Abraji // 4º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo

Paulo Rebêlo | Julho 17, 2009
Knight Center for Journalism in the Americas

Experiência e recursos financeiros. Dois fatores aparentemente essenciais para uma boa reportagem investigativa, mas que nada valem se o repórter não tiver força de vontade e fôlego quase juvenil para perseguir a informação que muitos preferem manter escondida.

Este foi apenas um dos muitos desafios debatidos em São Paulo, entre os dias 9 e 11 de julho, no 4º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo. Organizado pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e com apoio e patrocínio do Centro Knight para Jornalismo nas Américas e várias outras instituições, o evento ocorreu na Universidade Anhembi-Morumbi e contou com a presença de quase 500 jornalistas, estudantes e professores de jornalismo, incluindo 62 palestrantes em 50 oficinas.

Os assuntos foram dos mais diversos, dos tradicionais, como narcotráfico e corrupção, à investigação esportiva e cobertura dos bastidores políticos no interior do Brasil. Ideias e reportagens investigativas em economia, tecnologia e meio ambiente também foram amplamente comentadas e discutidas entre os participantes, concedendo um aspecto ainda mais plural e complexo ao que se entende por jornalismo investigativo.

A presidente da Abraji, Angelina Nunes, falou da importância do intercâmbio de ideias e experiências entre os participantes, sejam eles profissionais, estudantes ou aspirantes a uma vaga nas faculdades de jornalismo. Embora tenha se consolidado na agenda do jornalismo brasileiro, o congresso da Abraji deste ano tornou-se ainda mais essencial em virtude das eleições gerais de 2010, quando os eleitores irão votar para presidente, governadores e senadores.

Maria Cristina Fernandes, editora de Política do jornal Valor Econômico, registra uma importância ímpar na cobertura jornalística das eleições e das novas investigações que possam surgir. “A sociedade irá eleger o sucessor de um dos políticos mais populares da história do Brasil e, provavelmente, terão uma mulher entre os candidatos mais fortes à presidência. É também a primeira vez, desde a reabertura democrática, em que o Lula não será candidato”, explicou.

O professor Rosental Calmon Alves, diretor do Centro Knight, reafirma a enorme satisfação de conferir e presenciar como a Abraji cresceu nos últimos anos, desde sua fundação em 2002 como um ideal comum entre jornalistas até o sólido e crescente grupo de hoje, cujo sonho de contribuir para um jornalismo de qualidade continua a nortear suas ações. “O 4º Congresso Internacional realizado em São Paulo é a demonstração de maturidade e da eficiência desta organização de jornalistas. E é com muito orgulho que nós do Centro Knight apostamos na iniciativa e continuamos a apoiar”, resumiu Alves.

Entre os palestrantes internacionais levados a São Paulo pela Abraji encontravam-se Mark Horvit, diretor executivo da IRE (Investigative Reporters and Editors); Joe Bergantino o diretor do Centro de Jornalismo Investigativo da Nova Inglaterra, na Universidade de Boston; Ana Arana, International Knight Fellow na Cidade do Mexico; Maria Teresa Ronderos, editora de Internet da revista Semana, da Colômbia; Gabriel Michi, presidente do FOPEA (Forum del Periodismo Argentino); e Kirk Semple, repórter do New York Times.

Como de costume, grande parte do público presente no congresso da Abraji eram estudantes de jornalismo vindos de vários lugares do Brasil, mas principalmente da região de São Paulo. Estudante do último ano de jornalismo na Universidade Metodista de São Paulo, Camila Rodrigues participou pela primeira vez de um congresso da Abraji. “Já havia participado de cursos separados, mas nunca de um congresso inteiro. As palestras foram interessantes demais e foi ótimo ter espaço para fazer perguntas”, elogiou a futura jornalista de 22 anos.

Vinda da região do Vale do Paraíba, no interior do Estado de São Paulo, a estudante Ticiane Toledo mostrou-se surpreendida com a qualidade dos palestrantes e dos assuntos discutidos durante os três dias de evento. “Um dos pontos positivos foi quebrar o estigma de que jornalismo investigativo está ligado somente às editorias de Polícia e Política. Admito que eu mesma tinha dificuldades de fazer a ligação entre jornalismo investigativo e Esportes, por exemplo”, diz Ticiane.

Ao fim do 4º Congresso Internacional da Abraji, uma reclamação curiosa imperou entre os estudantes de jornalismo: o “excesso” de qualidade, por assim dizer. Com tantos profissionais competentes e temas interessantes, ficou difícil acompanhar tudo, principalmente no caso de palestras simultâneas em salas distintas.

José Roberto de Toledo, um dos diretores da Abraji, ajudou a organizar todos os congressos realizados até agora e explica que a ideia é oferecer muitas possibilidades para os participantes escolherem. “É um modelo comum em eventos deste porte, como ocorre com o IRE, por exemplo. Com a variedade de palestras boas, mais gente se interessa em participar. Acreditamos ser melhor ter mais opções do que ter apenas palestras contadas e escolhidas pelos organizadores”, explica Toledo, frisando que no Brasil, hoje, não há evento jornalístico com tantas possibilidades de participação feito o congresso da Abraji.