Dois ministros, gestores e empresários no fórum

Comandatuba // Encontro mobilizou parcela importante do PIB brasileiro

Paulo Rebêlo
Diario de Pernambuco – 21.abril.2008

Comandatuba (BA) – Dois ministros, nove governadores, 320 empresários e outros tantos parlamentares passaram sábado confinados em auditório para debater os rumos de uma educação pública de qualidade no Brasil. Reunidos no 7º Fórum Empresarial nesta ilha baiana, todos deram um tempo nas atividades do luxuoso resort Transamérica para participar do evento, organizado pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), presidido pelo empresário João Dória Jr. Com razão, Dória não cansou de frisar que quase metade do PIB brasileiro estava reunido no resort.


Presidentes e representantes das principais multinacionais e empresas brasileiras puderam mostrar um pouco do poder do fogo ainda pela manhã, quando João Dória interrompe a mesa de debates para dar início às “doações voluntárias” dos presentes, as quais são repassadas para o Instituto Ayrton Senna, presidido pela irmã do piloto, Viviane Senna. Foi a única que proferiu uma palestra sem tom político, ao falar sobre as parcerias do institutocom governos regionais, principalmente os de Pernambuco e Paraíba, cujos governadores estiverem presentes e apareceram em um vídeo institucional promovendo o desenvolvimento da educação por meio da parceria.

As doações convocadas pelo Fórum Empresarial têm cota mínima de R$ 5 mil por mês, totalizando R$ 60 mil ao ano. Quase como um leilão, quem quisesse (e pudesse) se levantava e doava ainda mais. As doações maiores variaram de R$ 120 mil a R$ 500 mil para os programas da ONG de Viviane Senna. Ao final do dia, foram arrecadados (verbalmente) nada menos do que R$ 5,5 milhões, além de automóveis, publicidade gratuita em televisão e até mesmo um show da cantora baiana Daniela Mercury, que não parava de fazer anotações durante as palestras. “Estou montando uma fundação na Bahia, preciso aprender”, explicou-se, querendo contribuir.

A maioria dos empresários e parte dos políticos ficaram hospedados no resort, com 50 mil metros quadrados e onde há o maior aeroporto particular do país. Segundo informações de funcionários, a diária mais barata (econômica) não sai por menos de R$ 800, mas dependendo da época do ano e da acomodação, pode ultrapassar R$ 6 mil por dia.

Muita boa vontade, mas poucas metas

Com tantos políticos presentes, não chegou a surpreender o discurso de praxe de parlamentares e governadores ao falarem de seus respectivos estados e como estão melhorando os indicadores educacionais. O tom só foi quebrado, uma única vez, quando o presidente do Ponto Frio, Manoel Amorim, pediu a palavra e destilou uma série de reclamações contra os políticos em geral e a máquina pública. Amorim comentou sobre a burocracia, a má gestão pública de recursos, a corrupção e interesses particulares de políticos que, muitas vezes, se sobressaem ao interesse coletivo.

O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), respondeu às críticas rechaçando as insinuações e disse falar em nome de todos os políticos brasileiros que trabalham para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Em seguida, o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), comentou sobre o avanço da educação pública em seu estado, mas aproveitou para classificar como uma “grosseria” o comentário do presidente da Ponto Frio. Cássio chegou a dizer que as dificuldades da vida pública são tão grandes que, hoje, ele até pensa em “abandonar a política”.

E para falar de agenda, o principal debatedor do fórum foi mesmo o ministro da Educação, Fernando Haddad, que não esqueceu de frisar “como o governo Lula tem feito mais pela educação pública do que todos os outros presidentes brasileiros reunidos”. A promessa de Haddad, cujas cobranças do empresariado deram o tom do evento, foi a de estabelecer metas mais objetivas na educação e disponibilizar a informação de forma mais transparente, para que toda a sociedade saiba quais são elas e como estão sendo realizadas. “Pela primeira vez temos metas de qualidade para garantir o acesso à educação pública de qualidade”, disse, ao comentar sobre o Plano Nacional de Desenvolvimento da Educação. O objetivo é colocar o Brasil entre os 30 países com melhor nível educacional até o ano de 2022.

CPI – O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), arrancou risos e também aplausos ao propor a abertura de uma CPI da Educação. “Temosque promover aquilo que está dando certo, mas também descobrir quem impede o avanço da educação de qualidade no Brasil, procurar os réus da educação”, discursou. Já o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), discorreu em números e estatísticas sobre a baixa qualidade de ensino no Brasil durante sua apresentação, mas no intervalo não conseguiu fugir do assunto do momento: o aumento da verba de gabinete para os deputados, autorizada por ele.