O que significa migrar do PC para o Mac

Paulo Rebêlo
Webinsider – UOL| 06.jan.2011

Não é fácil, são 20 anos de Windows. Sobretudo porque não é apenas um sistema operacional, é todo um ecossistema com direito a Office, tela azul da morte (BSOD), conflitos de hardware, DLL’s corrompidas, falhas de proteção geral, discos rigídos fragmentados, partições invisíveis, centenas ou milhares de testes de aplicativos em versões beta, horas e horas explorando códigos e registros escondidos, mistérios quase sobrenaturais e muita reza braba com água benta.

Enfim, muitas dores de cabeça e, justiça seja feita, muitas alegrias também.

Então, quando me perguntam como é abandonar todo esse histórico e migrar para a plataforma Mac, tenho duas respostas.

A primeira, para leigos em informática: é como o fim de um casamento.

Você conhece cada linha, cada curva do Windows, entende as artimanhas e contorna os problemas com maestria.

Mas a baranga do Windows não envelheceu bem, hoje é um monstro de gordura inútil e que ninguém sabe ao certo onde vai parar. Com o Mac, você praticamente troca sua esposa por uma ninfeta de olhos brilhantes, uma maçã ligeiramente mordida, quase um Michel Temer.

E aí vem a segunda resposta, para os entendidos em informática: deixar de lado o PC, para mim, significou ter mais tempo para produzir e menos tempo para ter dor de cabeça.

Claro, com o Mac a gente não tem mais a alegria da descoberta, a pressa de instalar a última versão de tudo, a sede por novidades em programas que vão fazer exatamente a mesma coisa de antes. Não tem mais registro para fuçar, códigos escondidos. Você apenas aproveita como pode. Ou melhor, como Steve Jobs permite.

É como dirigir um carro automático. Ele nunca vai ter o arranque e o motor nervoso de um equivalente com transmissão manual, não vai dar para esticar a terceira marcha numa ultrapassagem radical, mas em contrapartida vai lhe dar um conforto e uma maciez ao dirigir a qual, certamente, você irá se acostumar a ponto de não querer mais dirigir o carro de ninguém.

Você se torna um motorista mais maduro ou, nas definições de alguns amigos, assume de vez seu lado tiozinho pançudo.

Há experiências distintas para diferentes perfis de usuário, porém, via de regra, a transferência para Mac implica em redução considerável das horas que você “perde” brigando com o computador. As coisas estão ali, funcionam do jeito que Steve Jobs quer e ninguém mexe. Ou você gosta (e aceita) ou vai procurar sua (outra) turma.

No caso de um usuário leigo, são horas que as pessoas perdem tentando instalar programas (no Windows, a quantidade de janelas e perguntas é consideravelmente maior) ou solucionar mensagens enigmáticas que pipocam na tela. Eventualmente, quebrando a cabeça quando algo não funciona como deveria funcionar.

Sem contar a preocupação, inerente ao Windows, com vírus de computador e spywares que aparecem do nada.

Todo mundo vive lhe dizendo para instalar um antivírus, mas se você não sabe como instalar, não tem ideia onde procurar, bem-vindo ao imenso grupo de pessoas que conheço que espetam pendrives em lanhouses no aeroporto e vivem perigosamente.

Para o micreiro, como sou (ou fui), a economia de tempo é ainda mais simples de explicar. Não há milhões de programinhas e utilitários para conhecer, testar, analisar. Não tem mais benchmark de performance, não dá mais para hackear o registro do Windows e ganhar 0,5% de performance, mexer na latência da memória RAM para ganhar outros 0,5%, hackear DLL’s e componentes do Windows para atingir, somando tudo, incríveis 5% de performance extra.

Ainda sinto falta do Windows. Com o Windows 7, o sistema tornou-se uma monstruosidade de recursos e funções as quais, embora ninguém as use, são interessantes de conhecer por dentro e entender os detalhes.

Tentei fazer o mesmo com o Mac. Já formatei o Macbook umas oito vezes, testei inúmeras combinações, conexões, versões beta do MacOS, até arrisquei voltar a mexer com código no Terminal, mas no fim das contas… continou tudo igual, sem perder ou ganhar velocidade, funcionando do mesmo jeito de antes.

Depois de 20 anos destrinchando cada detalhe desde o DOS (quando ninguém sequer sonhava com janelas e cores), programando em Basic e xBase, cada curva, cada ícone e sistemas de arquivos, a sensação é um pouco de inépcia e preguiça quando abro o Mac e não sinto a menor necessidade de abrir outras portas para o desconhecido.

Hoje, passados seis meses da migração total do PC para Mac, uso bem menos o computador, dependo menos dele. O laptop deixou de ser um companheiro de aventuras e perrengues para tornar-se, apenas, um mero acessório de trabalho, utilizado apenas quando necessário e somente pela quantidade de horas exatamente demandadas.

Abro o Macbook para fazer exatamente uma tarefa específica no menor tempo possível. Terminada a tarefa, fecho a tampa e chego mais cedo no bar. Ganhei em produtividade etílica.

O MacOS X, sistema operacional do Apple, tem muito a ser descoberto ainda, hackeado, alterado. Milhares de desenvolvedores e hackers usam o Mac para suas estripulias. As funções e recursos estão lá, caso você deseje. Mas, para micreiros do PC, perde-se um pouco o interesse.

Não entro, agora, no mérito das práticas comerciais da Apple. Por um motivo simples. Depois de 20 anos de Bill Gates e Microsoft, seria uma hipocrisia condenar as práticas até do capeta.

9 Comments O que significa migrar do PC para o Mac

  1. paula barros

    Gosto da forma que você escreve. E o Reversão Sentimento gostei muito, muito. E fui lá no Entrelaços ler de novo.

  2. JCarlos

    Gostei do texto e da maneira como v. escreve. Concordo com seu ponto de vista apesar de eu ter adotado Mac ainda nos anos 80, daí Windows para mim só em raríssimas ocasiões.

  3. SHX

    o problema q eu vejo na migracao do Win pra outro sistema é que os progrmas tendem para a plataforma windows, na faculdade dificilmente um professor passa uma aplicacao multiplataforma e aó cabe ao “diferente” procurar um similar. Sem falar nos jogos, que dificilmente tem lancamentos para MAC / linux =/

    Uso Win7 no notebook, onde eu jogo e uso na facul, no meu desktop uso Debian onde apenas o uso para renderizar videos e fazer backup dos meus arquivos do notebook ¬¬

    1. Rebêlo

      Pois é, você tem razão. Mas eu resolvi esses problemas usando um programa chamado CrossOver no Mac, ele roda qualquer coisa do Windows. Ou “quase” qualquer coisa.

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