Enquanto o governo brasileiro troca farpas com a indústria nacional e com a Microsoft sobre políticas públicas de acesso e, sobretudo, em relação aos programas de inclusão digital, como é o caso do PC Conectado com Windows ou Linux, na prática a empresa de Bill Gates discute soluções que estão a anos-luz de todo esse bafafá. A Folha de Pernambuco esteve na sede da Microsoft em Redmond, nos Estados Unidos, no campus que hospeda os prédios e quadras da empresa, onde entrevistou Aaron Clager, chefe do Departamento de Testes para Design de Software e Engenharia da Microsoft Network (MSN). Entre as novidades antecipadas por Clager, está o desenvolvimento de um sistema similar ao Orkut, ainda em fase embrionária, além de uma possível mudança de abordagem em relação ao mercado brasileiro que, segundo ele, não tem sido bem compreendido pela empresa.
Folha de Pernambuco, 06.julho.2005
Webinsider (republicação)
Paulo Rebêlo – email
Nunca um serviço online tornou-se tão popular quanto o Orkut, sob as asas do todo-poderoso Google. No caso do Brasil, a situação é ainda mais instigante, visto que nem os próprios funcionários entendem o real (ou irreal) motivo de brasileiros aderirem com tanto afinco ao site de relacionamentos e comunidades.
Não é novidade que o sucesso desperta o interesse da concorrência e, quando o concorrente em questão é a Microsoft, é bom ficar de olhos abertos. Segredo guardado a sete chaves até há poucas semanas, hoje a conversa paralela nos corredores da Microsoft trata que, ainda este ano, uma versão beta (de testes) de um projeto igual ao Orkut entra no ar. Ainda não há definição de nome.
Se o “MS-Orkut” será capaz de concorrer com o Google, só o tempo dirá. No entanto, a Microsoft tem a seu favor o crescente índice de reprovação dos usuários em relação ao Orkut – lento, vários bugs e nem sempre está no ar. O projeto dos desenvolvedores da solução concorrente, em Redmond, é justamente tirar proveito dessas deficiências e apresentar um produto já bem desenvolvido, rápido e que funcione melhor.
Na visão de Aaron Clager, chefe do departamento de testes para design de software e engenharia da MSN, “em três anos ninguém vai mais ouvir falar em Google, Orkut e Yahoo!”. O motivo? Para ele, o sistema de busca MSN Search vai desbancar Google e Yahoo!; e o MS-Orkut reunirá tudo o que o Orkut tem de bom, porém, com as deficiências resolvidas e uma gama de novos recursos que poderão ser integrados entre Windows, Hotmail, MSN Messenger, Office etc. “Não podemos antecipar maiores detalhes, mas, até o final do ano, os usuários já vão poder conhecer um pouco da nossa resposta ao Orkut”, antecipa Clager.
Para Clager, talvez seja a hora de a Microsoft olhar com mais atenção ao mercado brasileiro. “Temos uma presença forte no País, mas ainda não é a mais adequada ou a que gostaríamos. Precisamos entender melhor como pensa o usuário brasileiro, adaptar nossos serviços online [dos EUA] para o Brasil”, explica. Ele enfatiza que, para a Microsoft, o Brasil ainda não é um mercado tão competitivo ou atraente como o da China, por exemplo, que cresce a ritmos “alucinantes”. “Deveríamos olhar mais para o Brasil, mas hoje não é exatamente o que estamos fazendo”, reconhece.
Acesso ao campus sem paranóias
Em uma época onde os americanos parecem cada vez mais neuróticos com a segurança, é quase assustador perceber como a Microsoft é “aberta” e sem maiores penduricalhos de segurança. De acordo com funcionários ouvidos pela reportagem, mas que preferiram não se identificar, não há segredo algum na abordagem. É que a empresa é bastante respeitada e segura de sua atuação nos Estados Unidos. Ao menos até hoje, nunca houve nenhum incidente nas dependências da Microsoft em Redmond.
Na entrada de cada edifício/departamento, o máximo que o visitante encontra é uma porta de vidro com o leitor do cartão de funcionários. Nada de seguranças brutamontes, revistas, detector de metais, máquinas de raio-X etc. A única ressalva é que o visitante seja acompanhado por qualquer funcionário quando estiver andando por dentro dos edifícios.
No campus, não há portão de entrada ou os habituais recepcionistas para que veículos circulem nas ruas do aglomerado. As entradas são abertas; as ruas e estacionamentos, idem. Na prática, qualquer pessoa pode simplesmente circular pelo campus sem ser abordado, desde que não queira falar com nenhum funcionário em particular. Olhando por este prisma, é quase como se a Microsoft fosse, simplesmente, uma empresa como qualquer outra.
O que importa é cumprir prazos
Tudo o que se ouve falar sobre a flexibilidade de trabalhar na Microsoft é mesmo verdade. Entre edifícios e estacionamentos no campus, há uma série de quadras poliesportivas (futebol, basquete, vôlei etc.), vários refeitórios, áreas diversas de lazer e academias de ginástica. O funcionário pode sair a qualquer hora para “relaxar” e jogar uma partidinha com os amigos, por exemplo. O que importa é a produção e os prazos, que devem ser cumpridos. O resto, cada um decide o que fazer da vida, desde que trabalhe bem.
Cada funcionário possui seu próprio escritório, um pequeno espaço o qual, muitas vezes, parece um quarto. É possível encontrar de tudo nos “escritórios”: de coleções exóticas até criações de bichos estranhos – tem funcionário criando cigarras. Como a Microsoft oferece uma estrutura completa de vivência, com chuveiros para banho, refeitórios e refrigerantes grátis, não é incomum encontrar pessoas que eventualmente resolvam dormir no próprio escritório quando ficam trabalhando até tarde.
Google não cansa de inovar
Não é de hoje que o Google deixou de ser uma “uma nova esperança” para se tornar um verdadeiro império na Internet. De acordo com o ranking divulgado pelo jornal britânico Financial Times, das 100 maiores empresas do mundo, o Google agora figura oficialmente na lista com valor de mercado em mais de US$ 50 bilhões e na 95ª posição. A primeira colocada continua sendo a General Electric, seguida da ExxonMobil, da própria Microsoft e do Citigroup.
Ciente das investidas da Microsoft, os desenvolvedores do Google têm feito de tudo para inovar. O mais recente lançamento, o Google Earth Search, permite ao usuário usar o sistema internacional de satélites para encontrar, via internet, cidades, restaurantes, bares, pontos turísticos e assim por diante. Infelizmente, a gama de possibilidades do produto ainda está bem restrita aos EUA.
Dados da ComScore, empresa que mede audiência de internet (somente nos EUA), o Google ainda concentra 36,5% de todas as buscas do mercado americano, contra 30,7% de Yahoo! e 16,1% do MSN Search da Microsoft, em terceiro lugar. Recentemente, a Microsoft lançou no Brasil a versão em português do MSN Desktop Search, que faz a mesma coisa do Google Desktop Search: indexa todos seus arquivos e oferece uma busca rápida para qualquer entrada de texto, de modo a procurar até mesmo dentro do conteúdo dos documentos.