Bíblia do Solteiro Apostólico III

Paulo Rebêlo // abril.2003

Parte 3: As ovelhas recheadas estão bombando – Horário de almoço é uma excelente oportunidade para aumentar seu rebanho de ovelhas bundudas. Não se iluda: se todo dia você vai almoçar no mesmo lugar, com aqueles seus mesmos colegas de trabalho, é capaz de você ficar igual ou pior ao Frei Ranzinza. Não corra o risco. Mudar a rotina de vez em quando faz bem à saúde e fortalece sua fé. Vá a restaurantes diferentes e vá sozinho, nem que seja preciso andar mais um pouco ou saltar uma parada depois da habitual. Caminhar também faz bem.

Dê preferência aos self-services (comida no peso) que estejam sempre lotados em determinados horários, pois assim você fica sozinho em uma mesa e, eventualmente, uma ovelha será forçada a pedir para sentar-se ao seu lado, com aquela cara de quem diz: “que azar, logo ao lado desse mané…”

Observe e você notará que é comum para as ovelhas mais polpudas procurar sentar às mesas onde estão apóstolos sozinhos e, claro, com cara de vira-lata abandonado: desde que o cidadão seja ao menos um pouco bonito, simpático e que não tenha jeito de mané. Nunca almoce com Frei Ranzinza ao lado.

Mas, diga não às bombas…

Nunca caia na tentação de se matricular em uma academia de ginástica, pois no evangelho doutrinário da Tico-Tico no Fubá as academias de ginástica são antros do inferno (!) rodeadas de capetas sarados e saudáveis.

Não se deixe levar pela conversa daqueles seus amigos bombados que vivem saindo com mulheres bonitas, enquanto você fica com aquele canhão que só faz reclamar e que engorda cada vez mais e mais. Negócio de tomar bomba, pode deixar com Saddam. Esqueça de tudo isso e continue na luta, pois geralmente a dona do restaurante é um jaburu, mas ela pode até lhe conseguir um desconto.

Faça plantão e elogie bastante. Quem sabe ela não tem uma filha tão feia quanto? Na hora do aperto, qualquer fechadura serve. Outro ponto de encontro das ovelhas recheadas são os bares da moda. Não se iluda: as ovelhas que vão para bares da moda não vão para encher a cara; muitas sequer sabem o que é tomar um porre. Quem vai para bares da moda está lá para paquerar, descolar um lobo-mau e ir comer o chapeuzinho vermelho lubrificado.

Agora, lembre-se do capítulo anterior: aconteça o que acontecer, não caia na tentação de tomar caipirosca. É excomunhão na certa.

Exposições de fotografias e mostras de arte são outras locações típicas em que o solteiro-apostólico pode investir. Fique olhando atentamente para um quadro ou foto — aproveite o reflexo do vidro ou da moldura para prestar atenção nas ovelhas que passam por perto. Não se iluda, meu filho: se uma ovelha se aproximar de você para puxar conversa, na cara e na coragem, ela não foi forçada.

Faça que nem tirador de coco: entre com os dois pés. Porém, é preciso ter cautela, muita cautela. A peculiaridade é que as
ovelhas que freqüentam esses lugares geralmente ou são fundo-degarrafa, ou muito feias, ou balofas. Quando não, tudo de uma vez só.

É que elas acham que só a benção de serem inteligentes vai servir de alguma coisa na horizontal. Fazer o quê… E se um dia você estiver em uma exposição e encontrar uma dessas ovelhas do mal conversando com o Frei Ranzinza, lembre-se que ele é o seu mentor! Corra para defendê-lo. Separe os dois antes que o Frei a embrulhe e leve para casa. Afinal, ele é um bom samaritano e não é à toa que escreveu uma bíblia.

Ainda na exposição ou lançamento, faça uso de todo seu conhecimento artístico e tire da carteira os desenhos que sua sobrinha de cinco anos fez na escola. Mostre para a ovelha recheada e filosofe sobre a verdadeira arte contida nos rabiscos da sua sobrinha. Assim, você terá meio caminho andado. Para casa. Sozinho. Ao menos vai economizar uma toalha.

Outra tática interessante é aprender a dominar a arte do fazer terra. Na Bahia, fazer terra é quando você passa se esfregando em uma mulher dentro do ônibus lotado. Geralmente ela está de costas, aquele maior aperto no coletivo e você: “licença, licença…” naquele maior esfrega-esfrega. Pode até não conquistar a simpatia dela, mas certamente irá chamar a atenção das outras ovelhas bundudas quando ela olhar para você e falar bem alto: “tira esse negócio daqui seu féla da *píí* tarado !!!”

Isso é para vocês verem que na Bahia não só tem coisa ruim. Tem acarajé também. Partindo da premissa de que você já está se doutrinando com afinco, no próximo capítulo mostraremos as dicas espirituais e esotéricas para causar uma boa impressão quando uma ovelha recheada finalmente resolver tirar a lã para você comer, digo, coser.