O colorido dos teus cabelos é o vermelho da minha alegria

Rebêlo | 01.nov.2017

Não tem a menor graça um careca falar de cabelos. Em minha parca defesa, devo dizer que minha paixão por cabelos vermelhos não é pós-moderna e nem pós-verdade, pois vem desde os tempos em que cabeludo fui.

Porque, embora fotos quase não existam mais, até topete já tive. E mantive a duras penas de mancebo. Um topete maior do que aquele do Itamar Franco. Éramos ambos ridículos, porém topetudos.

Sabe deus ou o capeta qual terá sido o trauma ou alegria de infância a me fazer sucumbir pelos cabelos de fogo.

Os cabelos azuis e verdes me tiram a respiração, mas os cabelos vermelhos me tiram do eixo.

Já quase bati o carro no meio da avenida, já derrubei a bandeja do restaurante, já esbarrei no poste por não olhar o caminho à frente, já tropecei na calçada, já fiquei mudo quando me perguntaram as horas, já fiquei surdo quando gritaram corre que é bala!

Tentei buscar no passado outros traumas e outras manias. Entendi uma parte, aceitei outra parte, mas me parte o couro cabeludo como fico imóvel e ignóbil diante de uma criatura com cabelos vermelhos de fogo.

Derreto feito lava de vulcão.

A beleza dos cabelos vermelhos vai muito além de uma tara. É como se elas conseguissem andar descalças no incêndio e flutuar em meio ao apocalipse.

Uma mulher de cabelos coloridos diz muita coisa ao mundo.

E essas afirmações são jazz aos meus ouvidos. Elas parecem mais donas de si, mais independentes do mundo, mais leves na vida.

Parecem não se importar com pequenezas alheias, frustações estéticas e frescuras energéticas.

Seja de azul, verde, vermelho ou até mesmo quando abrem mão de todas as cores para deixar os cabelos brancos totalmente à mostra. É tão apaixonante quanto.

Não consigo escolher entre a tara mais antiga: vestidos ou cabelos vermelhos.

Ou seja, uma mulher com vestido de botões e cabelos vermelhos é o equivalente ao apocalipse zumbi de uma explosão atômica seguida da aniquilação total dos seres vivos atingidos por um meteoro sobrecarregado de bactérias mutantes.

E eu quero estar lá para ver.


Foto em destaque:
Elche, Espanha | maio de 2014
Fujifilm x100s | f/125 | 23mm | ISO 200

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