cinco anos foram vendidas 100 mil cópias do produto.
A Folha testou a versão 9.0, lançada há quase dois anos, e a versão 10, disponível desde julho do ano passado. Na hora de escolher, não pense duas vezes: opte pela edição mais nova, pois as mudanças são bem significativas, da instalação ao uso diário. Quem tiver Internet rápida, pode fazer o download de todo o sistema operacional, de graça. O pacote com CDs, caixinha, manual, extras e suporte técnico, é vendido nas melhores lojas de informática ou online.
O Freedows é outra opção e uma boa surpresa. É desenvolvido pelo Freedows Consortium, liderado pela Cobra Tecnologia, uma empresa do Banco do Brasil. Na verdade, o Freedows é quase uma réplica do Windows XP, pois foi desenvolvido com o claro objetivo de simular ao máximo o ambiente da Microsoft – apesar de a empresa não admitir isso abertamente. Até mesmo o papel de parede é similar ao utilizado pelo XP. O Conectiva Linux, por outro lado, tem uma interface gráfica bonita e intuitiva, mas o usuário percebe logo a diferença. Nada que poucas horas de uso não resolvam.
Segundo o sócio-diretor do Freedows, Sandro Nunes, em 2004 foram vendidos 12 mil contratos de licença do Freedows. “Nosso público-alvo são usuários que buscam um sistema operacional completo, mais econômico, estável e resistente a vírus, porém não pretendem investir em treinamento nem perder tempo para se adaptar”, explica. A exemplo do Conectiva, também há mais de uma versão: Standard, Thin Client (servidores do tipo Thin), Professional, CE (micro portátil) e Lite. Esta última é a única gratuita. No entanto, a Folha não recomenda usar a Lite (também testada), pois trata-se de uma edição limitada, sem acesso a muitos recursos.
“O Freedows não é 100% software aberto como o Conectiva, mas é baseado nesse modelo. O Freedows Professional ainda vem com uma ferramenta para instalar programas do Windows dentro do Linux,” garante Nunes.
Ambos vêm com diversos programas, incluindo um pacote completo de escritório com editor de textos, planilhas, apresentações e e-mail. O acesso à Internet, via modem e linha discada, também é simples. Inclusive, neste ponto, a configuração para discar a um provedor é até mais fácil (processo com menos etapas) do que no Windows. A única dificuldade será fazer uma conexão banda larga, como Velox ou Speedy. Nos testes realizados pela Folha, não conseguimos conectar o sistema ao Velox. A solução apontada por técnicos seria consultar o suporte da Telemar para conseguir as configurações necessárias de IP e DNS e, assim, poder fazer a conexão manualmente.
Arquivos do Windows no Linux
Durante a migração de Windows para Linux, a primeira coisa que o usuário pensa é: como ler meus arquivos e documentos no Linux? Tem como rodar os programas atuais? A primeira questão é fácil. Seus documentos pessoais, como textos, músicas, vídeos, fotos, planilhas, entre outros, são abertos normalmente no Linux, do mesmo jeito e sem configurar nada. Os documentos do Microsoft Office são lidos em outros pacotes de escritório, gratuitos e compatíveis. Com fotos e arquivos multimídia, também não há problema.
Sobre os programas que você usa hoje no Windows, a solução é um pouco mais complicada. O Linux “interpreta” os softwares de um jeito diferente do Windows, então é necessário usar programas escritos especificamente para ele. Inclusive, é esta interpretação diferente que faz o Linux ser mais seguro, visto que na prática não existe vírus para o sistema. Hoje em dia, para o uso cotidiano, já existem alternativas em software tão boas quanto ou melhores; e a tendência é melhorar ainda mais. E o principal, você pode fazer o download dos programas de graça na Internet, sem a culpa de estar promovendo a pirataria ou de pegar vírus.
O administrador de sistemas do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), Helson Araújo, começou a usar o Linux por acaso e, hoje em dia, usa tanto em casa como no trabalho. “O Windows tem muita beleza gráfica, milhões de drivers para hardware, a mágica do plug-and-play e outras firulas, mas toda esta facilidade tem um preço além do custo que se paga pelo produto. Os travamentos e a insegurança, por exemplo. O Windows é uma caixa-preta, mesmo quem tem conhecimentos técnicos em sistemas operacionais não pode intervir muito”, diz.
Em geral, todos os formatos padrões de arquivos – .PDF, .JPG, .GIF, .DOC, .TXT, .AVI, .MP3, entre outros – possuem suporte nativo no Linux. Se mesmo assim você insistir em usar produtos do Windows dentro do Linux, saiba que também é possível. Existem programas que simulam o ambiente Windows, de modo a permitir o uso de outros softwares. Na versão Professional do Freedows, por exemplo, o usuário pode fazer isso. Nem sempre funciona direito e, geralmente, a máquina fica lenta – mas quebra o galho na hora do desespero.
“É uma cultura que deve ser mudada pouco a pouco. Tenho certeza que se o Linux fosse o primeiro sistema operacional apresentado a um usuário novato, ele não veria tantos problemas quanto os usuários que tentam migrar do Windows para o Linux,” opina Araújo. O engenheiro de sistemas, Tarcísio Gurgel, também do Cesar, junta-se ao coro dos entusiastas do Linux. “Abandonei o Windows quando percebi que podia fazer as mesmas coisas em outro sistema. A dificuldade é se adaptar aos novos aplicativos, mas depois passa”, garante Gurgel.
Usar é fácil, instalar… nem tanto
Usar o Linux é fácil, mas instalá-lo ainda não é tão simples. Há uma etapa que confunde boa parte das pessoas e todos os usuários leigos: o particionamento do disco. É que o Linux “enxerga” os arquivos de um jeito diferente do Windows. Os sistemas de arquivos são diferentes, então você precisa reservar um espaço fixo e específico, dentro do disco rígido, para instalar e usar o Linux. Talvez seja a única parte complicada e perigosa, pois uma pessoa desavisada pode terminar apagando todos os dados do disco sem querer – ou formatando o HD sem saber. O cenário perfeito seria instalar o Linux do zero, em um disco sem Windows instalado. Em casos assim, não há nada a se preocupar, pois existe a opção de particionamento automático durante a instalação.
Caso você já tenha o Windows instalado (como a maioria das pessoas), o ideal seria pedir para um técnico ou um amigo mais entendido em informática para particionar o seu disco em dois: uma parte para o Windows e outra para o Linux. Mas isso também pode ser feito durante a instalação e, como é em português, ajuda. A documentação do Conectiva Linux e do Freedows não ajudam muito o usuário leigo sobre o particionamento de disco. Ao ler o manual do Conectiva, por exemplo, a página que trata de particionar o HD tem poucas informações e não explica bem como o usuário deve proceder em situações diferentes ou a finalidade da operação.
Fuja da ilegalidade e da lentidão
Se você não quer usar software pirata — principalmente nas empresas, onde a fiscalização é maior – e não tem dinheiro para gastar as fortunas que valem Windows e Office, então o pingüim pode ser a solução. Para o escritório, o Linux se apresenta muito bem em todas as tarefas básicas.
Outro cenário é para quem tem computador lento. Sobretudo no Windows 98/Me, o computador vai ficando ainda mais devagar com o passar das horas. No Linux, isso não existe. A performance é estável e o sistema consegue tirar melhor proveito do hardware. Em outras palavras, um computador com 64 Mb de RAM pode ficar mais rápido no Linux do que no Windows. Desenvolvedores de softwares e analistas de sistemas também costumam optar pelo Linux por motivos mais concretos: os travamentos e chiliques inexplicáveis do Windows, além da insegurança por conta de vírus.
Para os gamemaníacos, o jogo é mais difícil. Alguns dos principais títulos são lançados com versões para Windows e Linux, mas não é comum. A aceleração gráfica 3D das placas de vídeo mais recentes, essencial para os jogos de última geração, também não costuma funcionar 100% no Linux, porque “o mundo é Windows” na visão de certas fabricantes e desenvolvedoras. O que não deixa de ser verdade, do ponto de vista comercial e estatístico.
1 comments On Windows não é a única opção
Não sei a qual distribuição Linux você se refere. O Linux está cada vez mais fácil de instalar. Tente usar o OpenSuse, Mandriva, Cnetos, Fedora, ScientificLinux, Ubuntu, Zenwalk, Slax, Xubuntu, Kubuntu, Opensolaris (da Sun), DebianBr, Debian, Ututo, Ulteo, Alinex, BlagBlag.
Evite o Windows, não é seguro.
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