O lado negro da força cibernética

Paulo Rebêlo | agosto.1999

Depois da febre Star Wars, nada mais sugestivo do que o título acima para ilustrar as mazelas possíveis de se fazer com o uso da tecnologia ao alcance de todos. Mais especificamente, da Web. O número de iniciantes no imenso mar cibernético cresce diariamente. E são exatamente eles os mais suscetíveis aos malefícios (e benefícios) possíveis de divulgação, providos pela força do espaço virtual. Divulgar algo através da Internet é tão rápido e eficiente, quanto lucrativo.


Neste exato momento, você e meio mundo de gente já têm conhecimento daquele site paulista hospedado no exterior, esbravejando movimentos de racismo contra o Nordeste. Mais uma vez, o Brasil deixa para agir depois que as coisas aconteçam. Todos os jornais do país retrataram o ocorrido, agora o Ministério Público investiga os infratores. Ótimo, mas… e os casos anteriores? E os próximos? Pois, sim, haverão próximos.

Apesar do repúdio, o fato de a página ser uma via de acesso, nos alerta a outro fato: pior do que os autores do movimento, são os apoiadores e as autoridades responsáveis que por deveras o ignoram. O leitor mais atento deve ter percebido. Paulatinamente, as infrações através do computador vêm crescendo. Até pouco tempo, tais infrações restringiam-se aos ataques de hackers e, graças à inexistência de uma legislação em vigor sobre o assunto, os infratores permaneciam e permancem no anonimato.

A bola de neve está sendo feita e não mostra sinais de parada. Crimes federais, ataques à Constituição, entre outros, estão sendo propagados de uma forma facílima, alcançável por qualquer criança. Ou, como diriam os próprios nordestinos: “mais fácil do que fazer menino”.

Pode-se pensar que indivíduos como os autores daquela página, e outras similares, só querem duas coisas: fazer barulho e voltar as atenções para si. Tiremos o chapéu, pois eles conseguiram. Até onde sei, racismo e preconceito são crimes federais. Imaginem se as autoridades irão descobrir – ou fazer – alguma coisa? Torcemos todos que sim. Brasileiro é otimista por natureza…

Por acaso, o leitor sabe informar se alguém já descobriu a identidade, ou algo foi feito contra o grupo denominado Resistência 500, que invadiu diversos sites federais mês passado? Talvez seja injustiça comparar o Resistência 500 com o Orgulho Paulista, mas hoje eles podem atacar as páginas do Governo, amanhã eles podem burlar sua caixa postal ou sua conta bancária. Afinal, eles serão aplaudidos – como foram e continuam sendo por muita gente, seja no espaço virtual ou no real.

Atualmente, qualquer cidadão de posse de um computador e uma linha telefônica, pode montar uma home page e propagar palavras de preconceito, racismo, pedofilia e outras mais. Insatisfeitos, amanhã as mesmas pessoas irão fazer a cabeça do seu filho nas salas de bate-papo pela Internet, crentes que permanecerão impunes.

Pior do que a impunidade, é o apoio. A audácia é tamanha, que muitos dos grupos conservam uma caixa postal (email), para contatos de seus “fãs”, conscientes do apoio recebido por tanta gente. Pelo contrário, não arriscariam sequer divulgar um endereço gratuito de correio eletrônico, pois no mesmo dia teriam sua conta estourada ou bombardeada eletronicamente. Mas não, pelo contrário, eles possuem as caixas postais recheadas de mensagens de apoio, como foi visto no livro de visitas do Orgulho Paulista.

Na verdade, na verdade mesmo, antes de fazer um desfavor ao Brasil, o “Orgulho Paulista” fez um desfavor maior ainda para São Paulo. Atitudes como as do Orgulho Paulista, somadas à ineficiência da Justiça, só fazem manchar a própria imagem daquele Estado. No fim, o feitiço termina virando contra o feiticeiro, inocentes são lesados, e os culpados preparam novas investidas.

No dia 26 de agosto deste ano, os jornais reportaram a descoberta de uma campanha nazista que estava (está) sendo propagada no Brasil, através da Web. Não falo de preconceito contra nordestinos, paulistas, cariocas, sulistas, ou seja lá o que for.. Falo de um movimento anônimo que se auto-denomina nazista e aponta claramente judeus e simpatizantes do judaísmo como os “inimigos do Brasil”.
Muita coisa vem acontecendo pelas portas de fundo e, se não houver ação, quando nos dermos conta já pode ser tarde.