Telefone híbrido: fixo e celular juntos

Preocupado com a quantidade de taxas, aparelhos e contas diferentes que você precisa pagar de telefonia fixa e móvel? Pois, aos poucos, a chamada telefonia híbrida começa a ganhar corpo no Brasil, com as operadoras fazendo testes – e comercializando – os primeiros aparelhos que juntam o celular e o fixo em único produto, compartilhando contas e facilitando a vida do usuário. Em tese, o funcionamento é bem simples: quando você está em casa, o aparelho efetua ligações pela rede fixa; saiu de casa, o sinal de celular é utilizado para completar as chamadas. Confira como isso funciona e quais as estratégias das operadoras.

Paulo Rebêlo / Folha de Pernambuco

É com essa realidade em mente que as operadoras telefônicas começam, aos poucos, a testar e comercializar telefones híbridos, que juntam em um mesmo aparelho a praticidade da telefonia móvel e os custos mais baratos da fixa. Com apenas um produto, o consumidor opera em duas redes: na móvel, a mesma que se usa nos telefones celulares hoje em dia, como GSM e CDMA. E na fixa, a ligação é feita pela rede Wi-Fi das operadoras, que cobram o mesmo valor das chamadas comuns, ou com um adaptador no aparelho convencional.

Tudo é realizado automaticamente, de um jeito imperceptível ao usuário quando ocorre a troca de redes. Na prática, a popularização dos telefones híbridos no Brasil pode ameaçar o mercado dos telefones fixos, mas somente nas grandes cidades. Afinal, a rede Wi-Fi é a mesma da internet sem fio já adotada hoje em dia, o que inviabiliza – ao menos a curto e médio prazo – o uso fora dos centros urbanos.

USO COMERCIAL –

O telefone híbrido já é realidade em algumas regiões atendidas pela Brasil Telecom, enquanto a aposta do mercado para as operadoras deslancharem no Nordeste em outras regiões fica apenas para 2007, apesar de a Telemar também mostrar-se interessada em antecipar a novidade. Depois de apresentar ao mercado agora em junho, no próximo mês a Brasil Telecom coloca em operação comercial o primeiro fixo-móvel do País, voltado ao uso residencial e de pequenas empresas.

O aparelho oferecido é o celular V3 da Motorola, pelo qual basta acoplar um pequeno dispositivo na linha do telefone fixo para que as chamadas sejam automaticamente encaminhadas à rede fixa – cujas tarifas são inferiores às da rede celular, evidentemente. A principal mudança técnica é invisível ao usuário, pois está no software do aparelho celular. No caso, por enquanto apenas o V3 é habilitado, segundo a operadora a preços mais em conta do que quando comprado no esquema tradicional da telefonia móvel.

O dispositivo acoplado na linha fixa também é oferecido em parceria com a Motorola. A comunicação entre o adaptador e o celular é feita por uma tecnologia sem fio chamada de Bluetooth, comum em produtos tecnológicos e notebooks.

De acordo com o diretor de Marketing e Produtos da Motorola, Roberto Shigueo, a empresa está em conversas avançadas com todas as operadoras brasileiras e aposta na tecnologia para beneficiar o consumidor antenado em novidades. “O software no celular reconhece qual o sinal mais forte para dar a melhor qualidade de voz possível, o da rede móvel ou Wi-Fi (internet) e efetua a chamada. É ainda mais cômodo”, explica.

Telemar na jogada –

Procurada pela reportagem, a Telemar segue o protocolo de não revelar estratégias ou comentar sobre lançamentos em estudo. Por meio de nota, a empresa apenas confirma que a novidade “está em teste com fabricantes”. Nos bastidores, o mercado espera da Telemar, para muito em breve, o resultado e o prospecto comercial de um teste integrado entre a telefonia fixa e móvel com um aparelho funcionando na rede GSM da Oi (o braço móvel da Telemar) e na rede Wi-Fi, por onde a empresa também oferece internet sem fio em Pernambuco.

Segundo operadores da indústria da telecomunicações, a Telemar já possui quase todo o equipamento necessário para permitir a convergência entre as redes, estando agora em fase de análise mercadológica, ou seja, sobre quais os lugares atendidos pela operadora que podem oferecer um retorno garantido. Para o executivo da Motorola Roberto Shigueo, o público-alvo da telefonia híbrida será “aquela pessoa que respira tecnologia, mas também quem gosta de estar atualizado com os benefícios das novidades de consumo”, aposta o diretor de Marketing.

Mesmo sem saber, a maior parte dos clientes pós-pagos da Telemar e da Oi, por exemplo, já faz ligações por meio da plataforma convergente da operadora, que reúne planos como o popular “Oi Conta Total” que agrega telefonia fixa, móvel, internet rápida e chamadas de longa distância. Nesse ponto, o Brasil não fica devendo a países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, somente agora os primeiros telefones híbridos começam a surgir para o consumidor residencial.

Comodidade é o maior trunfo –

Uma pesquisa realizada pela Brasil Telecom revelou um cenário inusitado, porém, conhecido por bastante gente: em casa, o consumidor muitas vezes prefere usar o celular, que está ao lado, do que se levantar e ir até o aparelho fixo para efetuar uma ligação rápida. Na concepção dessas pessoas, o custo de uma chamada rápida, mesmo sendo maior, compensa pela comodidade.

Segundo o diretor de produtos e serviços da Brasil Telecom, Eugênio Pimenta, é justamente esse público que deve presenciar os maiores benefícios da telefonia híbrida. “A gente sabe que 30% das chamadas para fixo são feitos de celular, é um fato. Quem liga de casa para outro fixo, vai se identificar com os planos e, certamente, economizar no final do mês”, admite Pimenta.

De acordo com os cálculos do executivo, a redução de custos com os telefonemas durante a semana pode chegar a 84% na chamada individual por minuto em um perfil típico de uso. Durante os finais de semana, não adianta nem calcular porque vai contar o pulso único, quando os telefonemas entre a rede fixa só computam um pulso independentemente de quanto tempo você passe na linha. “É um celular que funciona como um telefone sem fio que fora de casa vira novamente um celular”, compara Pimenta.