Fotomemórias Ranzinzas #000

Tenho me perguntado o que deveria fazer com meus 25 anos de arquivo fotográfico. Com bastante atraso, começo a publicar estas fotomemórias ranzinzas em formato de pequenas croniquetas sobre o contexto de algumas fotografias e o significado delas para mim.

PENSE GORDO: novo livro já disponível

PENSE GORDO é meu segundo livrinho, lançado em abril de 2023. Está disponível em formato tradicional e com frete grátis pela Editora Paradoxum; e também no formato e-book pela Amazon Brasil. Para quem está fora do Brasil, pode comprar o impresso no formato paperback, direto pela Amazon de cada país.

Saudades monstras do pragmatismo eficaz da Nikon

Se você tiver as manhas, a Nikon é uma monstra pragmática da eficácia. E quando usei uma D90 depois de dez anos, bateu saudades disso. A Nikon tem deficiências? Tem. Parou no tempo em relação à concorrência? Parou e faz tempo. Oferece opções de qualidade na linha de entrada? Não oferece. Tem inovações tecnológicas? Não tem. Mas a Nikon simplesmente vai lá e faz. Resolve qualquer pepino, descasca qualquer abacaxi, salva a pauta e o prazo.

Memórias alfas de uma guerreira

Esse autorretrato é a única lembrança que tenho da minha primeira câmera digital de verdade, a Sony Alpha-100, uma guerreira que passou por mil e uma presepadas ao meu lado, no frio e no calor, nas chamas do coquetel molotov e nas rajadas de neve do Leste Europeu.

A eleição afetou meu pirulito

Apenas dois anos dividem as campanhas eleitorais de 2020 e 2022. E apesar do pouco tempo, o impacto foi significativo. Quando a gente entra nos bairros distantes do centro, eu sempre observo, procuro, mas não consigo encontrar mais nada que me cause impacto, surpresa ou alivie minha frustração. Chegamos ao fim de mais um período eleitoral e constato que meu pirulito já não rende mais como antigamente.

A fotografia é meu manto da invisibilidade

Naquele milissegundo em que o diafragma da lente se abre e o obturador da câmera se fecha, quem você é não faz a menor diferença. Ninguém quer saber em quem o fotógrafo vai votar nas próximas eleições, no que ele pensa da pauta ou da estratégia, do que fez na vida ou do conhecimento acumulado que tem. Com a imagem feita, vamos embora e ninguém percebe, porque naquele raio de visão a gente não estava ali mesmo. E eu acho isso lindo.

De volta a Kowloon sem nunca ter ido

Ainda estava sem chip de internet, mas tinha uma noção geográfica que estava perto do rio e fui seguindo o fluxo mais lógico pelo horário e posicionamento do sol, agradecendo (pela milésima vez na vida) os sábios ensinamentos do Manual do Escoteiro Mirim que eu gostava de ler quando criança. Quanto mais eu andava, mais eu me sentia em casa. A cada beco, a cada viela, a cada carrocinha que passava, vinha uma sensação de familiaridade que senti poucas vezes na vida. É como se eu estivesse refazendo um caminho conhecido, sem nunca ter estado ali.

Eu pedi a conta, ela não veio, sei que vai chegar, não sei como vou pagar.

A maioria das pessoas da minha geração queria morar sozinha para ter liberdade. Eu queria morar sozinho para comer pizza e hambúrguer todo dia. E coca-cola. Litros de coca-cola. Talvez a conta metabólica chegue aos 50, talvez amanhã ou talvez quando sair o resultado da próxima endoscopia, que pelos meus cálculos será a décima-quinta. A conta pode chegar parcelada, mas também pode chegar de uma vez só, me atropelando feito uma Scania desgovernada, passando por cima de tudo igual a uma jamanta sem freio.

Seu elogio é a minha kryptonita

A todas as poucas pessoas que me elogiaram no passado, posso apenas pedir desculpas aqui por escrito, explicar que não foi por maldade, não foi por desinteresse, foi apenas por autocontrole para não sair correndo para bem longe dessa kryptonita que embaralha minha percepção do mundo.