O décimo ano de campanha política em redes sociais

O décimo ano de campanha política em redes sociais

Paulo Rebêlo | 22.jun.2016

Agora em julho faz exatamente dez anos que ouvi, pela primeira vez, que esta seria a campanha das redes sociais no Brasil.

Desde então, a cada dois anos ouvimos exatamente a mesma coisa.

O mais engraçado é que a maioria dos políticos e das coordenações de campanha não conseguem entender como funciona uma rede social. Nem na internet e nem fora dela.

Não se trata de tecnicismos e, muito menos, de conhecimentos esotéricos que só os gurus de campanha ou o boy da informática juram entender.

Desde 2010, e mais fortemente desde 2012, o mercado tem mostrado os melindres e as inúmeras possibilidades de desvirtuar e inventar factoides em redes sociais. Além de questões mais técnicas e igualmente mais sérias que envolvem fraudes e maquiagem de números, pessoas e métricas.

Torna-se mais grave porque a falácia das redes ludibria os dois lados: eleitos e eleitores. Enquanto um lado joga dinheiro pelo ralo porque cai na conversa de tantos aventureiros de paletó e bons modos, o outro lado acredita piamente que as redes refletem a realidade social em que vivemos.

O maior referencial nas redes reside em números aleatórios, sem comprovação, sem verificação e principalmente sem auditorias externas. Na prática, são um exercício de fé. E talvez justamente por isso sejam tão atraentes à política.

Mas até para ter fé é preciso ter um mínimo de bom senso e inteligência.

Enquanto as campanhas nos Estados Unidos e na União Europeia já deixaram para trás o frenesi cego das redes sociais há bastante tempo, ainda hoje a gente participa de reuniões de campanha em cidades brasileiras onde citam o Barack Obama… em uma realidade onde o 3G do celular só funciona quando Jesus quer.

Inclusive, por esse prisma, talvez o Aécio Neves devesse ser o candidato dos Democratas nas eleições americanas. Contando pelo dia 22 de junho de 2016, com seus 4,6 milhões de seguidores no Facebook, ele “fala” para mais do que os 4,1 milhões de seguidores da Hillary Clinton. Não é incrível?

Ainda há muito para se fazer de útil e interessante em política nas redes sociais. Mas talvez a gente passe mais dez anos ouvindo que este ano será a campanha das redes sociais, mesmo sabendo que até hoje isso nunca existiu.

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