Bucareste é sitiada por propagandas gigantescas, trânsito caótico e construções por toda a parte. Considerada o elefante branco da Romênia, a capital possui os mais baixos níveis de desemprego do país, contrastando com outras capitais do Leste Europeu como Praga, Bratislava e Budapeste.
Paulo Rebêlo, de Bucareste (email)
versão estendida da subretranca publicada ontem (aqui) na Folha de S. Paulo – 29.abr.2007
As semelhanças entre Romênia e Brasil são muitas, a começar pelo idioma que possui palavras praticamente idênticas, passando pela herança latina de simpatia e hospitalidade, e chegando às mazelas políticas de corrupção, subornos, obras inacabadas e agora um impeachment de presidente eleito no currículo deste país de 22 milhões de habitantes, quase a população da região metropolitana de São Paulo.
No entanto, Bucareste é diferente do resto da Romênia. Abertamente rejeitada e quase odiada pela maioria dos romenos, que a consideram uma cidade caótica e a população local arrogante e trambiqueira, a capital é um destino insólito para turistas. Quase não há atrativos e a marca registrada são os gigantes outdoors, billboards e propagandas espalhadas por todos os lugares. Diferentemente de outras capitais do Leste Europeu – e da própria Romênia – em Bucareste ninguém parece seguir as leis de preservação. Muitos dos edifícios históricos são tomados por publicidades imensas de multinacionais e grandes empresas locais.
O trunfo desta cidade de 2 milhões de habitantes está na economia formal, a menina-dos-olhos do governo romeno (e das embaixadas pela Europa) e principal arma de barganha com a União Européia. O nível de desemprego em Bucareste é quase inexistente, alternando entre 1% a 2% na população economicamente ativa. Em setores como tecnologia, por exemplo, o desemprego é inferior a 1%. Um marco invejado por todas as outras capitais do Leste Europeu e pela própria Romênia, cujo resto do território enfrenta uma taxa de desemprego similar ao Brasil, entre 7% e 9%.
Não à toa, é difícil encontrar mendigos ou catadores-de-lixos nas ruas de Bucareste, apesar de a cidade ostentar um aspecto caótico, um trânsito visivelmente sem regras e, não dificilmente, discussões e brigas no meio da rua. O que é um verdadeiro contraste com capitais consideradas “ricas”, como Budapeste (Hungria) e Praga (Rep. Tcheca) – onde os turistas se espantam com a quantidade de mendigos dormindo ao léu e pessoas catando lixo em plena luz do dia, inclusive nos principais pontos turísticos dessas cidades. (PR)