Paulo Rebêlo
Diario de Pernambuco
17.abril.2009
Cinéfilos católicos, tremei. Antes que resolvam excomungar o diretor, os atores e quem for ao cinema, uma boa opção é a estreia de Dúvida (Doubt, EUA, 2008) com Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman. Streep está brilhante no papel da freira conservadora que, aos poucos, começa a desconfiar do padre Flynn. A dúvida começa a se transformar na estranha certeza de que o padre está seduzindo um garoto negro de 12 anos, embora as evidências não sejam claras e nem compartilhadas por outras freiras.
Dúvida é realmente uma incógnita para dividir opiniões dos espectadores. Pouco objetivo, o filme se concentra na narrativa e na personalidade dos personagens principais, sem tomar posição. Fato é que a produção agradou a crítica internacional, talvez por causa da polêmica religiosa e pelo suspense bem conduzido pelo diretor John Patrick Shanley, também responsável pelo roteiro e por adaptar a peça de teatro para o cinema.
Como entretenimento, Dúvida está longede ser um filme atraente. É interessante notar, contudo, o contexto de que tudo se passa em 1964, apenas quatro anos antes da morte de Martin Luther King. Não há referência alguma no filme, mas o garoto da “dúvida” é o único negro do colégio católico, quando os Estados Unidos ainda enfrentavam um longo processo de segregação racial. Neste ponto, recai sobre a boa atuação de Hoffman e Streep as nuanças da sociedade da época e a luta do conservadorismo social e católico contra algumas posições mais liberais na igreja.