Microsoft quer Xbox no Brasil, apesar do contrabando

Xbox pode ser vendido oficialmente no Brasil ainda este ano. Custaria cerca de R$ 4 mil; Microsoft conversa com governo e varejo para tentar reduzir o valor do produto, que no mercado paralelo é vendido por R$ 2 mil.

Paulo Rebêlo / Webinsider / Folha de Pernambuco

Depois de seis meses tendo que ouvir sobre o descaso com a América Latina, a Microsoft finalmente sinalizou que o Xbox 360, videogame de última geração da empresa, pode chegar ao Brasil por vias oficiais, sem necessidade de contrabando ou transações escusas na internet.

Em novembro de 2005, durante a época de lançamento mundial do Xbox 360, a Microsoft bateu o martelo e confirmou que o console não chegaria ao Brasil e, talvez, nunca chegasse. Os motivos? A pirataria, o contrabando e, principalmente, a alta incidência de impostos que inviabilizariam qualquer tentativa comercial no País (veja matéria ao lado). Na ocasião, a empresa circulou o mundo com apresentações e demonstrações de alguns jogos, inclusive em São Paulo, onde estivemos presentes.

Entre aquele período e hoje, o Xbox 360 conquistou várias praças. Inclusive na América Latina, com destaque irônico para a Colômbia, onde há vários meses o produto é vendido oficialmente, com suporte, assistência e até site oficial. Enquanto isso, no Brasil, o Xbox 360 (e o Xbox original, modelo anterior) só podem ser encontrados via contrabando ou em sites de leilões na internet, sem suporte ou assistência, mas vendidos livremente. Os jogos também só são encontrados no mercado paralelo.

A Microsoft não confirma, no entanto, datas e preços – estratégia bastante normal. Nos bastidores, a expectativa é que ainda este ano o Xbox 360 passe a ser vendido, até mesmo como resposta ao Playstation 3, da Sony, previsto para novembro deste ano e que também não será lançado oficialmente por aqui, mas chegará via mercado informal rapidamente. Considerado o “futuro” principal concorrente do Xbox 360, o Playstation 3 promete revolucionar o setor de entretenimento, nas palavras dos executivos da Sony. Promessa idêntica à da Microsoft, em novembro do ano passado.

Preço de mais e jogos de menos

O maior entrave do Xbox no Brasil é o preço e a disponibilidade de jogos, sendo este último um problema de abrangência mundial. À época da demonstração do videogame em São Paulo, o diretor de jogos e entretenimento da Microsoft no Brasil, Milton Beck, garantiu que a versão simples do console não sairia por menos de R$ 4 mil no varejo brasileiro. “Quem vai comprar um videogame por quatro mil reais? Se nós tivéssemos como reduzir nossa margem de lucro e adaptar, faríamos isso, mas com a conjuntura econômica atual e o governo cobrando cada vez mais impostos, não é interessante para a empresa sob nenhuma hipótese”, explicou.

Ainda é um mistério sobre que tipo de política comercial será adotada pela Microsoft e quais seriam os benefícios que, supostamente, o governo brasileiro concederia à empresa. Oficialmente, ninguém comenta e a direção da Microsoft proibiu os porta-vozes de opinarem sobre o assunto. Enquanto isso, o mercado informal e o contrabando vendem o produto em sites de leilão na internet e, às vezes, até mesmo em lojas. “Não há impedimento legal para que o mercado importe o produto por conta própria, mas a Microsoft não garante assistência técnica, suporte, enfim… não é oficialmente reconhecido pela empresa”. No mercado paralelo, um Xbox 360 custa R$ 2 mil e não é preciso navegar muito para encontrar um à venda.

Sony também não prioriza o Brasil

A exemplo da Microsoft, a Sony também não tem representação oficial no Brasil para videogames. A diferença é que, por ser tão popular, qualquer loja de eletrônicos vende o Playstation 2 − às vezes, até com uma breve garantia de três meses, da própria loja. A Sony não reconhece o Brasil como mercado e, em várias oportunidades, já demonstrou que não tem o menor interesse em mudar esse cenário. Resultado: não há suporte e nem assistência técnica oficial.

Na opinião do analista de distribuição Thiago Madureira, que há anos aderiu ao Playstation 1 e 2, “será preciso muito jogo de cintura para a Microsoft convencer alguém a pagar R$ 2 mil em um videogame que tem poucos jogos no mercado”. Ele explica que, por conta da popularidade, os jogos do PS são a maioria, enquanto os títulos da Microsoft ainda bastante escassos. “De fato, tecnicamente o console da Microsoft é melhor, mas o Playstation 3 vem aí”, lembra Madureira, referindo-se à nova versão do videogame da Sony, previsto para novembro deste ano.

Pensamento semelhante tem o diretor de criação Eden Wiedemann, outro usuário do Playstation. “Tenho curiosidade quanto ao Xbox, como todo bom fã de games, mas tenho muitos jogos de PS e isso me faria pensar duas vezes antes de migrar, não é só questão de comprar o console e pronto”, pondera.

O Playstation 3 chega ao mercado norte-americano em novembro com preços que variam entre 499 dólares e 699 dólares.

O Playstation 1 foi lançado em 1994 no Japão, chegando aos EUA e ao resto do mundo em 1995, com o conceito inovador de jogos em CDs − até então, as tentativas anteriores de substituir cartuchos por discos laser não haviam se popularizado. Ainda hoje, o Playstation 1 é uma febre no Brasil, com jogos clássicos e premiados. Nos camelôs, é possível encontrar títulos por R$ 5 sem esforço. O mesmo vale para o Playstation 2, lançado em 2000 no Japão. Em um único final de semana, foram vendidas 980 mil unidades somente na Terra do Sol Nascente. Até o final do ano passado, chegava a 100 milhões o número de unidades vendidas − sem contar as vendas piratas, que incluem o Brasil e quase todos os países subdesenvolvidos.

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