Uma mulher para o apocalipse

Paulo Rebêlo
12.maio.2013
Portal NE10 / JC (link)

A gente sempre procura (ou espera) tantas qualidades em alguém que terminamos por esquecer das perguntas realmente importantes.

Por exemplo: será que ainda seríamos parceiros para toda a vida durante um ataque de zumbis?

Até receber essa piadinha pelo Facebook, confesso que nunca havia parado para pensar a respeito.

Faz todo sentido. Não importa se zumbi existe ou não. A lógica é a mesma de quando elas nos perguntam: se você estiver bêbado e uma linda ruiva de vestido florido quiser coçar suas costas, o que você vai fazer?

Ao perguntar isso, conceitualmente elas também estão pensando em zumbis. Ou seja, são situações que não existem de verdade e beiram à ficção científica. Mas poderiam existir.

Se o filho vira zumbi e a gente precisa dar um tiro na cabeça do guri, será que ela continuaria do nosso lado ciente de que o mundo acabou e que aquela criança não é mais criança, mas um zumbi que ia comer nossas tripas achando que é bacon?

E se eu virar zumbi? Será que ela e o guri vão dar um tiro na minha cabeça para sobreviver? Ou vão sair correndo e nos deixar com os outros zumbis tocando o terror na vizinhança que a gente tanto reclamava do barulho?

A metáfora surreal dos zumbis também é interessante porque é uma releitura do que nos acostumamos a chamar de mulher de bandido.

A gente sofre pela outra pessoa, vê que ela tem duzentas outras prioridades mais importantes (no mundo do crime ou no mundo dela) e nem assim a gente larga a mocréia. Ou o bandido.

Faz sentido? Zumbi também não faz.

A racionalidade que falta para a mulher de bandido é a racionalidade que sobra no apocalipse zumbi: é quando você finalmente poderia entender a diferença entre viver com uma pessoa ou sobreviver com uma pessoa.

Se não houvesse outra opção (e felizmente, sempre há outra opção) até que não seria difícil entender. Difícil mesmo é saber o que elas fariam se tivessem de escolher entre nos jogar de bacon para os zumbis ou deixar a ruiva nos levar para casa.

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