Chapa dos sonhos para democratas

ELEIÇÕES NOS EUA // Obama e Hillary costuram aliança para derrotar McCain

Paulo Rebêlo
Diario de Pernambuco – 25.maio.2008

Embora todos os governantes na América do Sul tenham plena ciência do pouco significado político do continente antes e depois das eleições norte-americanas, não há veículo de comunicação no mundo que não destaque, quase que diariamente, os bastidores do pleito de novembro. Além da razão óbvia de se tratar do futuro comandante da nação mais poderosa e influente, a disputa interna no Partido Democrata para indicar o candidato, entre Barack Obama e Hillary Clinton, hoje se mostra também insignificante do ponto de vista prático. Com propostas de governo relativamente divergentes para a política interna, externamente Obama e Clinton não diferem em quase nada.

Mesmo dentro dos EUA, a própria imprensa norte-americana, com atraso, começou agora a levantar publicamente a hipótese de uma super-chapa com Obama para presidente e Clinton na vice. A tese é defendida fora dos Estados Unidos há bastante tempo, inclusive no Brasil, com interesse direto na eleição de alguém que represente umamudança na política externa adotada pelo atual presidente George W. Bush.

É interessante lembrar, contudo, que Bush foi o candidato mais indicado por analistas políticos como “favorável ao Brasil” durante a campanha presidencial de 2000, quando chegou à presidência pela primeira vez. Na época, vários analistas que hoje levantam a bola de Obama diziam que “a vitória de Bush é ruim para o mundo, mas boa para o Brasil”. Os meses seguintes mostraram que a análise não procedia conforme se esperava.

Houve pouco ou nenhum avanço em questões-chave nas relações diplomáticas entre países, como o protecionismo comercial, os altos subsídios agrícolas e a força do discurso “bonito” da propriedade intelectual – vide a quebra de patentes da indústria farmacêutica, por exemplo.

O famoso bilionário Warren Buffet admitiu, semana passada, que apóia tanto Obama quanto Clinton. Apoio não somente para a platéia, mas financeiro. Dias depois, ao vencer as primárias no Estado de Kentucky, que pouco significaram em termos numéricospara ser a escolhida dos Democratas, a senadora Hillary Clinton acenou sutilmente para a tal “chapa dos sonhos”, ao dizer que “o partido tem uma escolha muito dura a fazer”, ao questionar quem está pronto para concorrer com John McCain, o candidato dos Republicanos. McCain é um dos senadores mais experientes dos Estados Unidos e amigo próximo de George W. Bush.

Na reta final das primárias e com o nome de Obama praticamente selado para disputar a presidência, as atenções se voltam aos programas de governo. Eis aí um dos principais pontos fracos de Obama, segundo analistas ouvidos pelo Diario. Para a América Latina, porém, mais uma vez ocorre uma forte tendência analítica a achar que os democratas, sobretudo Obama, estejam inclinados a oferecer maior flexibilidade ao continente.