Paulo Rebêlo
Pipoca Moderna – 29.out.2009
Filmes como “O Solista” costumam gerar bastante expectativa antes de chegar aos cinemas. Quando você junta um elenco de peso, um diretor queridinho da crítica e um roteiro com temática social, fica evidente que o estúdio nem vai precisar gastar tanto com propaganda.
Ao mesmo, a maior dificuldade de filmes assim é justamente a expectativa do que poderia ser – e não do que realmente é. Assim, quando você vê Jamie Foxx como um sem-teto dotado de genialidade escondida que a sociedade não enxerga, a impressão é que você já viu esse filme antes, várias vezes e em diversos outros gêneros.
O diretor Joe Wright (de “Orgulho e Preconceito”, 2005. e “Desejo e Reparação”, 2007) até tinha uma bela história em mãos, levando em consideração que “O Solista” é a adaptação do livro do Steve Lopez real, um repórter do Los Angeles Times que descobriu na vida real o talento por trás de um sem-teto que andava sem rumo com um carrinho de supermercado pelas ruas da metrópole.
Wright joga uma série de críticas sociais e políticas na tela, todas ao mesmo tempo, sem fazer muita distinção entre suas relações e sem dar tempo para que o espectador respire e possa refletir sobre elas – pior ainda, refletir sobre os personagens.
Robert Downey Jr., teoricamente dividindo o papel de protagonista com Foxx, vive Lopez quase em modo automático, praticamente repetindo seu personagem de “Zodíaco” (2007), outro repórter.
Mas nem mesmo Jamie Foxx em grande atuação consegue fazer a diferença entre um filme apenas bom e um filme medíocre, ficando a cargo do espectador a decisão final.
Da metade para o fim, as críticas sociais quase desaparecem e a temática passa a ser uma doença que já foi coberta em dezenas de outros filmes, talvez até de modo mais apurado e interessante.
O aproveitamento da história, contudo, é dúbio. Não à toa, “O Solista” ficou pouco tempo em cartaz nos Estados Unidos (mesmo assim, em poucos cinemas) e no Brasil quase segue direto em DVD.