Revirei a casa inteira. Abri as caixas de papelão. Empurrei o sofá. Abri as mochilas. Olhei dentro do armário de roupa. Ela tinha levado até a xicrinha. Quando até as formalidades se dissipam, que esperança ainda pode restar para o afeto de uma xícara?
A Morte quer xeque-mate, mas eu só tenho cheques sem fundo
Quando Dona Morte me fizer uma visita, ela vai sentar no meu sofá, tomar minha cerveja, comer meu miojo, abrir minhas latas de sardinha, jogar meu Playstation e ignorar meu tabuleiro de xadrez.
Para os Estados Unidos, a Coronavac não existe
O transtorno histriônico dos americanos elimina a Coronavac da lista das vacinas que salvam milhões de vidas na luta contra a Covid19. E a gente nem merecia aqui no Brasil.
Não, o PT não invadiu o Texas
Nem Partido dos Trabalhadores, nem Progress Texas; o que eu queria mesmo era a Pizzaria Tapajós para me aposentar.
Parem de escrever no Facebook
A rede social é um buraco negro: todo conteúdo que entra é sugado e desaparece do universo. Não guardar aquele textão é um desperdício de talento e de sentimento.
Quando me senti um Totoro de estimação na Coréia
Quando pisei na Coréia do Sul, em 2005, demorou a cair a ficha. Porque sem querer era um sonho de criança sendo realizado: conhecer a Ásia. Mas nunca imaginei que iria me sentir um Totoro de estimação.
Minha existência é um bolovo
Cascavilhei o meu cabeção em busca da primeira memória da minha vida. Tento abrir meus diretórios mentais à procura do que passei a admitir como a memória zero: uma lembrança imagética, consistente e contextualizada que defina a nossa existência cognitiva. Minha memória zero só aparece aos três ou quatro anos de idade e se resume a um bolovo.
Os corações do Gato Garçom
O rádio estava ligado e alguém pediu para aumentar o volume. O locutor havia dado a notícia mais cedo e agora trazia mais detalhes. Naquela manhã de domingo de Carnaval, faleceu o Gato Garçom da Calabresa.
Tua vida é doce, mas o meu café é amargo
Quando eu paro de manhã cedo para tomar café em qualquer padaria de bairro em São Paulo, essa pujança econômica se reduz a pó e parece que aterrisei de Marte no meu disco voador só porque pedi um café sem açúcar.
Elas queriam amor, eu queria pizza
Aquela pizza em 1997 me mostrou o verdadeiro valor do trabalho. Ou melhor, mostrou que eu precisaria trabalhar três vezes mais do que todo mundo. Naquele ano, o preço médio de uma pizza no Recife era de 10 reais. Algumas mais caras custavam entre 12 e 15 reais. Só que a melhor pizza de quatro queijos da cidade custava 33 reais.
Quando o espaguete gruda na parede
Ela perguntou se eu sabia que levava apenas oito segundos para uma pessoa concluir se vai gostar da outra. Essa frustração cronometrada sempre me lembrou uma lenda urbana, bem popular nos anos 80, sobre como se deve cozinhar o verdadeiro spaghetti italiano: para saber se o ponto do espaguete está bom durante o preparo, jogue-o na parede. Se grudar, é porque está no ponto certo.
Calabresa não é pepperoni e frango frito não é galeto
Queria ganhar um real para cada vez que fui enrolado descaradamente no maravilhoso universo da gastronomia gourmet. A gourmetização da culinária é a desgraça de todo gordinho. A gente não sabe fazer, mas a gente sabe comer.