Venda de PCs cresce 112% no Brasil, Rio e PE são destaques

Paulo Rebêlo
Folha de Pernambuco – 29.março.2006

Na semana em que se “comemora” a inclusão digital no Brasil, o comércio de informática tem, de fato, bastante a celebrar. Neste início de 2006, a venda de computadores cresceu em ritmo acelerado quando comparado ao mesmo período do ano passado, com destaque maior para Rio de Janeiro e Pernambuco, onde o crescimento registrou o maior índice. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontam a desvalorização do dólar e a exigência do mercado como principais fatores a impulsionar as vendas, mas também pode haver indícios de que o programa governamental do PC Conectado pode ter dado uma ajuda.

Os dados oficiais sobre as benesses da tecnologia para a população de baixa renda são bastante dúbios, em grande parte por conta de iniciativas que começam, mas não têm continuidade; ou que só existem no papel e são anunciadas anos a fio, sem concretização – situação comum retratada pela imprensa, veja matérias ao lado.

No entanto, em pelo menos um ponto os brasileiros podem comemorar, principalmente cariocas e pernambucanos. A nova Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada na semana passada pelo IBGE, coloca Pernambuco na segunda posição no ranking de crescimento em vendas de PCs. O primeiro lugar, Rio de Janeiro, teve alta de 242% em janeiro deste ano, comparado ao mesmo período de 2005, enquanto por aqui (PE) foi 202,17%, seguido por Ceará (191,64%) e São Paulo (174,70%). A média de crescimento em todo o Brasil foi de 112%, um nível considerado excelente por analistas do setor.

Significa dizer que, nestes primeiros meses do ano, as lojas venderam praticamente o dobro do que estavam acostumadas em 2005. De acordo com a pesquisa, os motivos da alta se deram por conta do dólar, que ficou mais barato em constantes desvalorizações. “Como quase tudo em informática é atrelado à moeda americana, é importado, identificamos quedas de preços em todo o Brasil, incentivando o consumidor. Ao mesmo tempo, notamos que as pessoas e o mercado ficaram mais exigentes”, explica o coordenador da PMC no IBGE, Reinaldo Pereira.

Entenda o quebra-cabeça de preços e impostos

Além da desvalorização cambial, um fator a ser levado em consideração é o programa PC Conectado do Governo Federal, que depois de anos perdido em burocracia (desde 2001), chegou a um denominador comum: criar incentivos fiscais para as lojas e crédito de financiamento para a compra de um PC novo, de configuração básica.

Com isso, as lojas conseguiram oferecer equipamentos com um certo subsídio, a preços levemente reduzidos que, juntos com a queda do dólar, tornaram-se um atrativo e tanto. A desvalorização da moeda americana foi de 12,4% em 2005 e de 7,4% até agora em 2006, segundo índices do Banco Central.

O coordenador da pesquisa, Reinaldo Pereira, explica que a análise leva em conta o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), uma espécie de medidor dos preços no Brasil dividido em várias áreas e subáreas. “Na subárea específica de informática, encontramos a maior redução de preços e relacionamos com o acréscimo de vendas”, explica.

No entanto, Pereira é cauteloso ao falar sobre o PC Conectado. “É possível que haja relação, sim, mas somente possível. Não pesquisamos sobre isso, não temos concretamente um dado que relacione o programa ao aumento de vendas, então oficialmente o IBGE não comenta”, adianta.

No Recife, as lojas identificaram rapidamente o aumento óbvio de vendas e, em vários casos identificados pela Folha, os vendedores e gerentes creditam ao PC Conectado o aumento da demanda. No entanto, os números obtidos junto aos bancos que financiam o computador revelam que, por aqui, o programa ainda deixa muito a desejar, com pouquíssimas pessoas solicitando o crédito para compra de um PC novo.