RECIFE // Experiência de cidade colombiana no combate à violência estimula debate sobre o papel da prefeitura na segurança pública
Paulo Rebêlo
Diario de Pernambuco – 10.fev.2008
Bogotá tornou-se o santo graal dos políticos pernambucanos quando o assunto é segurança. A partir de um hiato pouco compreendido pela população, a redução de crimes na cidade colombiana agora integra os projetos de governo, discursos, entrevistas e sugestões para os gestores públicos locais, como se fosse a solução-mór dos índices de violência no Brasil – comparados aos números de guerra civil em países africanos.
O ex-secretário de Segurança Cidadã de Bogotá, Hugo Acero, é assessor especial do pré-candidato Raul Henry (PMDB). Após visitas à Colômbia, ambos se aliam a Murilo Cavalcanti, do Movimento Brasil Sem Armas, para louvar as realizações de Acero e do ex-prefeito de Bogotá, Antanas Mockus. A pasta de Acero era vinculada à secretaria de governo, a qual ele ocupou por três gestões consecutivas. E o próprio Antanas Mockus vem visitar o Recife, em março, para participar do Fórum Nacional de Segurança Pública, em evento promovido e divulgado pelo governo estadual.
A reduçãode crimes em Bogotá, no meio de uma histórica e conhecida guerra civil entre Exército e guerrilheiros, envolveu a participação direta da prefeitura, tendo a exótica figura de Antanas Mockus à frente. Não em ações de contenção de violência, mas em medidas de mobilização, urbanismo e “experimentações”, como costuma definir o próprio Mockus. Entre as medidas pontuadas por ele, a maioria é aparentemente de aplicação simples, mas nunca são implementadas por prefeituras.
Entre as medidas, algumas das quais tidas como exóticas, as principais são o incentivo à ocupação ostensiva dos espaços públicos pela população, partindo da premissa de que quanto mais gente nas ruas, mais seguras elas são; a criação das “noites das mulheres”, quando os homens ficavam em casa cuidando das crianças e as mulheres deveriam sair para se divertir, sozinhas; a pintura de estrelas no asfalto para cada ponto onde um pedestre fosse morto atropelado; a contratação de mímicos para atuar nas faixas de pedestre e constranger os motoristas; a distribuição de cartões vermelhos e verdes para que a população se fiscalizasse; entre outras ações pontuais.
A excentricidade de Mockus não se restringia à prefeitura. Durante o tempo em que foi presidente da Câmara Municipal, o ex-prefeito usava um colete à prova de balas “diferenciado” dos demais: havia um buraco em forma de coração bem acima do peito. Ele também usou pedaços de cano PVC para fazer um colar e clamou para que os colombianos fizessem o mesmo, usando a sigla como “Pacífica Vivência Cidadã”.
A troca de experiências
Além de Antanas Mockus, em março os recifenses também vão contar com a presença do americano David Bayley, também palestrante do Fórum Nacional de Segurança a ser realizado no Recife, entre os dias 24 e 26. Bayley é especializado em justiça criminal internacional com foco em polícias. Ele é conhecido por extensivas pesquisas de campo e trabalhos com as polícias da Índia, Japão, Austrália, Canadá, Inglaterra, Cingapura e Estados Unidos. Um dos seus principais livros pode ser encontrado nas livrarias brasileiras, em português. Trata-se de “Padrões de Policiamento: uma Análise Comparativa Internacional”, onde Bayley investiga a polícia nas sociedades atuais, tentando explicar as diferentes atuações em cada país. Embora não tenha realizado maiores estudos na América Latina, o leitor encontra no livro um ensaio sobre o futuro da polícia brasileira e da latino-americana.
O especialista em modernização do Estado do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Raimundo Arroio Jr., reconhece que aplicar experiênciasde outros países sem adaptações locais não é sempre recomendável, mas há algumas ações que podem ser positivas desde o momento de sua aplicação. Em entrevista ao Diario, Arroio também citou a Colômbia. “A urbanização das favelas no Rio, incluindo a construção de um teleférico, em parte saiu da visita feita, a convite do BID, dos governadores do Rio e Minas Gerais às cidades de Bogotá e Medellín, onde eles conheceram os avanços no combate à violência. A proposta do teleférico é uma réplica ao de Medellín, por exemplo”, pontua.