Terra: magia do cinema e do planeta

flip02xCom 90 minutos de duração, Terra, documentário com a grife Disneynature, tem pré-estreia nacional na próxima quarta-feira

Paulo Rebêlo
Diario de Pernambuco
20.abril.2009

Para os amantes da natureza e dos documentários do Discovery Channel, as imagens de Terra (Earth, EUA/Alemanha/Inglaterra, 2007) são quase entorpecentes.

Dois anos depois de lançado no Reino Unido, chega ao Brasil o primeiro longa-metragem com a grife Disneynature, com a pré-estreia agendada para esta quarta-feira e estreia oficial na sexta.

Terra é uma versão condensada do seriado Planeta Terra (Planet Earth), lançado em 2006 pelo Discovery Channel, com onze horas de duração e imagens inéditas. Ou seja, quem quiser ir além do longa-metragem pode procurar os DVDs ou recorrer à internet. Vale cada minuto, pois o original é bem superior ao documentário exibido agora.

Mas a experiência da tela grande do cinema é imbatível. E eis o maior trunfo de Terra. Se fosse exibido em três dimensões, levaria ao vício. Infelizmente, segundo os executivos da Disneynature – novo braço da Walt Disney para filmes ambientalistas – não há planos concretos para um eventual relançamento em 3D. Por enquanto, há apenas testes independentes para o IMAX, uma tecnologia ainda estranha a telas gigantes. O Brasil recebeu a primeira e única sala IMAX em janeiro deste ano e uma segunda sala deve ser aberta em Curitiba.

De todos as produções do gênero- e não são poucas-, nenhuma conseguiu captar, com tamanha precisão e definição, as imagens exibidas em Terra. O roteiro acompanha a saga dos animais para alimentar seus filhotes durante um ano inteiro, passando pelas quatro estações em um planeta cada vez mais quente, por causa das agressões ao meio ambiente. Apesar do tema, em Terra os ecochatos não têm vez. As mensagens positivas e o melodrama estão de fora. O destaque é mesmo o planeta e seu gigantismo natural.

Uma das perseguições filmadas, entre um lobo e um bezerro, parece montagem, tamanha a proximidade da cena sentida pelo espectador. É de perder o fôlego porque a cena segue por longos minutos.

Apesar de mostrar imagens belíssimas de vários animais, tudo é resumido para encaixar nos 90minutos de duração. Três famílias se tornam protagonistas: ursos, elefantes e baleias da espécie jubarte. Pela narração (dublada) de Antônio Moreno, ficamos sabendo como suas vidas estão interligadas e dependentes do clima.

A saga das três famílias é muito bem amarrada, mas são os coadjuvantes que vão lhe deixar com gostinho de quero mais. Os saltos para fora d’água do tubarão branco são impressionantes, quase aterrorizantes. Para evitar o horror e não espantar o público infantil, os diretores mostram o tubarão já com um golfinho (ou peixe parecido) na boca, com a cauda para o lado de fora, no ar. Não é mostrado o momento em que o tubarão abocanha sua presa, talvez para evitar o choque do público infantil.

Terra é um exemplo ilustre da magia do cinema e do planeta. Não à toa, tem sido promovido no Brasil como um filme pedagógico e, embora não da forma mais correta, de apelo infantil. À exceção dos filhotes de urso e dos pinguins (sempre eles!), não espere bichos fofinhos e carinhosos.

Tecnologia militar durante as filmagens

O orçamento do documentário Terra (na verdade, do seriado Planeta Terra) foi de US$ 40 milhões, valor inédito para um documentário. E tanto dinheiro permitiu que os diretores Alastair Fothergill e Mark Linfield pudessem usufruir de equipamentos jamais utilizados na indústria cinematográfica.

Cinco anos de filmagens, 70 produtores e mais de 200 locações. O resultado é uma coleção de imagens até então inéditas. E tudo foi possível por causa do uso, pela primeira vez, de tecnologia militar na produção e filmagem. Com lentes Canon 400mm acopladas a uma base giratória – a Cineflex Heligimbal -, foi possível captar imagens aéreas a quilômetros de distância, em alta definição, sem que os animais notassem a presença da equipe ou ouvisse o barulho do helicóptero.

Não é difícil perceber quando o recurso é utilizado e o resultado impressiona. Em entrevista por telefone ao Diario, o diretor Mark Linfield revelou que os recursos adotados nas filmagens só haviam sido usados anteriormente pelos militares. “Isso terminou gerando alguns problemas em determinados países”, admitiu Linfield.

O aparato militar também foi utilizado para filmagens aéreas do topo do Monte Everest, outro feito inédito. Ninguém conseguiu antes por causa da altitude, que impede o uso de helicópetros. Tentativas com câmeras acopladas a pequenos aviões não deram certo por causa da velocidade, rápida demais para as câmeras. A solução foi usar um avião-espião do Exército do Nepal – outro problema diplomático enfrentado pela equipe, pois ninguém havia tido permissão.

Segundo Linfield, filmar a caçada dos lobos no pólo ártico não seria possível sem os equipamentos de ponta. “De helicóptero, eles se assustam. No chão, é impossível por causa da velocidade. Filmamos a quilômetros de distância, foi uma experiência única acompanhar toda a caçada quadro por quadro”, explica.

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