O efeito Barack Obama no marketing político: eleições 2010

Na entrevista abaixo, estão minhas respostas sobre toda a celeuma em relação ao uso da internet, mídias sociais e novas tecnologias nas eleições de 2010 no Brasil. Junto a mim, responde também o publicitário André Telles. A entrevista faz parte de um trabalho de faculdade da estudante Ariane Fonseca.

 

1) Como a campanha eleitoral de Barack Obama está influenciando as eleições presidenciais brasileiras esse ano?
Paulo Rebêlo – A noção sobre a influência do Obama é bastante exagerada. Na verdade, virou um clichê e um pouco de grife. No Brasil, não dá certo por uma infinidade de fatores que vão muito além da exclusão digital. A influência é apenas para quem trabalha com política ou acompanha o assunto muito de perto e, mesmo assim, é apenas uma influência referencial porque a gente sabe que não há como replicar o modelo por aqui. A televisão e o rádio continuam sendo as maiores e mais efetivas ferramentas de campanha no Brasil. E vão continuar por muito tempo ainda, infelizmente.

André Telles – Acredito que o estudo que vem sendo feito da campanha de Obama será a base para muitas das estratégias aplicadas aqui no Brasil. Claro que se adequando à nossa realidade e respeitando as singularidades do povo, já que a cultura americana é bem diferente da nossa.

2) Nos Estados Unidos, o acesso a internet é maior que no Brasil, sem contar que a aderência às redes sociais no país do Tio Sam é mais evidente que aqui. Tendo em vista este contexto, o modelo americano se adequa ao Brasil?

Rebêlo – Não se adequa. São duas realidades completamente diferentes e só não enxerga isso quem não quer. E muita gente não quer enxergar por interesses financeiros, muitos candidatos se deixam levar pelo ‘papo Obama’ sem saber do que se trata e sem saber que quem oferece, quase sempre, também não faz a menor ideia do que está falando. Vários marqueteiros estão vendendo um produto que não podem entregar. Para começar, o voto nos EUA é opcional. Uma das lutas primordiais do Obama, na internet, foi gerar mobilização para que as pessoas saíssem de casa para votar. E para votar em algo diferente. O diferente era ele. No Brasil, além de o voto ser obrigatório, não temos nada de diferente – nem de candidatos, nem de propostas. O voto de opinião no Brasil é muito restrito. Ainda temos um amplo leque do voto de cabresto, voto de torcida (quando você não quer votar em quem está atrás nas pesquisas) e votos cruzados. Tudo isso já foi mostrado e provado por vários estudos empíricos e qualitativos. Por isso apostam todas as fichas em marqueteiros, que vão moldar a imagem do candidato e os programas na TV.

Telles – Apesar das divergências existentes em cada contexto, o modelo americano se adequa, sim, ao brasileiro. Acredito que apesar das diferenças culturais e socioeconômicas, o Brasil está perfeitamente apto para suportar uma campanha presidencial nas redes sociais. Uma prova disso é que antes mesmos das eleições, presenciamos algumas mobilizações feitas pela internet e que tiveram um ótimo resultado, a exemplo cito a “ficha limpa”, que foi uma grande mobilização por assinaturas a fim de viabilizar tal lei. O mesmo pode ser feito nas eleições.

3) A campanha eleitoral pela web pode ajudar os jovens a se interessar mais por política, já que eles são grandes adeptos das novas tecnologias?
Rebêlo – Veja bem, não são apenas os jovens que não se interessam por política nos dias de hoje. Há inúmeras pesquisas que revelam o senso comum: ninguém quer saber de política. Há uma falta de confiança generalizada. E com razão. Você vai ver professores, profissionais, muita gente inteligente que não quer saber de política nem de longe. A campanha eleitoral na web poderia trazer parte dessas pessoas para o debate se houvesse de fato propostas novas, uma nova abordagem do ponto de vista político. Temos uma novidade de um lado, mas do outro continuamos com uma abordagem e um jeito de fazer política ainda ultrapassado, eleitoreiro.

Telles – Sabemos que investir na campanha web é o primeiro passo, mas para ter o sucesso que desejamos e fazer com que os jovens se interessem, é preciso mais. Os candidatos tem que criar relacionamento, mostrar que estão abertos a ouvir o que seus futuros eleitores almejam. Foi isso que a equipe Obama fez para a sua campanha funcionar tão bem. Os EUA estavam pedindo mudança há muito tempo, não estavam sendo ouvidos pela então atual presidência, o Obama chegou dizendo que ele também queria mudança e para isso ia trabalhar junto com eles. Já aqui no Brasil temos mais problemas, não é só levar o jovem a urna, o fazer pensar. Mostrar a eles que além do político estar na rede mostrando sua campanha ele também está ouvindo e mostrando que eles não serão esquecidos depois que o mesmo estiver eleito.

4) Qual ferramenta da internet vai se destacar nesta campanha eleitoral? Por quê?
Rebêlo – O Twitter tem um papel interessante, porém não fundamental. É o recurso da moda, mas não politicamente. Há quatro anos, era o Orkut. Hoje é o Twitter. A política está apenas surfando na onda, é normal. Empresas fazem o mesmo. Acredito muito na eficácia dos sites oficiais dos candidatos. É uma oportunidade que eles têm de mostrar algo novo, abrir um canal de debates e interatividade com vários perfis de eleitores. O Twitter é apenas um adicional, enquanto o site oficial pode se tornar (se for bem planejado e alimentado) uma referência universal até o fim da campanha.

Telles – Os microblogs, mais especificamente, o Twitter. A ferramenta já se mostrou de extrema importância para qualquer pessoa, independente de qual seja o objetivo dela na web. Por seu imediatismo e transparência (o conteúdo é visível para todos), a ferramenta será muito utilizada para os candidatos que desejam estreitar relacionamento com seu eleitor e para transmitir em tempo real o que vem fazendo durante à campanha.

5) Quais são os pontos positivos e os pontos negativos, que já puderam ser notados, da campanha eleitoral dos presidenciáveis na rede?
Rebêlo – Ponto positivo é o investimento (embora nem sempre planejado) nas novas mídias, a tentativa (apesar de tímida) de fazer algo novo e a oportunidade de pessoas alheias ao processo participarem dos debates, reclamar e até xingar o candidato pelo Twitter. O ponto negativo é usar o mesmo jeito de fazer política mascarado de vanguarda. Maior exemplo são os candidatos que têm contas nas mídias sociais, mas não usam – é a assessoria que atualiza e censura as críticas, por exemplo.

Telles – Os pontos positivos e negativos vêm andando juntos nas ações executadas até então. Enquanto uns vem trabalhando de forma clara, fazendo questão de serem eles mesmos na rede, outros se encobertam, utilizando de suas assessorias para manter a imagem do “personagem intocável”; uma prova disso é a falta de interação com seu eleitorado, seja não respondendo as mensagens ou proibindo a postagem de comentários em seus blogs.

6) Pela característica de dar voz a minoria, a internet pode ser uma aliada ou uma ameaça aos candidatos? Por quê?
Rebêlo – Pode ser uma coisa ou outra, depende como o candidato usufrui do recurso. Mas aqui voltamos à primeira pergunta: até onde a internet influencia no voto? Na prática, influencia bem pouco. Mas pode trazer mais gente para o debate e mostrar um lado do candidato que as pessoas não conhecem. E esse lado “novo” pode ser bom ou ruim, depende de como for planejado e, consequentemente, apresentado ao eleitor.

Telles – Depende. Antes de responder essa pergunta, quero ressaltar que não existe publicidade que resolva o problema de um produto ruim, ou seja, se o primeiro P(produto) do chamado mix de marketing não for bom, o último P(promoção) não o fará. Analisando nesse ponto de vista, por uma questão já cultural, sabemos que os candidatos brasileiros não são produtos bem vistos pelo o povo, por diversos motivos. Sendo assim, dar a voz para a minoria no ambiente web pode ser prejudicial sim, como também, pode não ser. Tudo vai depender muito do candidato e de sua assessoria – maquiadores do produto.

7) Redes Sociais podem ajudar os candidatos a coletarem propostas de políticas públicas?
Rebêlo – Até pelo caráter imediatista do Twitter, é impossível coletar conteúdo relevante pela ferramenta. É ótimo para interatividade, para analisar qual é o assunto quente do dia, a reação das pessoas sobre um tópico. Também é ótimo para mostrar ao eleitor que ele “faz parte” de algo. No quesito propostas, contudo, os sites oficiais ou redes colaborativas ainda são melhores para você contribuir com uma campanha ou o candidato se mostrar aberto a esse tipo de contribuição externa do cidadão comum. Pelo Twitter, por ser imediatista, o candidato pode incentivar as pessoas a participar, a conhecer essas redes, a enviar propostas, sugestões.

Telles – Sem dúvida. Uma das características das redes sociais é justamente a colaboração. Acredito que o candidato que fizer questão de saber a opinião dos seus seguidores quanto à adoção de políticas públicas colaborativas, terão um grande prestígio perante o povo. Seria o máximo! Uma política pública pelo povo e para o povo, assim como é na mídia social.

8) Será que haverá interesse real dos candidatos em utilizar tais propostas, ou a ferramenta tende apenas a ser mais uma no processo de manipulação da massa?
Rebêlo– Aqui temos uma questão bem mais complexa. Não se trata de o candidato se interessar ou não, mas de toda a rede de profissionais e coordenadores por trás de uma campanha política, de um mandato, seja de vereador ou presidente. Via de regra, a elaboração de propostas é validada por uma equipe enorme de profissionais ligados ao candidato e outros profissionais ligados a outros, uma rede bastante extensa. A dificuldade não é “usar” ou “não usar” as propostas do eleitor, mas a de colocar em prática qualquer proposta apresentada. Pelo eleitor ou não. São as velhas promessas de campanha, que a gente tanto conhece.

Telles – Tudo dependerá do candidato. Se ele for inteligente e entender o crescimento da internet no nosso país, saberá que essa estratégia trará bons frutos não só para sua campanha eleitoral, como também para sua vida política, futuramente.

9) Qual pré-candidato, na sua opinião, tem utilizado melhor a rede? Por quê?
Rebêlo – A Marina Silva. Sem dúvida alguma. Há vários motivos por trás disso. Ela montou uma equipe bem mais sintonizada com a internet, diferentemente de outros candidatos. Embora todos os candidatos tenham profissionais capacitados em suas respectivas equipes, falta sintonia entre eles. A Marina se apresenta como o novo, a exemplo do Obama nos EUA. Mas a voz dela não repercute. A campanha dela não ultrapassa a faixa dos 10% nas intenções de voto, por que? Porque é uma questão política, não é técnica. A Marina tem usado a internet de um jeito interessante, mas ainda não conseguiu replicar offline a mobilização que ela tem online. Quem se beneficia é um tipo de eleitor muito específico. Se a equipe dela tiver foco e souber planejar bem a campanha pensando no futuro, ela será uma candidata com muita força em 2014.

Telles – não respondeu.

10) Os partidos e candidatos montam seus comitês em várias cidades, muitas escolhidas estrategicamente. Vocês acreditam em uso da rede também de forma estratégica para atingir o eleitor em locais em especial?
Rebêlo – Acredito. E acho que, bem planejado e com pessoas engajadas, pode ser uma ferramenta bem interessante na campanha. Os tucanos estão tentando isso com o “Mobiliza PSDB” (www.mobilizapsdb.org.br), até como forma de responder ao PT, que historicamente se mobiliza mais e de um jeito bem mais eficiente em núcleos regionais.

Telles – Sim. Uma das características da internet é justamente não ter limitação geográfica. Ou seja, você pode levar sua mensagem a qualquer nicho do mundo, e a qualquer hora. Assim como a rede servirá para mobilizar nichos eleitorais para determinadas áreas, servirá também para comunicar aos mesmos sem que tenham que sair de casa.

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