Doom: o clássico na tela grande

O mais clássico dos jogos de tiro para computador, Doom, finalmente ganhou uma adaptação cinematográfica. A estréia ocorreu na última sexta-feira nos cinemas americanos e deve chegar às telas nacionais em breve. Além de previsíveis sangue e tiroteio, vem um desafio ainda maior: conquistar um público híbrido, ou seja, os fãs antigos do game e aqueles atrás de apenas mais um bom filme de ação com uso de câmeras “nervosas”. É que a saga de filmes baseados em jogos (e vice-versa) até hoje nunca atendeu as expectativas. Se até Steven Spielberg anda assinando contrato com produtora de jogos eletrônicos para filmar, é bom ficar de olho no que vem por aí.

Paulo Rebêlo
Folha de Pernambuco – 26.out.2005

A produção de Doom nos cinemas foi acompanhada com afinco pelos fãs, inclusive, pela Folha Informática em duas matérias no primeiro semestre deste ano. Depois de seguidos fiascos dos jogos que viram filmes – Resident Evil, Double Dragon, Street Fighter… – a promessa dos diretores foi de realmente levar a emoção do jogo para as telas, transformando o público em espectador passivo de um game.

Dirigido por Andrzej Bartkowiak, Doom traz o exótico “The Rock” como personagem principal: o sargento que salva o mundo. Vale lembrar que o filme é baseado no terceiro título da série, o qual leva os atores a uma estação espacial em Marte onde coisas estranhas acontecem com os residentes. Uma equipe liderada por “The Rock” vai investigar e, ao chegar à estação, tem que encarar os colegas de trabalhos transformados em zumbis por uma força misteriosa.

O enredo comum entre filme e jogo também compartilha de objetivo igual: apenas uma desculpa para muitos tiros, sangues e, no caso específico de Doom, várias seqüências de tirar o fôlego. Os fãs podem conferir o trailer e vários vídeos independentes de Doom na Internet, o suficiente para notar que, diferentemente de outras investidas cinematográficas de jogos, Doom possui uma classificação adulta (a partir de 17 anos, nos EUA) e não corta as cenas mais fortes para poupar crianças e adolescentes.

Até agora, as críticas dos jornais americanos a Doom não têm sido das melhores, apesar de a maioria reconhecer nunca ter jogado o game. Uma das seqüências mais célebres e empolgantes é, justamente, quando a tela do cinema mostra apenas a arma em punho, enquanto o ator sai caminhando e atirando nos zumbis, em uma reprodução fidedigna (conferida por vídeos na Internet) do jogo.

Maioria dos filmes não deu certo

Durante o final de semana da estréia nos EUA, Doom arrecadou US$ 15,4 milhões. Pouco, quando comparado aos estimados US$ 80 milhões gastos na produção. Por outro lado, Doom pode se vangloriar de ter conquistado boa parte do público que gosta de filmes de ação, situação bem diferente de outras empreitadas.

A primeira grande investida de Hollywood na seara dos games foi em 1993, com Super Mario Bros. O encanador baixinho, redondo e bigodudo (!) já era uma febre nos consoles da Nintendo, mas colocou tudo a perder nos cinemas, não obstante o elenco do calibre de Bob Hoskins, John Leguizamo e Dennis Hopper. No ano seguinte, dois fiascos seguidos: Street Fighter e Mortal Kombat.

Muitos acreditam que a maioria dos filmes adaptados não deu certo por causa da redução de cenas violentas, ocorridas em quase todas as produções. Exemplo clássico foi Mortal Kombat, cujo game chegou a ser proibido em vários países de tão violento. Tentaram filmar seguindo a mesma lógica mas, durante a edição para os cinemas, cortaram quase tudo e a classificação etária foi fixada em 13 anos.

Microsoft, Spielberg… todo mundo quer

Mesmo com os fracassos de bilheteria, os investimentos nas adaptações só fazem crescer, movimentando um mercado bilionário envolvendo franquias de games e estúdios de cinema. E como em briga de cachorro grande vira-lata não mete o focinho, figurões como Steven Spielberg já estão no páreo.

Spielberg acaba de assinar um contrato com a Electronic Arts (EA) para ajudar no design, enredo e personagens de novos jogos da produtora. A empresa ainda não se pronuncia sobre os tipos de jogos que deverão ser desenvolvidos, mas o mercado espera uma mudança drástica. É que a EA é mundialmente conhecida – mas pouco lucrativa – com a franquia esportiva de Fifa, NHL e outros do gênero.

A Microsoft é outra gigante interessada nos dividendos dos games. Um dos jogos mais lucrativos de todos os tempos, Halo, também vai virar filme. Halo foi lançado para Xbox e PC, mas o maior sucesso, a continuação Halo 2, só chegou aos consoles. Peter Jackson, diretor da trilogia Senhor dos Anéis e atualmente dirigindo o remake de King Kong, já foi escolhido para ser produtor-executivo do filme Halo.

Dungeon Siege, outro sucesso para PC da Microsoft, também chega aos cinemas em 2006 e já foi todo filmado. Conta com Jason Statham (de “Carga Explosiva”, atualmente nos cinemas) no papel principal, além de Ray Liotta, Leelee Sobieski e Burt Reynolds.