VOTO // Com a popularidade em declínio, o presidente Hugo Chávez enfrenta hoje o desafio das eleições regionais
Paulo Rebêlo
Diario de Pernambuco
23.novembro.2008
Com a popularidade em declínio e a economia cada vez mais ameaçada pela queda no preço do barril de petróleo, o presidente venezuelano Hugo Chávez enfrenta, hoje, mais um de seus polêmicos desafios políticos. Para Chávez, as eleições regionais são quase um pleito presidencial. Sem pudor de usar a máquina pública, há vários meses o presidente faz campanha aberta para seus aliados e para candidatos de sua família. Ao mesmo tempo, ameaça os opositores com possíveis intervenções do Exército, caso eles vençam em Estados considerados fundamentais para a “revolução socialista do século 21” pregada pelo líder venezuelano.
A eleição não é obrigatória na Venezuela, mas o clima tenso e a possibilidade de medir a popularidade de Chávez são considerados motivos extras para a população ir às urnas. No referendo de 2007, quando a proposta de Chávez para reeleições presidenciais infinitas foi recusada nas urnas, os votos de aliados poderiam ter decidido o rumo danação (a favor de Chávez) se o índice de abstenção fosse menor.
A Venezuela vai às ruas para escolher representantes em 22 dos 23 Estados do país, além de 328 prefeitos e 233 legisladores de províncias. A boca-de-urna também é proibida no país e observadores de 34 países, enviados pela Organização dos Estados Americanos (OEA), reclamam da falta de transparência e do excesso de patrulhas do governo contra o oposição. Em relatório aberto de 60 páginas elaborado na eleição presidencial de 2006, os analistas da OEA não pouparam críticas sobre como é impossível comprovar a lisura das eleições quando o próprio governo é o responsável pela divulgação de pesquisas eleitorais, contagem e resultados finais, sem auditoria externa ou comprovações de terceiros.
Prestes a completar 11 anos no poder e com mandato até 2013, Chávez ainda tem pela frente a crescente repercussão da crise financeira nas contas públicas. O petróleo, único bem exportado em abundância pelo país, passa por crescente queda na cotação internacional. No entanto, a repercussão das eleições regionais ainda é uma incógnita para o mundo. Embora seja feroz crítico do “imperialismo americano”, a balança comercial com os Estados Unidos não sofre alterações. Os americanos são os principais compradores do petróleo da Venezuela.
Coordenador do Observatório das Relações EUA-América Latina, Luis Fernando Ayerbe não acredita em alterações diplomáticas com o resultado das eleições locais. “O resultado vai mostrar o avanço da oposição, mas sem tanta repercussão mundial porque não haverá poder para colocar o governo de Chávez sob risco”, diz Ayerbe, professor de História e Relações Internacionais da Unesp.
Saiba mais
O CLÃ DOS CHÁVEZ
PAI – Hugo de los Reyes Chávez, 75 anos, governador de Barinas desde 1998.
MÃE – Elena Frías, 73 anos, professora aposentada, coordena uma instituição pública de caridade.
IRMÃOS:
– Adan, 55 anos, candidato do partido governista para substituir o pai como governador de Barinas.
– Narciso, 53 anos, coordenador regional de programas conjuntos com Cuba.
– Aníbal, 51 anos, prefeito que tentará a reeleição em Sabaneta, cidade onde nasceu Chávez.
– Argenis, 50 anos, secretário do estado de Barinas
– Adelis, 43 anos, economista.
A ELEIÇÃO EM NÚMEROS
– 130 observadores internacionais vão fiscalizar as eleições de hoje.
– 328 prefeitos e 233 legisladores provinciais de 22 dos 23 Estados serão escolhidos.
– 140 mil militares do Exército venezuelano serão responsáveis pela segurança nas ruas.