Vampiros vivem dilemas adolescentes

Roteiro, ritmo e interpretação em Crepúsculo são calculados para agradar o público teen

Paulo Rebêlo
Diario de Pernambuco

18.dezembro.2008

Do bangue-bangue no Velho Oeste americano aos zumbis japoneses de cabelos coloridos, filmes de vampiros não saem de moda. Desde os clássicos de Bela Lugosi (1931) ao Drácula refinado de Bram Stoker (1992), passando por releituras pop como a trilogia Blade (1998-2002-2004), os contos vampirescos têm pelo menos uma peculiaridade: o vampiro – protagonista ou vilão – sempre deseja possuir (em todos os sentidos) a mocinha ingênua e pueril. Em Crepúsculo (Twilight, EUA, 2008), que tem sessões de pré-estréia hoje, abertas ao público, o vampiro quer apenas proteger a heroína de todo o mal que possa ser causado… por outros vampiros. Ela até tenta beijá-lo calorosamente, na cama e de pijama, mas é rapidamente afastada.

Com longas trocas de olhares, permeadas por música lenta e câmera suspensa, não surpreende que Crepúsculo tenha se transformado em sucesso de bilheteria entre os adolescentes. Os conhecidos dilemas e frustrações da adolescência tipicamenteamericana estão presentes em todos os trejeitos, como os pais separados e o novo padrasto, a mudança para uma pacata cidade de interior, a receptividade dos colegas na nova escola, sem esquecer, claro, da expectativa sobre quem vai convidar quem para o baile de formatura da High School.

O excesso de maquiagem, background musical melódico, os dilemas de um amor proibido, diálogos como “nunca pensei no jeito que iria morrer, mas morrer por quem se ama me parece uma boa idéia” – tudo em Crepúsculo contribui para a estampa de filme matematicamente calculado para o público teen.

À exceção de um rápido (e sem graça) confronto no final, não há cenas de ação, mordidas, suspense ou quaisquer outras locações comuns à temática vampiresca. Ao contrário, os vampiros-vegetarianos (acredite…) representados pela curiosa família Cullen são objeto de desejo para Bella Swan, que resolveu voltar a morar com o pai.

Aos 18 anos e com quase 20 filmes no currículo, Kristen Stewart segura o filme praticamente sozinha, no papel de Bella. Começou cedo, como a filha de Jodie Foster em O quarto do pânico (Panic Room, 2002), depois de uma participação no pouco conhecido Encontros do destino (The Safety of Objects, 2001).

Crepúsculo é fruto do livro de mesmo nome de Stephenie Meyer e aqui é dirigido pela novata Catherine Hardwicke, com apenas quatro filmes nas costas. Curiosamente, sua estréia ocorreu com o premiado Aos treze (Thirteen, 2003) sobre amigas pré-adolescentes que começam a descobrir sexo, drogas, pequenos crimes e os problemas de relação entre mães e filhas. A continuação de Crepúsculo já está em fase de pré-produção para 2010, mas ainda sem diretor definido.