Paulo Rebêlo
Diario de Pernambuco – 03.agosto.2008
Recife não é apenas uma cidade perdida entre os piores índices sociais e de violência. Também é uma cidade para se perder. Literalmente. Que o diga a professora curitibana Adriana Grani, há seis anos residindo na capital pernambucana. Ao chegar, arriscou-se a procurar os principais pontos turísticos da cidade por conta própria. Tentativa frustrada, a exemplo de tantos outros turistas que só conseguem se localizar nas principais avenidas e, mesmo assim, com dificuldades. Nos arredores da praça de Boa Viagem, um dos cartões postais recifenses, não há indicação sobre pontos históricos e importantes para a cultura local. A situação nos demais bairros é ainda pior.
Hoje o quadro melhorou um pouco, conta Adriana, “mas permanece restritiva demais. Ainda preciso orientar os visitantes a usar táxis de confiança ou agências de viagens. Ninguém consegue chegar a vários cartões-postais da cidade”, relata a atual coordenadora do curso de Turismo da Faculdade Metropolitana. Na opinião da maioria dos profissionais do setor ouvidos pelo Diario, a sinalização turística é o principal desafio a ser enfrentado pelo próximo prefeito.
A ausência de placas para orientação atinge não somente turistas, mas qualquer um que conheça menos a cidade e precise chegar a um destino fora do percurso rotineiro. Fatores subjetivos, como segurança pública, limpeza urbana e transporte, igualmente contam pontos negativos na experiência – apesar das divergências sobre até onde o visitante se deixa levar pelo clima de medo e insegurança que ronda o Recife.
Ao comentar sobre a sinalização turística na capital pernambucana, Ricardo Guerra, 61, membro do Conselho Nacional de Turismo – órgão do próprio Ministério do Turismo, observa uma realidade curiosa: a prefeitura não segue os padrões internacionais de cores. Nas principais avenidas, é fácil observar placas em azul, verde e marrom. A escolha não é aleatória, ou melhor, não deveria ser. Cada cor indica o nível de proximidade (distância) da locação informada, mas no Recife o padrão não é seguido.
O tom azul é para curta distância (do ponto onde se lê a placa), o verde para média distância e o marrom para as localidades longes. É um exemplo similar ao citado pela pesquisadora Ladjane Carvalho (UFPE) em sua tese de mestrado sobre iluminação pública. “Nos lugares onde a prefeitura investiu em novas luminárias (como na Rua da Moeda e avenida Boa Viagem), não se levou em conta a série de estudos científicos sobre os efeitos negativos da luz em excesso, da luz intrusiva, de postes acima dos padrões internacionais”, relembra.
Investimentos – Há uma semana, o prefeito João Paulo anunciou investimento de R$ 1 milhão, com recursos do governo federal, destinados exclusivamente à sinalização turística. O projeto inteiro será de R$ 2,5 milhões até o final deste ano. É uma das esperanças dos profissionais de turismo para tentar viabilizar, em partes, um pouco mais de desenvolvimento no setor, que também peca pela falta de qualificação profissional.
Falta de limpeza urbana afasta turista
O presidente da ABIH-PE, José Otávio de Meira Lins, diz que há falta de informação de muitas pessoas quando criticam o setor. “Há divulgação exagerada sobre a falta de segurança, mas as pesquisas mostram que hoje o turista não se sente inseguro e nem reclama tanto”, revela. Meira Lins garante, ainda, que “anda de bicicleta sozinho na cidade e nunca passou por qualquer ameaça”. Entre os pontos negativos, cita sobretudo a limpeza urbana (excesso de lixo nas ruas) e saneamento (esgotos a céu aberto). “São problemas que vêm de longe, não são novos, a gente se acostuma e acha que é normal. Nas pesquisas, o turista se mostra mais espantado com esses dois fatores”, indica.
Opinião divergente é a do diretor do núcleo de hotelaria e turismo da UFPE, Djailton de Araújo. “Falta uma visão global e sistêmica do que a cidade representa, é claro que o turista vai descartar uma visita quando descobre os índices de violência locais. Falam muito do turismo de negócios, mas não figuramos sequer entre as seis principais cidadesbrasileiras para eventos nacionais e internacionais”, pontua.
Ambos concordam, contudo, com o pólo cultural e gastronômico do Recife, supostamente diferenciado das demais capitais nordestinas. Para a mestre em Turismo pela Universidade de Aveiro (Portugal), Cristina Dias, somente os pólos não são suficientes. “Falta quiosques de informação turística pela cidade e, quando há, os profissionais mal falam um segundo idioma”, aponta.
O empresário Ricardo Guerra, do Conselho Nacional de Turismo, sugere uma maior preparação da vida noturna. “A potencialidade para os turistas de negócios existe, claro, mas não temos uma noite preparada para recebê-los”, aponta. Meira Lins, da ABIH-PE, rebate ao dizer que “temos de 10 a 30 eventos diferentes diariamente e que não há problemas de roteiros, pois os hotéis são orientados a fornecer as informações. Não é verdade a concepção de não haver o que fazer na cidade”, garante.
O secretário de Turismo do Recife, Samuel Oliveira, acredita que a cidade passa pelo melhor momento noturismo. Em entrevista ao Diario, citou o aumento da permanência média (quatro dias) e do gasto médio diário (R$ 210), o maior do Nordeste. Ele comemora a taxa média de 80% de ocupação nos hotéis, índice respaldado pela Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIH-PE).
Principais problemas
l Falta de sinalização turística
l Ausência de aproveitamento dos recursos naturais e culturais
l Falta de capacitação profissional na área
l Poucos quiosques de informação turística
l Marketing voltado muito para praias
l Falta de conscientização turística da população
Cidades mais visitadas – Brasil
Rio de Janeiro 36,9%
São Paulo 18,5%
Salvador 15,8%
Fortaleza 8,5%
Recife 7,5%
Foz de Iguaçu 7,4%
Búzios 6%
Porto Alegre 5,9%
Florianópolis 5,3%
Belo Horizonte 5,1%
Ano: 2003 | Fonte: Embratur
Propostas
Cadoca (PSC)
l Revitalização paisagística e turística do Rio Capibaribe
l Criação de corredores turísticos com roteiros especiais
l Retomar a revitalização do pólo Bom Jesus
l Implantação de um programa de qualificação de profissionais que lidam diariamente e diretamente com o turista, como taxista e comerciantes de praia
l Plano de consolidação de turismo de negócios
l Desenvolvimento de um plano de marketing turístico e cultural integrado
Edilson Silva (Psol)
l O candidato não enviou as principais propostas para o setor até o fechamento desta edição
João da Costa (PT)
l Iniciativas para consolidar a reestruturação da cidade com os projetos iniciados na gestão do prefeito João Paulo
l Programa de promoção turística e ações de divulgação nos mercados emissores
l Programa de captação de investimentos, ampliar captação de recursos e instalação de empreendimentos permanentes em áreas de interesse social.
Kátia Telles (PSTU)
l Combate ao turismo sexual e prostituição (nenhuma violência contra prostitutas)
l Conselho Municipal de Cultura com poder deliberativo
l Construção de pousadas e albergues populares
Mendonça Filho (DEM)
l O candidato disse que o plano de governo para o setor ainda está em desenvolvimento e não quis pontuar as principais ações
Raul Henry (PMDB)
l Criação do Centro de Referência Turística, com sala de projeção para se conhecer a cidade, roteiros etc.
l Zona Especial de Interesse Turístico, no Bairro do Recife
l Apoiar o governo do estado, nas ações que viabilizem o Recife como sub-sedes da Copa do Mundo de 2014
Roberto Numeriano (PCB)
l Dinamizar o setor com a divulgação massiva e contínua dos atrativos culturais
l Urbanizar e revitalizar todas as áreas no entorno da BR-101, nas entradas Sul e Norte do município, que sempre foram degradadas
l Sinalizar toda a cidade, bairro a bairro