Mobilidade de urgência

Paulo Rebêlo (*)
Observatório, 27.julho.2004

Nenhum jornal brasileiro parece ter atentado ao fato de que o leitor está se tornando cada vez mais móvel. E não é de agora. A leitura diária do jornal, como hábito, vício ou necessidade, há muito deixou de carregar aquela aura de romantismo em que o cidadão folheia os cadernos enquanto toma um delicioso café preto com torradas feitas na hora. Ao menos para a maioria.

Necessidade profissional ou masoquismo, a gente precisa ler jornal em qualquer lugar, a qualquer momento, da forma mais objetiva possível. A quem se acostumou a ler bastante na internet, o site do jornal ajuda bastante no quesito rapidez e facilidade, porém, não é mais suficiente.

Alguns jornais possuem sites grotescos de tão pesados e bugados. Talvez o exemplo mais notório seja o site do Jornal do Brasil. E falo sem o menor temor de ser interpretado erroneamente, pois qualquer usuário, por mais leigo que seja, pode reconhecer isso de longe.

Então o segredo é ter sites leves? Durante um tempo, até foi. Não mais. Bons exemplos de leveza e facilidade são Folha de S.Paulo e Diário de Pernambuco. Basta um pouco de atenção e o próprio usuário pode ir para qualquer dia de publicação, mês ou ano, apenas mudando (digitando) os números referentes às datas. Não é preciso clicar em links de Arquivo, Busca ou qualquer coisa.

Basta um clique

Com as necessidades crescentes de mobilidade, é hora de os jornais brasileiros começarem a ouvir uma sugestão em debate, há anos, entre profissionais que trabalham direta ou indiretamente com jornalismo e internet.

Nem sempre o leitor tem condições de navegar horas a fio para ler os jornais diários. Durante uma viagem a trabalho, ou até mesmo a lazer, é quase impossível acompanhar o noticiário pela rede. E se você estiver no interior, esqueça o “quase”.

Com um pouco de sacrifício, dá para olhar os e-mails em um cibercafé ou com um notebook no quarto de hotel. Mas, todos sabemos, navegar muito tempo nessas duas situações é impraticável. E se o jornal em questão tiver um site lento, pesado e nada intuitivo…

Não há muita dificuldade em exportar as páginas do jornal (que já vão para html na internet) para um formato texto-puro, em um único arquivo, talvez até um arquivo por editoria. O arquivo ficaria pronto para download. O leitor em viagem, ou o leitor com conexão lenta ou cara, puxaria o arquivo para seu computador e, desconectado, poderia ler ao menos as principais reportagens do dia. Uma verdadeira mão na roda.

O arquivo contendo o jornal do dia não traria fotos, infográficos, notas ou pormenores. É o preço a se pagar pela mobilidade e para não gerar um arquivo grande para download. Já fazem isso nos sites, deixando de lado a maioria das fotos e infográficos.

Um termo mais sugestivo seria mobilidade de urgência. Pois, quem tem boa conexão, certamente prefere a ler a versão online do jornal. É hora de mais uma reciclagem. Vamos ver quem sai na frente.

(*) Jornalista no Recife; (www.rebelo.org)