Arte, água e cólera

Hoje é um daqueles dias que o público compra jornal na rua. Fazer uma boa primeira página é sempre um trabalho estressante para quem gosta da instituição chamada jornal e dias como hoje conseguem convencer até os incrédulos que vale a pena comprar, nem que seja umzinho para ler no banheiro.

A Folha de S. Paulo abre com a notícia mais apurada (já estava na internet ontem) sobre a “devolução” dos quadros roubados no Masp. Pouca gente acreditava que esses quadros roubados iam reaparecer, mas a polícia os encontrou intactos em uma casa na periferia de São Paulo. A capa é boa, mas a notícia em si deixa a desejar nos detalhes da investigação. Talvez divulguem mais adiante, para não atrapalhar a busca pelo mentor do crime. A Folha também destaque a importante vitória de McCain, para quem acompanha as eleições americanas. Esse McCain é incansável, está em todas as campanhas para presidente. O Estadão abriu com menos destaque a questão do Masp, O Globo com menos destaque ainda (uma nota na capa). Detalhe do jornal carioca é que a foto é classuda demais, deixaram a explosão de lado.

Como bem frisou um colega de redação, a primeira página do Diário parece mais o Diário Oficial do Estado, tamanho é o ufanismo. Verbos, sempre eles. E quando são incisivos, a carga é ainda maior. Mas a chamada atrai e as outras manchetes, menores, recompensam o ufanismo da principal: a denúncia contra um major da PM, o assaltante baleado, o empréstimo a aposentados e a permanência de Carlinhos Bala no Sport, para os fanáticos por futebol.

Se tivesse de escolher entre os três de Pernambuco hoje, ficaria com a cólera do JC, sem trocadilhos. Mas depois compraria outro, decepcionado com a falta de maiores detalhes na matéria em questão, principalmente um resgate histórico sobre quanto o cólera já assustou os pernambucanos em tempos nem tão remotos assim. A foto de agência, em destaque, da explosão em favela do Rio de Janeiro também terminou sendo outra escolha bem acertada. O Diário preferiu usar a imagem menor, quase passa em branco.

A Folha de Pernambuco também investiu na água, seguindo a mesma linha sugestiva-popular e sem ufanismo. O mais engraçado é que o jornal parece adorar dar destaque à careca do governador Eduardo Campos, pois é líder nesses enquadramentos clássicos de assinatura de convênios. Sempre nos ferramos, os quase-carecas.