Hackers: invasões cibernéticas

Paulo Rebêlo | janeiro.1999

Eles são muitos. Audácia, conhecimento, análise e iniciativa, são alguns dos principais ingredientes que compõem os já conhecidos hackers. Além de uma boa pitada de imaturidade na grande maioria dos casos, é claro. Explicando melhor, hackers são as pessoas que se utilizam de um amplo conhecimento da máquina, para violar sistemas e quebrar normas de segurança, ou seja, atos maldosos. Atualmente é atribuída a definição “crackers” para as pessoas com esse tipo de atitude (violação de sistemas e programas alheios).


Na surdina, como quem não quer nada, eles violam a proteção de um determinado site na rede ou sistema de segurança de alguma empresa e a invadem, geralmente através da própria Internet. Algumas vezes por prazer, outras por mera auto-confirmação ou reconhecimento frente outros hackers, como quem diz: “Eu sou o melhor” ou “Eu consegui e você não”. Nesses casos, nem sempre o sistema invadido é prejudicado ou alterado, tendo em vista que o temido personagem quer apenas deixar sua marca e a prova de seu conhecimento na informática.

Só que nem sempre as coisas são tão ‘simples’ assim. Entre uma invasão ocorrida por falha de segurança interna ou por incompetência dos funcionários responsáveis pelo setor – o que é comum – o importante mesmo é o fato de arriscar anos de trabalho sério, pesquisas e dados confidenciais, a um estranho, que pode simplesmente apagar tudo ou fazer a maior bagunça, misturando-os. A depender da gravidade, o principal prejudicado pode ser um cliente, usuário ou prestador de serviços, que terá seus dados pessoais a deriva, como o número do cartão de crédito, por exemplo.

Atualmente, é imprescindível até mesmo para uma empresa de pequeno porte, manter backups (cópias de segurança) de seus principais dados, quando não de todo o sistema. No mínimo, backups semanais, quando não diários. Com backup ou sem backup, uma invasão desse porte gera problemas – e prejuízos – de qualquer jeito. E isso, além de alarmante no que se refere ao nível de segurança e/ou competência da empresa atacada e de seus funcionários, também pode causar danos financeiros a curto, curtíssimo prazo. Afinal de contas, seja cliente ou usuário, ninguém gosta de admitir que paga por serviços em uma loja ou empresa que exibe falhas sérias de segurança, a ponto de pôr em risco a veracidade de dados pessoais e financeiros a qualquer um. Este é um dos principais problemas, para ambos os lados (empresa e cliente).

Mesmo debaixo de tantas críticas e com tanta gente querendo ver a caveira desses personagens, não podemos – e não devemos – encará-los como os monstros ou bichos-papões da Internet. Ao contrário do que muitos pensam, os hackers podem ser a ferramenta de maior benefício para uma empresa que deseje prestar serviços de qualidade e, principalmente, com segurança.

Ter um sistema invadido facilmente, e geralmente por um adolescente imaturo, é sinal de que algo está errado, e muito errado. Para o usuário/cliente, pode ser o passo decisivo a indagar sobre a sanidade de estar pagando por um serviço deste tipo. Isso é um fato real e grave, que ninguém deve tentar omitir, e sim tomar atitudes e ter iniciativas, principalmente quando mexe em algo que muito tememos: nosso dinheiro. A nível de funcionário, o que conta é a reputação e uma imagem a zelar.

Pode ser difícil de admitir para a grande maioria, mas o hacker, seja ele um adulto diplomado ou alguém com espinhas, em plena puberdade, são dotados de amplo conhecimento da máquina em que trabalham e podem ser fortes aliados no sucesso e na imagem de uma empresa frente a seus clientes. Diferente de nós, “mortais” usuários e dependentes do Windows e suas bugigangas, eles sabem muito bem o que fazem, nos mínimos detalhes, efetuando um serviço em que geralmente não deixam rastros fáceis de encontrar na maioria das vezes — ao menos os mais experientes.

Não é à toa que nos EUA já é comum empresas preocupadas com sua imagem e segurança, contratarem hackers que trabalhem para ela, pesquisando, procurando falhas de segurança, e lógico, solucionando e adicionando novos módulos de proteção, em conjunto com ensinamentos e explicações aos funcionários, em como agir em cada caso. Com isso, uma simples loja ou uma grande corporação podem não estar completamente seguras, mas com certeza terão seus cuidados redobrados e estarão muito mais protegidas contra futuros ataques, até porque um “hacker bonzinho” foi o autor de seu sistema anti-invasores.