As bonitinhas do Facebook

Paulo Rebêlo
NE10/SJCC – 13.outubro.2015

Graças a Mark Zuckerberg, descobri que muitas mulheres continuam tendo os mesmos sonhos de criança.

Quando eu era guri, todos os meninos queriam ser jogador de futebol e todas as meninas queriam ser modelo. A gente nem chamava de modelo, era manequim.

Na época, eu não sabia que algumas meninas eram levadas pelas mães para entrevistas em agências, books fotográficos e até mesmo cursos de etiqueta e passarela.

Muitos anos depois, a gente riu bastante achando que aquelas mães tinham uma mentalidade meio atrasada. As meninas queriam jogar futebol, vôlei, basquete e fazer judô, mas as mães queriam (e forçavam) que elas fossem princesas da Disney ou bailarinas angelicais.

E todo mundo achou que isso tinha acabado, e a evolução, enfim, chegado.

Mas aí veio o Facebook para nos mostrar que aquelas mães viraram avós e as princesas viraram mães com um celular na mão. E que talvez queiram ser modelos até hoje.

Elas são bonitas, a gente sabe. Elas também sabem. Aliás, com o Facebook, o mundo inteiro sabe. Todo dia.

Mesmo que às vezes sejam apenas bonitinhas ou saibam usar o filtro tira-mancha do Photoshop.

São tantas caras e bocas, poses sensuais, poses artísticas, poses filosóficas com olhar ao horizonte, poses culturais. Eventualmente, sobra espaço para decotes esquecidos ou microbiquínis coloridos.

É tanto autorretrato (leia-se: selfie) que, às vezes, parece um book de 15 anos sendo feito em tempo real. Só que com 20 anos de atraso.

Quando a gente não conhece a criatura, o máximo que podemos fazer é supor que há questões de autoestima, algo relativamente normal para compreender melhor esse turbilhão de poses. Ou talvez elas queiram fazer ciúme ao ex. E isso a gente até respeita, por uma questão pragmática mesmo, porque infelizmente funciona 100%.

Mas, quando a gente conhece, é meio engraçado. Porque depois nos encontramos no bar, na coletiva de imprensa, na reunião, seja lá onde for, e aí só vamos conseguir lembrar daquela foto com decote até o umbigo ou daquele biquíni quase-dental que elas usaram no último domingo em Brasília Teimosa com um cacho de pitomba entre os seios.

Em Brasília Teimosa ou no café mais chique de Paris, dá na mesma.

Desconfio que daqui a muitos anos vamos nos encontrar com essas modelos de meia idade e vamos rir juntos, de novo, sobre o atraso mental daquele culto à aparência de épocas pregressas.

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