Apoio político é tudo na terra de Lula

CAETÉS // Primo do presidente, José Moura de Melo, fortalece a oposição no município

Paulo Rebêlo
Diario de Pernambuco
24.agosto.2008
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CAETÉS, PE — Famosa por ser a terra natal do presidente Lula e pela pobreza traduzida com o penúltimo lugar no ranking estadual do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) das Nações Unidas, este município a 252 quilômetros do Recife consegue ser ainda mais inusitado nesta campanha eleitoral. Apesar de toda a máquina dos governos estadual e federal em apoio a Sampainho (José Luiz de Sá), é o candidato da oposição Lindolfo Almeida (PSDB) que conta com o apoio explícito de um dos primos mais conhecidos do presidente da República, José Moura de Melo.

Ele é primo de 2º grau de Lula. Sua mãe, Lourdes Ferreira, é prima legítima do presidente. José Moura ficou famoso na região por conta da proximidade com o parente ilustre, principalmente durante as visitas de Lula a Garanhuns e Caetés. E reluta em apoiar Sampainho, 28 anos, filho do ex-prefeito Zé da Luz (José Luiz Sampaio). Ambos do PSB.

Sampainho foi vice-prefeito do pai por dois mandatos consecutivos (2000-2008), numa dobradinha que teve fim no primeiro semestre, com o lançamento de Zé da Luz para a prefeitura de Garanhuns, a 18 km de Caetés. Desta vez, a família enfrenta uma oposição extra: Ednaldo Pulsa (PMDB) rompeu politicamente com Lindolfo após a eleição de 2004 e saiu candidato contra o grupo de Zé da Luz. Embora adversários no certame, Lindolfo e Ednaldo prometem quebrar a hegemonia e o apoio formal do governador Eduardo Campos (PSB) e da vinculação à imagem de Lula e de Eduardo Campos.

Moura, o primo famoso, respira política dia e noite – mas prefere manter-se longe do voto. “Fui candidato a vereador uma única vez, em 1996 por Garanhuns, porque o Lula me pediu pessoalmente. Tem que ter muito dinheiro, eu prefiro apoiar e participar da campanha dos candidatos que acredito. Subo mesmo no palanque, faço comício”, diz. O ressentimento com Zé da Luz é nítido. “De todos os candidatos, ele foi quem mais eu ajudei e quem mais me traiu”. Eles romperam a relação política em 2002.

Apoio – Caminhoneiro por 15 anos e hoje envolvido com construção civil, Moura garante perder dinheiro quando decide ajudar na campanha de algum candidato. Separado da mulher, mora em um sítio a 15 km do centro de Garanhuns, onde guarda várias fotografias e recortes de jornal junto ao presidente. Questionado sobre o poder da imagem de Lula em Caetés, é enfático: “o povo vota no candidato, não no partido ou em quem dá apoio. O vínculo com Eduardo Campos e Lula não vai trazer mais votos para Sampainho. A maioria da família de Lula nem mora mais em Caetés, só uns primos distantes que nunca nem viram o presidente na vida”, releva.

O jovem Sampainho não acredita no poder de persuasão de Moura na campanha de Lindolfo. “Há outros familiares de Lula que também nos apóiam, isso é besteira. Muita gente saiu do nosso governo e agora diz que não somos boas pessoas, claro, porque foram para a oposição. Mas antes falavam maravilhas de nós, como é isso?”, retruca.

Moura credita sua “independência” política pelos apoios que concede.”Na campanha para governador em 2006, recusei-me a apoiar Humberto Costa. Ele não é preparado para um cargo majoritário, não apoiaria nem para prefeito”, dispara, sem querer comentar sobre as eleições municipais no Recife.

Ontem aliados e hoje rivais

Os rompimentos políticos em Caetés são dos mais diversos. O vice de Lindolfo Almeida (PSDB), Lucivalter Santana “Galego” (PR), era secretário de agricultura na prefeitura até abril. Saiu do governo para integrar a chapa de Lindolfo, acusando o ex-prefeito de querer “impor o nome de sua preferência para ser candidato”. Para Lindolfo, “Zé da Luz fez que nem João Paulo no Recife, empurrou o candidato dele passando por cima de todo mundo, não foi um processo democrático, ouvindo as bases”.

Quem vê os três candidatos à prefeitura de Caetés, soltando farpas entre si, deve voltar um pouco no tempo e entender como todos já foram aliados de unha e carne. Ednaldo Pulsa (PMDB) perdeu as eleições de 2000 e 2004 contra Zé da Luz (PSB), mas apoiou o hoje adversário na campanha de 1992 e também o próprio Lindolfo Almeida. No ano seguinte, rompeu politicamente com Zé da Luz.

Lindolfo, que migrou do PPS para o PSDB, já foi prefeito de Caetés eleito em 1996 com apoio de Zé da Luz e ajudou em sua campanha vitoriosa em 2000. “Ninguém pode crescer mais do que ele, quem não se curvar é descartado”, alfineta. Procurado pelo Diario, Zé da Luz não foi localizado, apenas seu filho, Sampainho, vice-prefeito e atual candidato da situação.

Enquanto o tempo e as futricas políticas passam, Caetés continua submersa na pobreza e na ausência de desenvolvimento na zona rural. No Índice da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Caetés aparece como antepenúltima cidade menos desenvolvida de Pernambuco, na frente apenas de Saloá e Manari.

Figurões dos partidos longe de Caetés

Nenhum dos três candidatos – Sampainho, Lindolfo Almeida e Ednaldo Pulsa – espera pela presença de figurões de seus partidos durante a reta final de campanha. No caso de Sampainho, o maior apoio presencial parte da deputada federal Ana Arraes (PSB), mãe do governador Eduardo Campos. Os demais contam com o sentimento de que a política no interior é decidida individualmente.

Prova desta certeza parte de Edson Olímpio (PSB), pela primeira vez candidato a vereador na chapa de Sampainho. Envolvido com política e liderança comunitária desde 1993, diz que o governador ainda não veio a Caetés, mas prometeu. “A imagem de Eduardo e Lula é forte, claro que a gente conta com a presença do governador no palanque”, deixa o recado.

Ednaldo Pulsa (PMDB) sequer sonha com a presença do senador Jarbas Vasconcelos. Ele está na disputa pelo PMDB com apoio do PRP e do PV. A coligação de Lindolfo conta com o PSDB, PR e PTdoB. Galego, vice de Lindolfo, migrou do PSB para fundar o PR em Caetés em 2007, graças ao deputado federal Inocêncio Oliveira.