Filhos da mãe

Paulo Rebêlo
13.abril.2013 (link)
Portal NE10 / JC Online

Se vivo estiver, terei uma aposentadoria muito tranquila. Não por méritos meus. Muito menos do INSS.

Irei agradecer a todas as minhas amigas que têm filhos pequenos e compartilham conosco na mesa de bar, no trabalho e no Facebook.

Porque todas elas são mães de crianças ultra inteligentes. Atenciosas. Educadas. Sem nenhum tipo de preconceito. Versáteis. Meigas. Tranquilas. Altruístas. Uma geração de super dotados.

Ou seja, daqui a 20 ou 30 anos teremos as mentes mais brilhantes do universo, quiçá das galáxias, trabalhando pelo bem de todos os seres vivos sem pedir nada em troca.

Parece que os filhos das nossas amigas, colegas e esposas se dividem em dois grupos: ou são a última Coca-Cola no deserto ou são a tampa de Crush.

Não há meio termo. Ninguém quer admitir que a Coca às vezes é Fanta.

Certa vez, uma dessas mães me garantiu que o filho era o mais resiliente de toda a turma. No pré-escolar.

Fiquei me achando um completo mentecapto. Precisei olhar no dicionário o significado de uma qualidade cuja criatura já dispunha aos quatro anos de idade.

Por mais que a gente admire as milhares de mães solteiras espalhadas pelo globo, tem mãe cujo filho só não é um deus grego da inteligência porque a Grécia está falida.

Fico me perguntando qual foi a condição ideal de temperatura e pressão na hora da trepada homérica que gerou esse embrião com tamanha pujança cerebral.

E não basta apenas compartilhar no Facebook e no telefone.

Tem que mandar foto por e-mail, com legendas, explicando que o pequeno E.T. aprendeu a andar antes dos colegas da escola, começou a ler dois anos antes do normal, já faz as quatro operações matemáticas de cabeça, lê Dostoyevsky, escuta João Gilberto, está terminando de escrever um livro de poesias, faz chover, planta dinheiro e vai consertar o rombo da Previdência.

E tudo isso em três idiomas diferentes.

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