Índio candidato a vereador foi morto por traficantes

CABROBÓ // Mozeni Araújo era contra o uso de terras indígenas para plantio de maconha

Paulo Rebêlo
Diario de Pernambuco

27.novembro.2008

O crime que calou a cidade de Cabrobó, no Sertão do Estado, o assassinato à queima-roupa do índio truká Mozeni Araújo em agosto deste ano acaba de ter seu desfecho revelado pela Polícia Civil. De acordo com o relatório apresentado ontem, o tráfico de drogas foi a real motivação. Mozeni e outras lideranças dos trukás eram contra o uso de terras indígenas para o tráfico, mas ainda hoje a tribo enfrenta resistência interna sobre a questão.

O autor dos disparos, Maurício Ricardo Alexandre Silva, foi preso logo após o crime. Mas as contradições levaram a polícia a abrir uma nova investigação. A delegada Dilma Tenório apresentou quatro envolvidos na morte de Mozeni, então candidato a vereador pelo PT e uma das principais lideranças de Cabrobó, a 600 km do Recife.

Maurício Ricardo Alexandre da Silva (Amauri), Antonio Gonçalves da Silva (Tonho de Binega), João Paulo dos Santos (Joãozinho de Ana) Filho e Nelson Antônio de Souza (Nelson Preto) são os acusados de orquestrar o assassinato. Os quatro são envolvidos com outros crimes e procurados pela Justiça em Pernambuco e na Bahia.

De acordo com o relatório da Polícia Civil, um dos integrantes do grupo, Jociel Jacinto (Calango) possui um verdadeiro arsenal de guerra com metralhadoras e fuzis. Joãozinho de Ana também é índio truká e, segundo o relatório policial, cultiva plantação de maconha e faz parte do bando liderado por Tonho de Binega.

Ainda segundo a investigação policial, Tonho de Binega e Joãozinho de Ana perderam duas roças de maconha em janeiro de 2007 e acreditam que foram denunciados (“caboetados”) por Mozeni Araújo e Chico Truká. Em fevereiro, o próprio Mozeni havia sofrido um atentado, sem sucesso. A polícia diz que Joãozinho de Ana chegou a ser preso por outros delitos, mas foi solto 18 dias antes de articular com os comparsas o crime que culminou na morte de Mozeni Araújo.

A ascensão política de Mozeni era vista como uma perigosa ameaça aos interesses do tráfico. O medo impera na população em Cabrobó, considerada um dos principais pólos do tráfico em Pernambuco. Há anos que traficantes se aproveitam das terras demarcadas pelos trukás para o cultivo da erva. Investigações da Polícia Federal já chegaram a apontar a participação até mesmo do Comando Vermelho do Rio de Janeiro.

A Ilha de Assunção dos índios trukás é considerada valiosa por vários motivos. Entre os quais, a privilegiada posição geográfica (limítrofe com a Bahia), a dificuldade de acesso por via terrestre e o fato de a polícia não poder entrar em território indígena sem autorização expressa da Funai. Mozeni foi morto às 17h30 em frente ao seu comitê, no dia 23 de agosto, durante evento de uma festejada campanha na cidade.