Jornalismo de código aberto: uma prática comunitária

Entrevista dos estudantes de comunicação da FUMEC, em Belo Horizonte, sobre o chamado jornalismo de código aberto, que também atende pelo nome de “open source” ou jornalismo participativo/comunitário, a depender do ponto de vista. –link original.

O jornalista Paulo Rebêlo esteve na Coréia do Sul em junho deste ano, a convite do Ohmynews, para participar de um congresso sobre jornalismo participativo. Trabalha na Folha de Pernambuco e no Webinsider/UOL, além de colaborar com revistas e agências. Em entrevista ao Ponto Eletrônico, fala sobre os principais aspectos do jornalismo open source.

Ponto Eletrônico: No Brasil existe algum tipo de jornalismo open source? Se existe, qual?

Paulo Rebêlo: Hoje, no Brasil, eu não classificaria nenhum site como de jornalismo participativo, mas talvez até exista e eu não conheça. Você encontra, no entanto, duas situações distintas: 1) sites pessoais que se auto-intitulam de jornalismo participativo só porque abrem espaço para comentários ou “posts” do tipo blog e; 2) várias revistas online que abrem total espaço para qualquer um escrever um artigo ou matéria. Na situação 2, um exemplo é o próprio Webinsider, onde também trabalho. Não fazemos jornalismo participativo por falta de estrutura e tempo, mas o espaço é aberto a todos e gratuito, desde que tenham um mínimo de coesão no escrevem.

P.E.: Por que você diz que no Brasil o conceito de jornalismo comunitário é quase uma ilusão?

P.R.: O exemplo do Ohmynews é o que está sendo seguido no resto do mundo, principalmente na Ásia. Menos aqui, porque a gente perde tempo discutindo diploma e querendo a vaga do coleguinha ao lado na redação. Por um lado, a categoria perde muito tempo com discussões inócuas e, por outro, os patrões não mostram o menor interesse em inovar, experimentar algo fora do tradicional. E nem precisa ser jornalismo participativo. Pequenas mudanças no estilo “clássico” dos jornais já resultariam em diferenças enormes. Os jornais estão na Internet há uma década e, até hoje, nenhum jornal brasileiro teve coragem de promover uma verdadeira convergência entre o impresso e o online. Em alguns casos, até fazem o oposto, como é o caso do Estadão, que inventou de fechar o conteúdo e colocar as páginas em PDF.

P.E.: Na sua opinião, qual a razão do sucesso do Ohmynews?

P.R.: Primeiro, a abordagem do Ohmynews é um bom exemplo da simbiose entre o convencional e o novo. E é muito simples: o cidadão comum também é repórter e escreve matérias, mas os jornalistas profissionais (e não são poucos) estão lá na redação, ralando na edição, filtrando, formatando, melhorando o texto e ajudando na apuração. Segundo, a situação econômica e cultural do país também facilita, já que na Coréia do Sul 80% das as conexões são em banda larga e o país quase todo está online.

P.E.: O que dizem os críticos sobre o jornalismo open source?

P.R.: Muita gente fala em jornalismo open source, jornalismo-cidadão e outros nomes. E assim vão surgindo os “especialistas” e “estudiosos” na área que dizem entender muito do riscado, às vezes sem experiência alguma sequer em reportagem. E como todo mundo gosta de novidade e palavras bonitas, acham que é a revolução. Não é.

P.E.: Quais os benefícios que esse tipo de jornalismo pode trazer para os internautas e leitores?

P.R.: Diversidade de opiniões e experiências e, principalmente, a ampliação de horizontes noticiosos. Não tem repórter lá no Morro, na favela, na periferia. Hoje em dia, não tem repórter em quase lugar algum, está todo mundo preso na redação com o telefone grudado no ouvido.

P.E.: E os prejuízos? As informações publicadas são confiáveis?

P.R.: São duas perguntas bem subjetivas. Prejuízos dependem da aplicação, se vai ser bem feito ou não. Sendo bem feito, não tem como ter prejuízo. Por que? Veja como está a venda dos jornais hoje em dia, só faz cair. As pessoas não estão mais se enxergando ali e se informando cada vez menos. E sobre credibilidade, cabe ao jornal e a equipe de jornalistas profissionais trabalhar em cima de fontes confiáveis e apuração adequada. Escrevendo só para as elites e classe média, como se faz hoje em dia, fica bem difícil.

P.E.: Com o open source, o jornalista não pode perder seu lugar no mercado?

P.R.: Sim e não. Com o caixa eletrônico do banco, o bancário não perde seu lugar no mercado? Com os braços robóticos na indústria automobilística, o metalúrgico não perde seu lugar no mercado? Com o revisor de texto no computador, o revisor dos jornais não perde seu lugar no mercado? Com os hipermercados, a quitanda da esquina não perde seu lugar no mercado? Posso estar errado, mas continuo achando que perde lugar quem não se recicla.