Candidatos ainda não usam internet nas eleições

Eleições // Levantamento do Diario mostra pequeno uso das novas mídias na campanha

Paulo Rebêlo
Diario de Pernambuco – 22.junho.2008

Como os pré-candidatos à Prefeitura do Recife usam a internet nas campanhas? Um levantamento realizado pelo Diario de Pernambuco confirma o cenário padrão descrito por cientistas políticos e profissionais de marketing: falta muito para que os novos meios de comunicação façam parte do cotidiano político em Pernambuco. A pesquisa de incidência média na internet dos atuais cinco pré-candidatos – Mendonça Filho (DEM), João da Costa (PT), Cadoca (PSC), Raul Henry (PMDB) e Edílson Silva (Psol) – além de Luciano Siqueira (PCdoB) e Raul Jungmann (PPS), hoje fora do páreo, tem dados curiosos.


Os resultados revelam a freqüência de citações do nome de cada pré-candidato, sempre em vinculação ao termo ‘Recife’. Pelos gráficos, é possível comparar o crescimento online das citações em períodos determinados: nos últimos três, seis ou doze meses, além do total geral sem data determinada. João da Costa tem disparado o maior número de referências na internet, embora conte com a maior margem deerro e seja o que menos use a tecnologia na campanha.

No entanto, pela aferição online, o petista tornou-se mais popular durante os últimos meses, visto que a relevância do seu nome entre os seis a doze meses anteriores apresenta uma diferença acima da média ao comparar com o resultado global. Vale realçar a contribuição da super-secretaria de João da Costa nos últimos sete anos, quando pelo menos 80% das obras e serviços realizados no Recife passaram pela sua pasta, além das intervenções a partir do orçamento participativo.

Mendonça Filho, segundo colocado em números absolutos e em períodos determinados, conta com o recall de sua campanha ao governo estadual em 2006 e, ainda, o período como vice-governador na gestão Jarbas Vasconcelos. Todos os outros pré-candidatos se embolam na disputa pela quarta colocação, já que Luciano Siqueira mantém regularidade no terceiro lugar, como vice-prefeito do Recife nestes sete anos.

Ao menos na internet, os deputados federais Raul Jungmann e Raul Henry caminham juntos napopularidade, mas o pós-comunista perde no resultado geral com a vinculação ao Recife. A principal curiosidade fica com Cadoca, penúltimo lugar no período de 12 meses, mas à frente de Jungmann e Henry no balanço geral. A popularidade vinculada ao termo “Recife” do socialista-cristão cresceu nos últimos meses. O candidato do Psol, Edilson Silva, além de não ter nenhuma comunidade de simpatizantes no Orkut, possui os números mais tímidos da pesquisa, porém, apresenta o maior crescimento relativo – exatamente o oposto de João da Costa, cuja diferença manteve-se regular e com pouca mudança entre os últimos 12 meses e o total geral.

Ao comparar os últimos três a doze meses, a diferença é percentualmente insignificante entre Luciano Siqueira, Cadoca e Raul Jungmann. É interessante frisar outro fator decisivo ao lidar com os termos de incidência para Siqueira: é o único com um blog ativo, sempre atualizado, em constante diálogo com leitores e internautas por meio de artigos e comentários.

Metodologia simula posição do eleitor

A partir da pesquisa feita pelo Diario, é possível saber quão popular é a vinculação do termo “Recife” com o nome de cada pré-candidato, por meio de referências em jornais, revistas, blogs, fóruns de discussão e documentos oficiais filtrados pelos mecanismos de busca na internet. A participação no Orkut responde por um levantamento à parte – leia mais na página A3. A proposta é simular o comportamento de um cidadão comum, com acesso à internet em casa ou no trabalho, interessado em saber mais sobre o pré-candidato ou em procurar notícias publicadas sobre ele.

A margem de erro é pequena para a maior parte dos candidatos, mas apresenta duas variáveis relevantes. A primeira ocorre pelo fato de contar com três pré-candidatos deputados federais e, por conseguinte, com atuações políticas que ultrapassam as fronteiras de Pernambuco na imprensa. A segunda se refere à percepção que o cidadão tem sobre o candidato e seu nome. Para Mendonça Filho, foi acrescentado aos resultados o termo ‘Mendoncinha’. No caso de Cadoca, o nome completo ‘Carlos Eduardo Cadoca’ também foi adotado. Para Raul Jungmann, o Diario também utilizou as alternativas ‘Jungman’ e ‘Jugmann’ no sobrenome do pós-socialista.

Orkut, território ainda pouco explorado

Enquanto a incidência do nome de João de Costa (PT) é substancialmente maior do que os concorrentes em referências na internet (leia na página A2), o mesmo não se pode dizer de sua participação no Orkut. A principal e mais adotada rede de relacionamentos no Brasil possui apenas cinco comunidades voltadas ao petista, número bem inferior aos populares Mendonça Filho (14), Cadoca (11) e Raul Henry (9). E mesmo dentro das comunidades para João da Costa, a quantidade de participantes, entre ativos e inativos, também é bastante inferior se comparada aos concorrentes, incluindo na “Eu não voto em João da Costa”, com cerca de 25 membros.

Mendonça Filho não apenas possui mais comunidades, como também consegue reunir o maior número total de participantes ao somar todos os grupos de discussão. Em uma única comunidade, o democrata tem quase a mesma quantidade de membros (760) do que as duas principais comunidades de Cadoca, o segundo lugar no ranking do Orkut. Por outro lado, é Cadoca quem apresenta as comunidades mais curiosas, como a “Tenho medo do sorriso de Cadoca”. Mendonça Filho também suas comunidades negativas, como a “Mendoncinha? Tô fora”, com mais de 60 pessoas.

Destaque para Raul Henry, impopular na pesquisa de incidências do seu nome na internet, mas com um público fiel e bastante ativo no Orkut. São nove comunidades e nenhuma delas com propósito negativo. Outro destaque é para o comunista Luciano Siqueira, pois, apesar de possuir uma comunidade a menos do que o “aliado” João da Costa, conta com quase o triplo de participantes entusiasmados pela sua figura política e sem grupos negativos.

Embora tenha somente uma comunidade, Raul Jungmann tem um número fiel de membros, até maior do que o petista João da Costa. Edilson Silva, do Psol, não apresenta sequer uma comunidade de simpatizantes. A comunidade regional do partido tem cerca de 140 pessoas cadastradas.

Apesar de o investimento publicitário na internet brasileira ter duplicado nos últimos 12 meses, a participação dos políticos se mantém incipiente. Em geral, a presença do candidato restringe-se a um site oficial, com notícias específicas sobre sua atuação como parlamentar ou opiniões. Quase não há incentivo para que o eleitor participe mais ativamente da campanha. Pela legislação eleitoral, a propaganda política é liberada só nos sites oficiais. Ou seja, em tese, há um amplo leque de possibilidades não explorado pelos que concorrem a uma vaga no Executivo ou Legislativo.

Para o professor de Gestão de Marketing da Trevisan Escola de Negócios, Joaquim Ferreira Sobrinho, embora o uso da internet pelos candidatos seja tímido, a tendência é haver um crescimento a partir destas eleições. “É uma escala progressiva, pois a mídia tem tudo para ser explorada e os números atuais do investimento publicitário comprova isso”, garante. O cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundaj, também credita o pouco uso da internet ao aspecto cultural. “Nos EUA, a mobilização é bem maior por natureza e uma necessidade, até porque o voto não é obrigatório”, pontua. Ele reforça que o Recife ainda é a “periferia da periferia” em termos globais, com defasagem considerável sobre o uso da internet. “Não creio que, hoje, uma participação maior dos candidatos no mundo virtual pudesse aumentar o interesse dos jovens, por exemplo”.

Decisões vão ser regionais

A falta de regulamentação da internet foi abordada em detalhes pelo Diario na edição do último domingo. De acordo com a resolução mais recente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), caberá às instâncias regionais decidir o que pode ser considerado propaganda fora de época ou ilegal nas campanhas. O parecer dos ministros do TSE dificultou o entendimento sobre até onde uma publicidade online pode ser permitida.

O TSE se omitiu de definir regras ou estipular limites, restando ao julgamento de cada juiz local. A advogada Ana Amélia Ferreira, por exemplo, questiona o que acontecerá a partir de julho, com o início da propaganda regulamentada nos meios de comunicação. “Quantas comunidades do Orkut serão retiradas?”, questionada.

Oficialmente, as comunidades do Orkut não são feitas a mando dos candidatos, mas, sim, pelos eleitores mais ativos ou entusiasmados. No entanto, caso os políticos dessem mais atenção às possibilidades abertas pela Internet, poderiam facilmente usar os recursos a seu favor – tanto para aumentar a base de eleitores de uma classe social mais elevada, como, também, para procurar saber ou entender como pensam seus seguidores ou seguidores dos adversários na disputa.

Participação no Orkut

Mendonça Filho
14 comunidades
– Mendonça Filho: 760 membros
– Mendonça Filho Democratas : 730 membros

Cadoca
11 comunidades
– Juventude Cadoca: 450 membros
– Cadoca Prefeito 2008: 300 membros

Raul Henry
9 comunidades
– Dep. Federal Raul Henry: 300 membros
– Juventude Raul Henry: 100 membros

João da Costa
5 comunidades
– Prefeito João da Costa 2008 : 100 membros
– Eu voto João da Costa prefeito: 50 membros

Luciano Siqueira
4 comunidades
– Votei Luciano Siqueira Senador : 420 membros
– Luciano Siqueira PCdoB Recife : 50 membros

Raul Jungmann
1 comunidade
– Raul Jungmann Prefeito 2008 : 150 membros

Edílson Silva
Não tem comunidade
– PSOL Pernambuco : 139 membros

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