Onda de ameaças de bomba acentua a crise política

Paulo Rebêlo
Folha de S. Paulo
– 22.set.2006 ( link original )

Num clima de pressão pela renúncia do primeiro-ministro Ferenc Gyurcsany, que mentiu sobre as contas públicas, uma das principais estações de trem no lado leste de Budapeste precisou ser evacuada no início da manhã de ontem, por causa de suspeitas de bomba. A polícia reabriu a estação depois que nenhum explosivo foi encontrado.

Com a repressão policial intensificada nas últimas 48h, os protestos contra o governo diminuem de intensidade, dando lugar a um cenário que causa apreensão: ameaças de explosivos em locais públicos. Boatos e cartas anônimas têm levado a polícia a esvaziar edifícios e a adiar eventos. Em pontos da capital, cercas policiais bloqueiam a passagem de carros ou pedestres.

O Partido Socialista (do premiê) acusa a direita conservadora (Fidesz) de promover e encorajar a violência nos protestos. Viktor Orban, principal nome do Fidesz e ex-premiê do país, respondeu em entrevista à TV estatal que as acusações “são infundadas, que apenas provam como o país está sem controle e sem governo”.

O Fidesz tem rejeitado qualquer tentativa de negociar o fim da oposição ao governo, afirmando que “a atual administração tornou-se ilegítima após o primeiro-ministro admitir que mentiu aos eleitores”. Uma das propostas do Fidesz é de criar uma espécie de Assembléia Constituinte, com “especialistas” e representantes de vários partidos tomando as rédeas do país.

A proposta é rejeitada pelo premiê, que na próxima semana deve levar a Bruxelas (sede da Comissão Européia) a versão final do plano de reformas econômicas e sociais que o governo deve implementar, a fim de que a Hungria cumpra as exigências da UE para reduzir o déficit público, um dos maiores do bloco.