Paulo Rebêlo
Observatório da Imprensa | 20.março.2012 | link
A moda do momento, entre editores e diretores de jornal, parece ser o paywall. Promovido sobretudo por jornais americanos e ingleses, trata-se de um método para cobrar pelo conteúdo do jornal impresso oferecido na internet. O recurso permite a leitura de uma quantidade limitada de matérias por dia. Ultrapassado o limite, o usuário é convidado a fazer uma assinatura digital ou híbrida, que inclui o recebimento do impresso.
Cabe ao jornal decidir como proceder. Por ser tecnicamente muito simples, o paywall trabalha com a noção de permissões por página. Pode ser personalizado a gosto do freguês, abrindo um leque de oportunidades para promoções e direcionamento de conteúdo e reportagens – do ponto de vista comercial ou de interesse público. Como usar e oferecer o paywall é justamente o que diferencia atualmente os jornais que o adotam. Não faz milagres em termos de receita, mas tem mostrado resultados bem interessantes. Além de ser uma alternativa viável aos veículos de comunicação que ainda insistem no clichê pouco inteligente de fechar totalmente o conteúdo do jornal impresso.
A adoção do paywall é uma discussão movida, em grande parte, pela autopromoção de veículos como The New York Times e The Washington Post. O NYT divulga, de tempos em tempos, os resultados financeiros obtidos exclusivamente a partir do paywall. Foram vários modelos testados até o momento. Inclusive, vale lembrar que foi ainda em 1997 que o Wall Street Journal testou, pela primeira vez, um sistema de paywall. Só não havia o nome pomposo de agora.
Anunciante compra uma ideia defunta –
A questão maior, porém, é que editores brasileiros parecem esquecer que foram eles mesmos que cancelaram, gradativamente, todas as tentativas e experimentações de usar um paywall por aqui. E quase sempre a partir de decisões cuja fundamentação podemos resumir em apenas duas razões: pressão do departamento comercial e total falta de qualificação em termos de internet. Dois exemplos interessantes: O Globo e O Estado de S.Paulo. Durante um bom tempo, foram os dois jornais de circulação nacional com o melhor sistema de paywall à brasileira. Hoje, infelizmente, seguem o mesmo modelo de empurrar goela abaixo uma assinatura obrigatória para ler um jornal em versão “digital” que tenta simular o papel na tela do computador e faz da leitura uma tarefa hercúlea, lenta e cansativa.
Tem coisa pior. Há jornais estaduais que cobram pela assinatura digital o mesmo valor ou até mais caro do que uma assinatura do UOL, pela qual é possível ler a Folha de S.Paulo todos os dias e uma série de reportagens traduzidas de dezenas de revistas e jornais estrangeiros da mais alta qualidade. O que será que vale mais? A Folha e as revistas estrangeiras não vão cobrir, evidentemente, o que está ocorrendo na sua cidade nem a política local. Mas os fatos e acontecimentos diários, isso você encontra na internet… de graça. Resta ao jornal impresso o que há de melhor nesse produto: análises e grandes reportagens.
Só os iluminados parecem saber explicar como uma empresa investe tanto dinheiro em reportagem (e todos os fatores e variáveis de custo envolvidos) para que quase ninguém leia o resultado de tanto esforço. E o anunciante ainda compra (literalmente) essa ideia defunta.
Sem rumo –
O paywall adotado pelo New York Times, talvez o mais badalado e popular atualmente, difere muito pouco do sistema adotado pelo Estadão anos atrás. Ao navegar pelo índice do Estadão, várias matérias podiam ser lidas gratuitamente. Os textos sem link eram exclusivos para assinantes. Funcionava muito bem, embora o Estadão fosse muito conservador na escolha das reportagens liberadas. As melhores e mais importantes costumavam ser exclusivas para assinantes. O Globo, por sua vez, tinha um modelo mais interessante. Ao fazer um cadastro simples com e-mail e senha, você podia ler gratuitamente a edição do dia. Para ter acesso às edições anteriores ou fazer pesquisas, só com assinatura.
Hoje, quase todos os jornais e revistas de grande circulação seguem o mesmo modelo de fechar todo o conteúdo do impresso. Como resposta às críticas sobre a cobrança, também adotam um discurso homogêneo: dizem que boa parte das matérias podem ser lidas no site do jornal, na seção de notícias de cada editoria. O problema é que a usabilidade dos sites de jornais costuma ser tão ruim que, em geral, você nunca sabe quando está lendo uma matéria que saiu no jornal impresso do dia ou apenas no online. É um verdadeiro samba.
Com as últimas “inovações” em curso nos sites de jornais brasileiros, chegamos a uma situação no mínimo curiosa: você roda, roda e roda, mas não consegue encontrar onde está o jornal impresso. Mesmo quando é assinante.