Fertilidades carnavalescas

Paulo Rebêlo
06.fev.2013
Portal NE10
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Dizem que Carnaval é uma festa na qual solteiro tem prioridade. Pelo simples fato de ser um campo minado para qualquer relacionamento.

Talvez haja um certo exagero na afirmação. Mas o problema não é a afirmação. É a imaginação.

Quando a gente imagina nossa fofinha pulando Carnaval com as amigas, não é exatamente no camarote do governador com ar-condicionado, segurança fardado, uísque 12 anos e palitinhos de queijo do reino com presunto light, cantando Madeira do Rosarinho pela quadragésima vez abraçadas com simpáticas velhinhas de cabelos brancos às 9 horas da manhã.

Não. A gente imagina as mancebas perdidas no meio dos Irresponsáveis de Água Fria ou no Bacalhau do Batata com uma lata de Pitú-Cola na mão e na outra mão o jornal não permite (d)escrever. E rezando que dentro da lata seja Pitú-Cola mesmo, porque pode muito bem ser loló.

A esta altura do campeonato, o único resquício de dignidade que ainda deve restar é a minissaia de abelhinha, porque a parte de cima da fantasia já deve ter ficado para trás desde o meio-dia.

A fertilidade carnavalesca é um trocadilho em potencial. Pelo também simples fato de que toda imaginação casada já foi uma imaginação solteira um dia. A gente sabe exatamente como funciona o meio de campo, a trave e os gols. E as dedadas.

Se você começa a ter úlceras para comprar duas passagens aéreas para cidades como Brasília ou países como a Groelândia, onde aparentemente Carnaval não existe, lembre-se que poderia ser muito pior.

Porque, enquanto casado, você ainda pode usar complexas artimanhas para proteger sua fofinha. Por exemplo, pode acompanhar a criatura em algum bloco, preferencialmente da terceira idade, fazendo a clássica cobertura lateral com as mãos para marcar território. É inútil, mas rende alguma segurança psicológica durante dez a quinze minutos.

Mas se você acha que imaginação é o maior problema na vida dos casados, é porque nunca brincou um Carnaval recém-separado.

Agora você está solto na buraqueira alheia, subindo e descendo a ladeira e a calça, apenas para tentar esquecer que tem um monte de rosarinho descendo a madeira na sua ex. A cada paralelepípedo de Olinda.

Besteira. Lembre-se novamente do hino onipresente: imagine que a sua ex-fofinha é madeira que cupim não rói. Alceu só esqueceu de dizer se cupim tem dedo. E etc.

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