Presidente da Romênia cai, em nova crise no Leste Europeu

Traian Basescu é afastado pelo Parlamento logo depois de o país ingressar na UE. De língua afiada e popular entre os pobres, chefe de Estado eleito foi acusado de abuso de poder; Comissão Européia hesita em intervir.

Paulo Rebêlo, colaboração para a Folha, de Bucareste ( email )
Folha de S. Paulo – 29.abr.2007 ( link )

Enquanto o mundo inteiro olha para as eleições na França, um pouco mais ao leste, na Romênia, cai um presidente eleito democraticamente e a União Européia (UE) se encontra sem saber o que fazer diante de mais uma crise política nos novos países-membros do Leste Europeu. Por 322 votos a favor e 108 contra, o Parlamento aprovou o impedimento do presidente Traian Basescu, eleito para o cargo em 2004.

A Romênia passou a integrar a UE em janeiro deste ano, junto com a Bulgária. Em Bucareste, a capital romena, mais de 10 mil pessoas se reuniram no centro da cidade e em frente à Praça da Constituição durante toda a semana passada para pedir a permanência de Basescu no poder. Ele é acusado pela oposição de abuso de autoridade, envolvendo atos ilícitos. Entre as principais acusações estão seguidas críticas públicas a juízes, influência política sobre procuradores e ordens ilegais para que o serviço secreto do país instale grampos nos telefones de vários ministros.

Membro do Partido Democrata, Traian Basescu é considerado o político mais popular da Romênia e um dos mais conhecidos no Leste Europeu, em grande parte por conta do estilo populista e dos discursos em que não mede palavras para criticar seus opositores.

Em geral aclamado pela população mais pobre, nos últimos meses Traian Basescu entrou em atritos com o primeiro-ministro, o liberal Calin Popescu Tariceanu. Basescu acusa o premiê de ter vínculos “suspeitos” com empresários do setor energético e os parlamentares de terem “vendido os ideais da aliança democrática entre liberais e democratas que foi responsável pela vitória nas eleições em 2004”.

A Constituição romena garante que o Parlamento convoque um referendo em até 30 dias para que o impedimento seja oficializado. Até lá, a Romênia segue governada por uma coalizão liderada pelo pós-comunista Nicolae Vacaroiu, ex-primeiro-ministro (1992-1996) e senador desde 1996. Há temores de que o Parlamento consiga encontrar uma brecha constitucional para adiar ou mesmo vetar o referendo, marcado para 19 de maio.

Assim como em boa parte do Leste Europeu, na Romênia o poder real de presidentes eleitos é reduzido, às vezes simbólico. No entanto, a crise no país coloca em xeque uma série de reformas sociais e econômicas exigidas pela UE para que o país fosse aceito no bloco.

Poucos dias antes da votação no Parlamento, o presidente Basescu garantiu que, caso fosse aprovado o impeachment, ele renunciaria ao cargo. Pela lei romena, com a renúncia o Parlamento precisa convocar novas eleições e o próprio Basescu poderia se candidatar, mas ele não cumpriu a promessa. “Vários debates em andamento sobre as reformas serão suspensos”, diz a analista política Laura Radulescu.

Até agora a Comissão Européia parece ignorar os acontecimentos. O presidente da Comissão, José Manuel Durão Barroso, limitou-se a dizer que espera um desfecho o mais breve possível e uma resolução institucional da crise.

Bucareste combina caos e bons empregos –

As semelhanças entre Romênia e Brasil são muitas: o idioma, que possui palavras quase idênticas, a hospitalidade e as mazelas políticas de corrupção, obras inacabadas e agora um impeachment de presidente no currículo deste país de 22 milhões de habitantes.

No entanto, Bucareste é diferente do resto da Romênia e, por isso, é rejeitada e quase odiada pela maioria dos romenos, que a consideram uma cidade caótica. Quase não há atrativos e a marca registrada são os outdoors de propaganda espalhados inclusive por edifícios históricos.

O trunfo desta cidade de 2 milhões de habitantes está na economia formal. O desemprego em Bucareste é quase inexistente, entre 1% e 2%. Em setores como tecnologia, é inferior a 1%. Um marco invejado por todas as outras capitais do Leste Europeu e pela própria Romênia, cujo restante do território enfrenta uma taxa de desemprego entre 7% e 9%. (PR)