Projeto Calcinha Malhação 2011

Paulo Rebêlo

Terra Magazine | 04.jan.2011

Nunca entendi a razão de mulheres teoricamente adultas, eventualmente belas e supostamente bem educadas, desfilarem seus corpinhos malhados usando roupa de adolescente, falando feito adolescente, bebendo feito adolescente e, desconfio cá com meus botões, trepando feito adolescente.

Quando vejo uma mulher adulta usando uma bolsa da Barbie ou um conjunto de roupa todo cor-de-rosa, não sei se me jogo na frente de um trem ou se tiro porte de arma. Prefiro o trem, por causa da Lei Maria da Penha.

Ao esbarrar com uma criatura usando bolsa da Barbie, a primeira coisa que me vem à cabeça é que ela também deve usar calcinha com desenhos estampados.

E não tem nada mais brochante do que “calcinha de bichinho”.

Imagine a cena. Alguém levanta o seu vestido no maior amasso e, de repente, dá de cara com os ursinhos carinhosos, o Bambi, o Rei Leão ou o Mickey Mouse.

Filhota, você não vai emagrecer em 2011, então estabeleça metas alcançáveis: pare de usar calcinha de bichinho.

Veja você. Em comunicado oficial, o grupo Vigilantes do Peso do Brasil me diz que ajudou o país a emagrecer 330 mil quilos em 2010. Somente em Brasília foram 10,5 toneladas de gordura a menos.

Não sei como fazem o cálculo, mas sei que no meio de toda essa gordura tem quilos de neurônios.

Se quer perder suas gordurinhas, vá em frente, mas malhe o seu cérebro também. Você e suas amigas de 30 a 50 anos não são estrelas do Sex and the City.

Eu também gostava do Zorro, do National Kid e do Jaspion. Mas não uso capa preta, não uso armadura e não tenho cueca com a espada do Jiraya.

Nos bons tempos do titio aqui, a mulherada se juntava para falar de homem. Hoje elas continuam falando de homem, mas às vezes parecem mais interessadas se o cidadão sabe se vestir bem, se usa tênis all-star ou se é “style”.

Conclusão óbvia: se hoje as mulheres estão discutindo coisas assim na mesa de bar, é porque há uma infinidade de homens seguindo o “padrão Fiuk” de comportamento e estilo. Ou seja, usando calças coloridas, camisa baby look, gelzinho no cabelo, tênis de duas cores e pagando cofrinho no trabalho?

É praticamente o casamento do apocalipse com o armageddon.

Uma década deste novo século se passa e já não basta tantas mulheres continuarem sonhado, ainda, com o príncipe encantado que irá salvá-las do mal (leia-se: de morar com a mãe), mas agora o príncipe também precisa saber se vestir, escolher perfume, ler sobre moda e assistir seriado americano?

E o ano sequer começou.