Os usuários da Internet rápida em Pernambuco, a chamada banda larga, estão próximos de ganhar uma bem-vinda alternativa à hegemonia da Telemar nas conexões DSL, utilizada pelo serviço Velox. É que a Telefônica, operadora de telecomunicações que atua em São Paulo, analisa a possibilidade de expandir a área de atuação para a Região Nordeste com o Speedy – conexão rápida, similar ao Velox, sob a mesma tecnologia DSL.
Paulo Rebêlo
Folha de Pernambuco
O Speedy usa a linha telefônica para conectar o usuário à Internet em alta velocidade. A linha é convertida/adaptada para receber o intenso tráfego de dados e um modem externo é ligado ao computador, através de uma placa de rede. É um processo simples e a conexão é configurada em segundos.
No Sudeste, o Speedy conta com a vantagem de ter mais planos de acesso e assinaturas, incluindo uma velocidade de conexão, residencial, de 2 Mbps – mais do que o dobro do plano mais rápido ofertado pela Telemar, de 768 Kbps. A Telefônica confirma oficialmente a expansão, mas guarda a estratégia a sete chaves e não revela detalhes técnicos ou comerciais do lançamento.
Os diretores da empresa também não podem falar à Imprensa, mas a Folha antecipa com exclusividade, de acordo com informações de bastidores e consultas a especialistas em telecomunicações, o que os internautas recifenses podem esperar do serviço.
A chegada da Telefônica pode ser uma verdadeira linha cruzada. Porque hoje, só quem oferece conexões rápidas por DSL (Digital Subscriber Line ou Linha Digital de Assinante, em português) é a Telemar. E as regras básicas de mercado são claras: em qualquer setor da economia, a empresa a deter os únicos meios de oferta tende a praticar o preço que quiser, restando ao consumidor a opção de aceitar ou não. No caso da Internet, há um agravante: as provedoras das soluções em banda larga nunca disponibilizam os serviços onde o retorno
financeiro não seja garantido.
Em São Paulo, o Speedy da Telefônica usa a mesma tecnologia adotada pela Telemar por aqui, com o diferencial de que lá existem mais opções de planos e assinaturas. Durante quase duas semanas, a Folha procurou os diretores da Telefônica, mas nenhum teve permissão para revelar detalhes da investida na Região Nordeste. No entanto,
oficialmente a empresa confirma o projeto de expansão para as capitais nordestinas, trazendo não apenas o Speedy, mas também outros serviços de telefonia e transmissão de dados. De acordo com informações vazadas à imprensa em São Paulo, a Telefônica supostamente dispõe de R$ 1,7 bilhões no orçamento reservado para investimentos em 2005.
Trata-se de uma aposta de risco. Caso concretize a idéia de se expandir para o Nordeste, a Telefônica vai encontrar uma série de “linhas congestionadas” para resolver. O primeiro problema é a infraestrutura, a qual requer um investimento alto por parte de qualquer empresa interessada na concorrência do DSL. É que a Telemar herdou da antiga Telpe, após a privatização das Teles em 1998, a infra-estrutura de linhas no Estado. A mesma vantagem também foi obtida pela Telefônica, em São Paulo, cuja herança veio da Telesp.
O presidente do Teleco (uma associação de especialistas em telecomunicações), Eduardo Tude, explica resumidamente três alternativas que a Telefônica poderia dispor: 1 – alugar da Telemar a estrutura necessária à instalação do Speedy; 2 – investir na instalação de novos cabos e fios de cobre; 3 – adotar outra tecnologia de conexão para o Speedy, mantendo apenas o nome do serviço. “É uma situação bem difícil, pois as três opções envolvem custos altos e restrições técnicas consideráveis. Além do DSL, eles poderiam tentar uma conexão via rádio, individual, mas o preço para o usuário final pode não ser atraente,” explica Tude.
Em São Paulo, quem oferece conexão individual por rádio é a Vésper, com o serviço batizado de Giro. Este tipo de conexão não é o mesmo utilizado por alguns provedores recifenses com Internet de condomínio. “Os provedores locais apenas colocam um receptor e criam uma rede local no edifício, não é uma conexão via rádio até a casa do usuário,” define. Uma possibilidade levantada pela equipe do Teleco, porém não confirmada pela Telefônica, é que a empresa possa lançar o Speedy apenas em fase-piloto, para usuários selecionados, e depois vender o serviço somente para empresas cujo tráfego de dados seja
lucrativo. “Como o uso empresarial paga bem mais do que o residencial, talvez seja uma opção financeiramente viável para a Telefônica,” pondera Tude.
Soluções: quem oferece a melhor?
Hoje, quem quiser se livrar do telefone só dispõe de duas opções no Recife: a Cabo Mais, com pacotes de TV por assinatura e Internet, usando conexão por cabos e com um modem específico (cable modem), e a Telemar, com o Velox, que utiliza a infra-estrutura da rede de
telefonia convencional para implementar o serviço. De acordo com especialistas consultados pela reportagem, o DSL impõe vantagens. A instalação é mais simples e depende de menos fatores externos.
Segundo Eduardo Tude, o cliente DSL tem uma garantia maior de velocidade estável. “Não tem quedas de velocidade em horários de pico”, explica. Para ele, há outras opções de qualidade no mercado, mas são caras. O DSL possui a melhor relação custo-benefício. Não à toa, é a tecnologia mais usada para conexão em banda larga (veja quadro ao lado).
Outra opção em acesso via cabo é pelo provedor Passelivre.net, também abordada em reportagens anteriores da Folha e cuja infraestrutura é a mesma da Cabo Mais, porém, sem pacotes de televisão. Fora as duas opções – cabo e DSL – quem mora em edifício pode tentar
contratar um serviço de Internet condominial. Provedores recifenses como Hotlink e Nlink instalam, mas é bom lembrar que não se trata de banda larga. É apenas uma conexão supostamente contínua, sem uso da linha telefônica, com um canal compartilhado para todo o edifício. Ou seja, naqueles horários em que várias pessoas do mesmo prédio usam a
Rede, a velocidade pode se tornar menor do que a conexão discada pelo telefone convencional.
“Existe a possibilidade de a Telefônica não se tornar exatamente uma concorrente, mas apenas querer a fatia de mercado dos usuários mais avançados e empresas com grande volume de tráfego, situações nas quais haja necessidade de 2 Mbps de conexão ou mais,” diz um técnico em telecomunicações que prefere não se identificar. Hoje, o Velox possui apenas três velocidades: 256 kbps, 512 kbps e 768 kbps. Uma conexão via modem e linha discada não ultrapassa 50 kbps. Em São Paulo, o Speedy tem seis planos residenciais, incluindo taxas de conexão de 2000 kbps (2 Mbps).
Outra opção seria investir nos bairros onde o Velox e os outros serviços de banda larga não estejam disponíveis. Muitos internautas reclamam da restrita área de cobertura da Telemar e da Cabo Mais. Bairros como Jordão, Candeias e até Piedade, além de vários outros trechos de Jaboatão dos Guararapes, simplesmente não recebem o Velox porque a Telemar reconhece, abertamente, que não há “demanda suficiente” para investir na oferta do Velox nesses locais.
Reclamações continuam altas
No Recife, a realidade do monopólio da banda larga já foi abordada em pelo menos duas reportagens recentes da Folha. A última, em outubro do ano passado, colocou usuários e representantes das empresas cara a cara, mas as reclamações dos usuários pouco repercutiram nas diretrizes das empresas. A Telemar oferece o Velox apenas em determinados bairros, deixando outros locais da cidade pendurados no gancho. Em algumas situações, a empresa chega a oferecer formalmente o serviço e, na hora de instalar, diz que o local não é atendido por motivos os quais os usuários nunca entendem.
Foi o caso do analista de sistemas Leonardo Viana, residente do Jordão Alto, que recebeu a visita de um técnico da Telemar em casa e, depois de meses sob espera, descobriu que a Telemar não instalava o Velox no Jordão. “Se não instalam, por que oferecem e fazem essas visitas?”, questiona. “A Telemar brinca com a gente, ficamos sem poder fazer nada e pagando fortunas de conta telefônica,” reclama Viana. O caso dele não foi o único apurado pela reportagem. Há situações que seriam cômicas, se não fossem trágicas. Em bairros como Candeias ou Piedade, a Telemar instala o Velox em uma determinada avenida e, nas
ruas perpendiculares, diz que não pode.
Questionada sobre a chegada de um eventual concorrente para o Velox, a Telemar se limita a responder, em nota oficial, que “a empresa acredita que a competitividade traz grandes benefícios para o consumidor e vê com bons olhos a chegada de novos competidores ao
mercado”. Na Cabo Mais, a gerente de marketing e negócios, Poliana SantAnna, revela-se um pouco cética em relação a novos concorrentes. “A gente entende que é um mercado em franca expansão e com expectativas promissoras, mas qualquer novo integrante terá que passar por todo o processo de amadurecimento até atingir o nível dos atuais (players) de mercado,” acredita Poliana.
Concorrente acumula queixas
A concorrência é muito bem-vinda, mas engana-se quem acha que a Telefônica vai resolver todos os problemas. Em São Paulo, a quantidade de reclamações contra a empresa é tão alta quanto a da concorrente por aqui. O número de usuários que não aguenta sequer ouvir o nome da operadora, sem ter calafrios ou crises de hipertensão, cresce a cada dia. Qualquer semelhança com a realidade local pode até ser mera coincidência.
As provas estão nos relatórios do Procon-SP, que no último levantamento colocou o setor de telecomunicações como líder de reclamações no Estado de São Paulo. Em 2004, foram 12.098 reclamações formais, as quais 39% referentes à telefonia. A Telefônica teve 1.042 queixas. O Procon-SP destaca, entre as reclamações, a deficiência das empresas em prestar informações ao consumidor, falta de clareza sobre contratação de planos, promoções e solicitações de serviços.
O analista de sistemas, Alexandre Monetto, mora em Sorocaba-SP e passou por uma situação idêntica a de muitos usuários recifenses. “Há quase três anos solicito o Speedy. Eles até ligam para minha casa, oferecem o serviço, mas não instalam. Já cheguei a comprar o kit deles, assinar um provedor de acesso e, na hora da avaliação técnica, diziam que não podiam instalar. Mas continuam fazendo propaganda que instalam”, relembra. Monetto explica que, em duas ruas próximas, a Telefônica instalou o serviço na casa de outras pessoas.
No ranking de reclamações do Procon-SP, mais de um terço da lista inclui operadoras de telefonia fixa e móvel, incluindo serviços de Internet. Até na lista de serviços essenciais, a telefonia continua sendo o setor com mais reclamações dos consumidores. O Procon destaca mais problemas, como inclusão nos cadastros de proteção ao crédito de consumidores que não haviam solicitado linhas, além de serviços de entretenimento e chats disponibilizados sem prévia solicitação e conhecimento dos responsáveis pelas linhas.