Celulares de terceira geração

Aquela propaganda em que o Pelé aparece conversando em um telefone celular, com um sistema de vídeo integrado, parece mesmo estar mais próxima da realidade do que imaginamos. No que dependesse dos filmes, telefones daquele porte já existiriam há mais de uma década, mas a vida real é bem diferente. Transferir dados em alta velocidade, sem congestionamentos ou interrupções, é uma dor de cabeça mesmo na telefonia fixa, quanto mais na telefonia móvel?

A Nokia e algumas outras companhias já anunciaram o lançamento de seus “vídeofones”, como pôde ser visto nos jornais e noticiários. Mas nem tudo é o que parece ser no mundo da tecnologia. Os vídeofones anunciados até agora parecem estar obsoletos, antes mesmo de serem comercializados.

MÓVEL e SEM FIO – No Reino Unido, uma pesquisa independente realizada pela Orange, uma das maiores companhias de telefonia móvel do mundo, mostrou dados interessantes no ponto de vista do consumidor. Das 2022 pessoas entrevistadas, 38% acredita que a telefonia fixa já está sendo substituída pela telefonia móvel, enquanto que 75% acredita piamente que o mesmo processo irá ser definitivo dentro de cinco anos.

Uma mesma pesquisa foi realizada no ano passado, e apenas 25% das pessoas responderam que a telefonia móvel tiraria a convencionalidade dos telefones fixos da jogada. Um outro dado, não tão surpreendente e até esperado, é que mais da metade dos entrevistados deixaria de usar o telefone fixo se o custo das ligações (fazer e receber) fossem iguais, ou mais baratos, do que os da telefonia fixa.

Analistas ingleses de tecnologia avaliam que, a partir de 2002, a maioria dos consumidores achará estranho o fato de as transmissões serem realizadas através de correntes ou cabos, da forma como são feitas hoje. Nos anos seguintes, irá parecer absurdo. A idéia é que as pessoas, gradativamente, passem a repugnar a noção de estarem se comunicando com um “local fixo” ou uma “central fixa”, quando poderiam estar se comunicando diretamente com quem quisessem, sem a necessidade de um intermediário, como a central telefônica ou um receptor qualquer.

Voltar para casa ou para o escritório, a fim de fechar um negócio ou fazer uma ligação importante, soa cada vez mais inaceitável. Depender de um aparelho fixo que, por conseqüência, dependa de uma operadora fixa, tende a acabar.

O VÍDEOFONE – Há anos, e mais ainda desde o ano passado, companhias de telefonia e empresas de tecnologia mostram seus protótipos dos chamados celulares de terceira geração. Telefones móveis que misturam transmissão de voz, dados, e assistente pessoal. Todos em tamanhos e pesos reduzidos.

No que depender da Orange, não iremos esperar muito, pois o lançamento do revolucionário vídeofone doméstico (ainda sem nome) já tem previsão: 2º semestre do ano 2000. O vídeofone será um aparelho sem fio, dotado de alta tecnologia, com recursos de Internet e vídeoconferência. Logo, não será apenas um telefone celular com recursos de imagem, mas também com recursos de um computador pessoal.

O aparelho será operado pelo sistema operacional Windows CE, da Microsoft, e será capaz de navegar na Internet, além de receber e enviar mensagens eletrônicas – email – como um computador qualquer. Outro recurso interessante é a possibilidade de transformar o vídeofone em um companheiro de viagens, tendo em vista que o mesmo será dotado de um sistema avançado de GPS, podendo visualizar mapas e ficar sabendo das estações climáticas no local onde você estiver ou pretender ir. Filme novo no cinema, a fila está grande? Problema resolvido. Compre os ingressos usando seu vídeofone, sem filas e sem burocracia. Você está em dúvida sobre a que filme assistir? Tudo bem, assista os trailers dos filmes em cartaz na tela do seu vídeofone. Simples, não?

Já adotado em alguns telefones celulares de hoje, como os da Samsung, o vídeofone também poderá ser operado através do reconhecimento de voz. Tudo criptografado, claro. O melhor será poder gravar vídeos e imagens no telefone, graças a um exclusivo chip de memória específico para tal função. Um agrado ao voyeurismo, dizem alguns.

Ainda não foi divulgado de que material será feita a tela, mas tudo será operado “on screen”, ou seja, através da própria tela, usando o toque dos dedos. A mesma poderá reconhecer sua escrita, e não haverá um teclado numérico para discagem.

FUNCIONA? – Segundo os executivos da Orange, o vídefone irá usar uma tecnologia avançada na compressão de dados, desenvolvida pela Universidade de Strathclyde. As transmissões serão entre 9.6Kbps¹ — 28.8Kbps até 64Kbps. Por outro lado, renomados analistas de telefonia móvel na Europa preferem esperar para conferir e parecem não dar muito crédito à funcionalidade do aparelho. Para tais analistas, o vídeofone será muito dependente das condições de transmissão e recebimento, que ainda não são aptas para usarem as tecnologias de ponta apresentadas pela Orange.

Nos Estados Unidos, vídeofones como o da Orange dificilmente teriam sucesso no mercado, ao menos até as companhias começarem a liberar bandas mais velozes para dados – o que pode levar alguns anos. Existe um projeto de transmissão sem fio de dados, batizado de UMTS (Universal Mobile Telecommunications Standard) que pretende adotar um padrão para a telefonia móvel, que passaria a recompensar os ‘celulares da terceira geração’, transferindo dados, voz e imagens em alta velocidade. O único problema é que a previsão de lançamento do UTMS é para 2002.